Capítulo 3 - Meus pais não me entendem

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      No dia seguinte, Karoline acordou às nove horas da manhã para aguardar uma amiga que passaria na sua casa às dez e meia. Ela fez questão de parecer apresentável quando a visita chegasse e também quis se mostrar pontual. Por isso, levantou-se da cama e foi correndo em direção ao banheiro a fim de se desfazer da cara de sono, escovar os dentes, lavar o cabelo e adiantar o que podia.

      Dona Thereza aproveitou que ela havia se colocado de pé cedo, entrou em seu quarto sem fazer barulho, encostou a porta e sentou-se na cama.

- Aí, mãe, que susto! – Exclamou Karoline ao sair do banheiro secando o cabelo.

- Bom dia, minha filha. – Respondeu Thereza com expressão séria

- Bom dia. O que houve? A senhora está me assustando com essa cara. – disse a menina ocupando um lugar à beira da cama.

- Estou assim porque ontem eu e o seu pai discutimos por causa do que aconteceu ontem em sua escola. Você sabe o que nós pensamos a respeito desse seu envolvimento com aquele rapaz, não é?

      Karoline abaixou os olhos e consentiu fazendo um gesto com a cabeça. Ela quis demonstrar arrependimento, mas não foi possível. Sabia que o pensamento dos pais não iria interferir na decisão dela, então para amenizar o tempo de bronca, evitou pronunciar uma palavra sequer, o que sentia por Arthur, mesmo ainda sendo tão nova, tornara-lhe surda à ordem dos pais naquele sentido.

- Estamos entendidas? – Perguntou Thereza

      A menina repetiu a resposta mais uma vez. A atitude dela não representava uma resposta concreta. Mas a mãe dela saiu do seu quarto como se tivesse dado o recado e pensando ter convencido a filha, porém o aparelho celular da menina estava repleto de mensagens trocadas e encontros marcados às escondidas. Isso explica bem a intenção dela em querer ir à escola sozinha, pois não ter a supervisão dos pais lhe dava uma autonomia maior para poder fazer muita coisa.

     A conversa entre as duas deixou o clima bastante tenso. Karoline olhava às horas no relógio, pois a campainha havia tocado, a amiga dela já estava esperando por ela na sala e parecia que sua mãe não tinha se dado conta disso. Antes de sair do quarto, ela terminou de se arrumar, colocou um sorriso no rosto e foi caminhando ao encontro de Nataly.

- Bom dia, amiga. Me desculpe por lhe fazer esperar. - Cumprimentou Karoline

- Bom dia, Karol. Está tudo bem, deixa de ser boba. - Respondeu Nataly

- Ok. Agora vem, pois temos muito trabalho pela frente. - disse Karoline puxando a amiga pelo braço

     Ao chegar próximo à porta do quarto de Karoline, as duas se depararam com Thereza, que havia retornado ao quarto da filha e já estava de saída.

- Bom dia, tia. - Cumprimentou Nataly à Thereza.

- Bom dia, Nataly. Tudo bem?

- Tudo ótimo.

- Deseja alguma coisa para beber ou comer? Um café ou suco? – Perguntou Thereza.

- Mãe, quando estivermos com fome ou sede, iremos até a cozinha para pegar! – Disse Karoline fechando a porta do quarto sem pedir licença.

     Elas permaneceram durante horas dentro daquele cômodo sem ao menos serem interrompidas. Nataly se apresentou naquele dia estrategicamente como alguém que não apresentava problemas. Era tanta inocência no seu modo de vestir, tanta responsabilidade na sua postura que os pais de Karoline ficaram despreocupados. Eles mal sabiam a verdadeira identidade da menina que na ausência deles não tocou uma vez no assunto escola, estudos e livros.

     A primeira coisa que fez no momento em que deram as costas foi se despir do personagem e falar de assuntos como namoro escondido, o próximo encontro com Arthur, falaram de tudo menos sobre o trabalho escolar. Chegaram até a comparar a realidade do casal com a história de Romeu e Julieta, só se esqueceram que ambos morrem no final.

- Nós podemos ir ao shopping hoje à noite e marcarmos com os meninos de nos encontrarmos lá, o que você acha? – Sugeriu Nataly

- Sim, mas eu não posso voltar para minha casa após o filme. Corro o risco de ser descoberta pelos meus pais. Se isso acontecer, eles me deserdam.

- Tenho uma ideia. Como amanhã é recesso em nossa escola, você pode dormir na minha casa hoje e voltar na manhã seguinte. Topa? – Perguntou Nataly

- Perfeito. Eu nunca dormi fora de casa, mas se a sua mãe ligar para a minha pedindo permissão, estarei liberada para passar a noite fora – Respondeu Karoline com expressão de quem acabara de elaborar um plano mirabolante.

     Elas ligaram para a mãe de Nataly e pediram que ela convencesse Thereza a liberar a filha para passar a tarde na casa dela e dormir fora naquele dia. Havia um esquema montado para o fim de tarde e o cineminha que rolaria à noite. As duas fizeram contato com mais uma amiga para que os pais de Nataly não viessem a desconfiar, mas os meninos também foram convidados, a ideia era realizar um momento entre casais.

     Sonia, a mãe de Nataly, autorizou a ida das meninas ao shopping sozinhas desde que fossem no horário das seis da noite e voltasse para pegá-las às dez horas. O grupo de adolescentes que acompanhava Karoline precisou ser pontual para conseguir assistir a comédia romântica da sessão das dezoito e trinta e ainda dar tempo para lancharem juntos.

     Os meninos concordaram com a parte do lanche, mas torceram o nariz para o filme que as meninas tinham escolhido. Eles foram indicados para ficarem na fila e comprarem os ingressos de entrada, inclusive pagar a parte de suas respectivas acompanhantes.

- Olha o nome do filme, cara. "Uma carta de amor". – satirizou Arthur, companhia de Karoline.

- Cara, eu estou com vergonha só de estar aqui na fila, me sinto como uma menininha apaixonadinha. – Disse Átila, o namoradinho de Nataly.

- Sinto vontade de vomitar e essa fila não anda. – Comentou Jonas, que também formava dupla com Aline, umas das amigas de Karoline e Nataly.

     Elas deixaram os meninos na fila e foram bater pernas pelo shopping até que os ingressos estivessem comprados. Quando eles conseguiram finalmente adquirir o bilhete de entrada, correram para comprar as pipocas e ficaram aguardando as meninas perto da sala de cinema, pois o filme que eles iriam assistir era lançamento e havia muitas pessoas na fila. Eles tiveram que esperar para entrar na sala do filme por um bom tempo. Enquanto isso, resolveram tirar uma foto de cada casal, mas esqueceram de entrar em acordo sobre uma coisa.

A mente de uma adolescente incompreendidaOnde histórias criam vida. Descubra agora