Fala Krishna:
1.Meu querido Arjuna, guerreiro de braços fortes, escute mais uma vez Minha palavra suprema. O
que vou dizer agora é para seu benefício e dar-lhe-á grande alegria.
2.Nem os deuses nem os grandes rishis conhecem minha origem pois Eu sou o princípio absoluto
dos deuses e dos grandes rishis.3.Aquele que Me conhece como inato e sem origem, senhor soberano do Universo, está livre do
erro e do pecado.4.Entendimento, sabedoria, libertação do erro e da ignorância, paciência, sinceridade, domínio de si
mesmo, tranqüilidade de ânimo, prazer e dor, miséria e prosperidade, coragem e medo,5.mansidão, eqüanimidade, alegria, ascetismo, liberalidade, glória e infâmia: todas essas qualidades
dos seres procedem de Mim.6.Os sete grandes rishis, os quatro kumâras e também os Manus de quem emanam todas as
gerações do mundo, participando de Meu ser, nasceram de Minha mente.7.Quem conhece em essência Minha magnitude e Meu poder místico goza de uma Yoga
inalterável. Quanto a isso não há nenhuma dúvida.8.Eu sou a origem de todo ser, de Mim procede a obra do universo. Sabendo disto, os sábios Me
adoram em amorosa contemplação.9.Com o pensamento fixo em Mim, tendo em Mim concentrada a sua vida, instruindo-se uns aos
outros e falando de Mim sem cessar, vivem satisfeitos e felizes.10.A estes homens que se consagram à união mística e Me servem com amor. Eu lhes inspiro
aquela devoção baseada no conhecimento, através da qual chegam a mim.11.Movido pela compaixão e residindo em sua alma, dissipo neles as trevas nascidas da ignorância,
através da luz refulgente da sabedoria.Fala Arjuna:
12.Tu és o supremo Brahma, a glória suprema, a suprema pureza, o espírito perpétuo e divino, a
divindade original, sem princípio, onipresente e o Senhor todo-poderoso.13.Os sábios mais eminentes, Nárada, Assita, Devala e Vyassadeva, declaram tudo isso a Teu
respeito. E agora ouvi de Teus lábios a mesma declaração.14.Creio firmemente na verdade de Tuas palavras, ó Keshava, porque nem os deuses nem os
dânavas Te conhecem, Senhor bendito.15.Apenas Tu conheces a Ti mesmo, por Ti mesmo, ó Puruchottama, autor de todas as coisas, rei
dos seres, deus dos deuses, Senhor do Universo.16.Apenas Tu podes mostrar-me sem reservas teus divinos atributos, graças aos quais penetras
estes mundos.17.Como poderei eu conhecer-Te, através de meditação contínua. Senhor de poderes misteriosos?
Sob que forma especial me será dado considerar-Te, divino Senhor?18.Fala-me em detalhe de teu poder misterioso e de tuas divinas perfeições, Janârdana, e fala mais
e mais, pois tuas palavras são para mim o néctar da imortalidade e por mais que eu Te ouça, nunca me sacio.
Fala Krishna:19.Assim seja: vou enumerar-te meus atributos divinos, ainda que me limite aos principais, ó
melhor dos kurus, pois não há limites para minha grandeza.20.Eu sou, ó Gudâsheza, o espírito entronizado no coração de todas as criaturas.
21.Entre os adityas sou Vishnu; entre as luzes, o Sol radiante; sou Marîchi entre os maruts; a Lua,
entre as estrelas.22.Entre os Vedas sou Sâma-Veda; Vâsava, entre os deuses; o sentido eterno, entre os sentidos; a
inteligência nos seres vivos.23.Sou Zankara entre os rudras e Vitteza entre os yakshas e râkshasas; Pâvaka entre os vasus e o
Meru entre os picos elevados.24.Sabe, filho de Prithâ, que entre os sacerdotes Eu sou Brihaspati; entre os chefes guerreiros sou
Skanda e entre as águas, sou o oceano.25.Sou Brighu entre os grandes rishis; entre as palavras sou a sílaba OM (); entre os sacrifícios sou
japa; entre as montanhas, o Himalaia.26.A figueira sagrada entre as árvores; Nârada entre os rishis divinos; Chitraratha, entre os cantores
celestes e o inspirado asceta Kapila entre os siddhas.27.Sabe que entre os cavalos sou Uchchaizravas, ó tu que nasceste do néctar; sou Airâvata entre os
nobres elefantes e entre os homens sou o soberano.28.Entre as armas Eu sou o raio; Kamadhuk entre os rebanhos; Kandarpa, entre os que têm
descendentes e Vâsuki entre as serpentes.29.Sou Ananta entre os nagas; Varuna entre os habitantes da água; Aryaman entre os antepassados
e Yama entre os juízes.30.Entre os daityas sou o Prahlâda; entre as medidas, o tempo; entre os animais selvagens sou o rei
dos animais e entre os seres alados, Vainateya.31.Entre os agentes purificados sou o vento; sou Râma entre os guerreiros; Makara entre os peixes
e Jâhnavi entre os raios.32.Sou princípio, meio e fim de todas as coisas criadas, Arjuna; entre as ciências sou a ciência do
espírito supremo e sou o argumento Vâda entre os que discutem.33.Sou a vogal A entre as letras; o composto copulativo entre as palavras compostas. Sou o tempo infinito, o mestre ordenador, cujas faces estão em toda parte.
34.Sou a morte que tudo arrebata e o nascimento de tudo que adquire vida. Entre os atributos
femininos sou a glória, a beleza, a eloqüência, a memória, a inteligência, a constância e a
misericórdia.35.Sou também o grande hino entre os hinos do Sama-Veda; entre as formas métricas sou Gâyatri;
sou Mârgazircha entre os meses, e a primavera entre as estações.36.No aventureiro sou o espírito de risco; no forte, a força. Sou a resolução, a perseverança e a
vitória; a verdade do verdadeiro e a bondade do bem.37.Entre os descendentes de Vrishni sou Vâsudeva; entre os filhos de Pându sou Dhananjaya;
Vyâsa entre os munis e, entre os sábios, o sábio Ushanâ.38.Soua soberania dos que reinam, a tática dos que querem triunfar. Sou o silêncio do segredo e a
sabedoria dos sábios.39.Sou o germe de todos os seres, Arjuna. Sem Mim não há coisa alguma, animada ou inanimada
que possa existir.40.Meus atributos divinos não tem fim, ó perseguidor de inimigos. O que acabo de mostrar-te é
apenas uma amostra de minha glória infinita.41.Tudo quanto há de sublime, perfeito e poderoso, entende, Arjuna, que é produto de uma
partícula de minha grandeza.42.Mas que necessidade tens de conhecer todos esses detalhes, Arjuna? Sabe que o Universo se
constituiu e se mantém apenas com uma parcela infinitesimal de Mim mesmo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bhagavad Gita
EspiritualBhagavad-Guitá, também conhecido pela grafia (em sânscrito: भगवद्गीता, transl.Bhagavad Gītā, "Canção de Deus") é um texto religioso. Este dialogo transcendental apareceu na Índia. Faz parte do épicoMaabárata, embora seja de composição mais recente q...