Capítulo 6 - Se os filhos entendessem os pais

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      Ela percebeu que precisava se ajeitar para comer o que estava sobre a bandeja e foi se sentado devagar. Conforme foi comendo o que havia sido preparado pelos pais, a mãe aproveitou a oportunidade para dizer algumas coisas:

- Minha filha, não nos entenda mal, mas tudo o que fazemos é para o seu próprio bem. Nós não temos nada contra aquele rapaz, o Arthur, muito pelo contrário, seu pai e eu só achamos que está cedo demais para uma menina de doze anos iniciar um relacionamento. Tudo tem seu tempo e nós não teremos como proibí-la a vida toda, porém agora achamos melhor você focar nos estudos tirar boas notas e deixar isso para depois.

- É, Karoline, você acha mesmo que nós gostamos de puni-la? É muito desconfortável para nós fazermos isso. - Completou o pai

     Essa conversa durou quase uma hora e Karoline não pronunciou uma só palavra. Ela só mexia os olhos acompanhando quem estava falando. Os pais dela estava muito confiantes de que o diálogo mais recente mantido entre eles tinha sido mais produtivo e tivesse dado certo.

     A menina ficou em casa na quinta e sexta, perdida entre os livros lacrados que tinha comprado e ainda não havia lido, passou o final de semana todo dentro de casa sob os cuidados intensivos dos pais. Nada de praia, exposição ao sol, permaneceu assim não porque estivesse doente, mas o último incidente a deixou mais introspectiva.

      Na segunda-feira, sua mãe a levou a escola como sempre fazia, só que dessa vez Thereza precisou ir até a secretaria conversar com a diretora. As duas falaram sobre a situação delicada em que a menina se encontrava e os rendimentos escolares dela que declinavam a cada avaliação.

     Quando o sinal do recreio tocou, todos saíram às pressas para o pátio, menos Karoline. Arthur foi até a sala dela para vê-la e saber como estava.

- Oi. - disse Arthur após bater na porta da sala dela

- Oi. - Respondeu Karoline

- Tudo bem? - Perguntou o menino entrando e se sentando próximo a ela.

- Tudo indo. - Respondeu a menina com frieza e expressão séria

- Está acontecendo alguma coisa? Você está estranha. - Hesitou Arthur.

     Karoline respirou fundo e respondeu:

- Está sim, eu não vou mentir para você. Desde que a gente começou a "ficar", meus pais tem pego no meu pé e as minhas notas estão indo de mal à pior porque nós ficamos conversando por mensagem quase o dia inteiro, isso tem me impedido de prestar atenção nas aulas. Acho melhor nós pararmos por aqui, vamos ser somente amigos mesmos, pois eu preciso focar nas coisas que são importantes para mim agora.

     Karoline estranhou a maneira como falou porque sentiu como se tivesse reproduzindo o discurso da mãe. Para uma garota de apenas doze, o teor do diálogo e a postura, acrescentou-lhe mais alguns anos de maturidade.

      Arthur não esboçou reação alguma, ficou parado sem saber o que fazer durante um tempo, ele não esperava este tipo de conversa, mas entendeu o recado.

- Tudo bem. A gente volta a amizade normal numa boa.

- Não fique chateado comigo. Para mim não dá mais.

     Terminado o assunto o garoto se levantou. Os alunos que estudavam com Karoline foram retornando aos poucos até que a sala ficou completamente cheia outra vez. As últimas setenta e duas horas fizeram com que ela mudasse de ideia sobre as aventuras vividas dentro do período de um mês; estava no início, porém não obteve sucesso.

A mãe dela já estava na portão quando o sino da escola tocou anunciando o término do horário escolar. Karoline saiu da sala lentamente e foi caminhando em direção ao carro. No caminho se deparou com Arthur, para quem dirigiu um sorriso simpático e um aceno de despedida com uma das mãos.

- Boa tarde, minha filha. Como foi na escola hoje? - Perguntou Thereza

- Foi tranquilo. Muito tranquilo. - Respondeu Karoline jogando a mochila no banco traseiro do veículo.

- Seu punho está doendo? Se sentiu incomodada durante a aula?

- Um pouco, mas eu estou conseguindo me adaptar devagar.Thereza desistiu de fazer rodeios e foi direto ao assunto:

- E o Arthur? Tem visto ele?

- Sim, nós conversamos hoje na hora do recreio. - Respondeu Karoline.

- Hum. E aí? - Questionou Thereza tentando esconder a indignação

- Nós tivemos uma conversa rápida. O namoro escondido acabou. Você e o papai podem ficar tranquilos.

A mente de uma adolescente incompreendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora