Capítulo I

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"Quando era pequeno, sonhava em ser super-herói. Hoje, só não quero ser vilão."

O vai e vem dos agentes, o telefone tocando sem parar e a enxaqueca perturbando insistentemente, deixavam o delegado irritado. Havia passado o dia anterior planejando uma emboscada para um dos maiores traficantes do país, detalhe por detalhe, e falhara. Preferia nem pensar em sua vida pessoal, outro fracasso.

Desde bem jovem almejava ser como o pai. Wistown era bombeiro e, bravamente salvava vidas todos os dias, sua esposa o amava e seus filhos sentiam orgulho dele. Até um dia em que ficou conhecido como herói: morrera salvando crianças em um orfanato. Hoje, o lugar leva seu nome em homenagem.

Ethan Johnson não conseguia ser, em sua mente, nem metade do que o pai fora. Era cauteloso e não havia, em sua carreira como delegado, se sacrificado por ninguém. Não era por egoísmo, mas medo. Não queria morrer e deixar a sua família só, como ele mesmo se sentia.

- Esses relatórios estão horríveis. – Comentou furiosamente o escrivão Charlie, logo levantando e entregando papeis ao delegado. – O que acha?

Ethan o olhou de relance sem a menor vontade de ler tudo aquilo. Jogou-os sobre a mesa e passou as mãos frenéticas no rosto.

- Confio em você. – Disse em uma expressão cansada. – Faça da melhor forma que achar Charlie.

- Algum problema Ethan? – O escrivão além de colega de trabalho, era seu melhor amigo. Conhecia sua história de vida melhor que sua própria família.

- O de sempre. – Levantou-se pegando o casaco e distintivo. – Tenho coisas a fazer.

***

Dez minutos dirigindo em alta velocidade, que era a melhor maneira de desestressar, Ethan se encontrava na sala do médico legista, Call Benson, discutindo procedimentos rotineiros daquele lugar.

Os peritos, em geral, eram a "carta na manga" de qualquer crime. Eles obtinham as provas e trabalhavam para que cem porcento dos crimes sejam desvendados corretamente, sem erros.

Há dez anos, Ethan trabalhava ali e chefiava tudo aquilo sem deixar o poder elevar seu egoísmo. Ele gostava de ver as pessoas satisfeitas e agradecidas, mas nada disso o deixava feliz. Algo parecia fora de lugar.

- Como devemos proceder então? – Call indagava ao passo que bebia seu café expresso relaxadamente.

- Reúna seus melhores e investiguem, simples. – A paciência não era uma virtude para o delegado, que não gostava nenhum pouco do médico. – Esse é o seu trabalho, faça-o.

- As coisas não funcionam assim. – Os dois se encaravam com um furor contido, a tensão podia ser sentida.

A porta se abriu de repente, fazendo ambos virarem-se.

***

Havia uma semana que Olívia trabalhava em Phoenix. O sol era constante, as pessoas mais dispostas e simpáticas. Na pousada em que se hospedara todos gostavam dela, era revigorante.

Trabalhava três dias por semana e folgava o resto. Era cansativo, mas ela amava aquilo. Sempre se viu investigando crimes, desvendando-os e colecionando méritos, apenas para orgulhar sua família.

Era uma menina doce e confiável, sabia ser madura e responsável também. Sempre observava as pessoas com quem convivia, seguindo o conselho de seu amado pai e estava indo bem daquele jeito.

- Olívia. – Shelie, a auxiliar de necropsia, tentava equilibrar-se com duas caixas em mãos. – Me ajude, ande.

A menina correu e pegou uma das caixas, que, por sinal, pesava muito. Shelie indicou a sala do médico para Olívia e foi para o laboratório. Ela abriu a porta, fazendo uma expressão engraçada, não conseguia ver nada a sua frente e seus dedos estavam doloridos. De repente, a caixa foi puxada gentilmente de sua mão, lhe deixando de cara com um par de olhos azuis fascinante.

Ela puxou o ar e tentou se equilibrar, não por estar na frente do desconhecido, mas por não ter comido nada hoje. Sorriu gentilmente para o homem que logo ergueu a sobrancelha, curioso.

- Não me lembro de você. – Ethan proferiu lentamente.

- Olivia. – Estendeu a mão e o cumprimentou. – Sou nova aqui, acabei de ser transferida.

- Prazer, Ethan.

A perita sentiu que atrapalhava e saiu, sem dizer mais nada. Apenas com um singelo sorriso nos lábios. Pela fome, é claro.



Nota da Autora

Os primeiros capítulos serão curtinhos mesmo.

Espero que gostem :) 

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