Capítulo 7 - A recompensa

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      Thereza quase soltou fogos ao saber da notícia, sentiu vontade de rir, mas não pode, deixou o carro morrer no sinal onde estava parada aguardando passagem. Ela ficou ansiosa para contar a novidade para Arnaldo, perceber que a filha tinha dado ouvidos ao conselho deles lhe deixou aliviada.

- Mãe, o sinal abriu. - disse a menina

     Ela arrancou com o veículo cantando pneu e foi seguindo num caminho diferente ao da casa delas. Karoline permaneceu observando isso, mas não se pronunciou porquanto pensara que o percurso havia mudado devido as condições de trânsito ou fosse um atalho encontrado pela mãe. Esse pensamento não durou por muito tempo, porque o trajeto de volta não incluía uma passagem no shopping. Thereza parou o carro no estacionamento, pegou a bolsa e pareceu ter bolado um plano para aquela noite. Elas bateram pernas juntas pelas lojas e a menina que estava na companhia da mãe ficou sem entender absolutamente nada, queria uma razão para aquilo que a mãe estava fazendo.

- Essa é a loja. Venha, minha filha. - Chamou Thereza

     Karoline parou na vitrine pelo lado de fora, olhando alguns sapatos que ela havia visto na última vez que tinha ido ali com as amigas, isto é, na semana passada. Depois ela entrou e ficou ao lado da mãe que estava sentada experimentando um novo calçado.

- Sente-se aqui, Karol. - Disse Thereza apontando um lugar vago do seu lado direito. - O que achou desse calçado?

- Muito bonito. - Respondeu a menina - Você já escolheu o seu?

     A menina arregalou os olhos e se surpreendeu com o que a mãe acabara de dizer.

- Não. Posso escolher um? - Perguntou a menina pensando que Thereza estivesse de brincadeira.

- Pode. Vai lá.

     Karoline não se demorou a atender a sugestão da mãe. Ela já sabia qual era, pois já estava paquerando o calçado há um tempo. A mãe nem quis saber do valor, pois na visão dela, a obediência da filha precisava ser recompensada.
     As duas foram maravilhadas para casa, satisfeitas e com três sacolas de compras cada uma. Um banho de loja era o que faltava para aproximá-las novamente. Elas se tornaram mais cúmplices daquele dia em diante. Mas ao chegar em casa perto das oito horas da noite, seu Arnaldo estava na cozinha apanhando alguma coisa para comer na geladeira. Percebendo o riso frouxo entre as duas, se aproximou.

- Filho, nós estávamos no shopping fazendo umas comprinhas. - disse Thereza.-

 Sim, eu sei. Cissa Calçados, Lorrane Modas e Parada do Lanche. - Respondeu Arnaldo.

     Thereza e Karoline se olharam com expressão de espanto, pensaram ter entrado numa fria porque alguém de algum lugar estava desempenhando a função de informante a serviço dele.

- É. Como você sabe? - Perguntou a esposa

- Estava muito bom para ser verdade. Fomos descobertas. - Comentou a filha

- Sim. Eu estou de olho nas senhoritas. - Respondeu Arnaldo

- Estou vendo.

- Meu amor, nossa conta é conjunta. E graças a tecnologia e ao banco no qual somos correntistas, toda vez que você utiliza a função crédito ou débito nessas suas andanças, eu recebo uma mensagem. Eu apelidei esse aplicativo de dedo duro. - Disse Arnaldo

- Fomos pegas, minha filha.

- Com certeza. Estejam cientes de que o limite das donzelas estourou, tudo bem? - Comentou Arnaldo

- Pai, deixa essa passar. Foi por uma boa causa.

- É marido, a Karol tem razão.

- Razão? Razão, por quê?

- Conte para ele, filha. - Disse Thereza

- Me contar? Contar, o quê?

- É, meu pai. Eu resolvi obedecer a vocês. Não estou mais namorando o Arthur escondido.

     Quando soube da notícia, Arnaldo engasgou com o copo de coca-cola que estava bebendo e foi ficando muito vermelho de tanto tossir. Depois de melhorar, teceu um comentário:

- Pensando bem, vocês nem gastaram tanto assim. Foram só 350 reais, deveriam ter comprado mais um pouco.

- Sério? - Questionou Thereza

- Então, nós podemos voltar lá no sábado? - Perguntou Karoline

- Agora já era. - Disse Arnaldo retirando o cartão da mão da esposa.

A mente de uma adolescente incompreendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora