Capítulo 2

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"Dizem que a dor te fortalece, mas, mal sabem eles que, a dor só corrói o que existe de bonito e faz o bom parecer repugnante."

Quando se estar em uma cidade nova, tudo parece mais bonito e inocente. Não existem fatos remanescentes na memória, que te forçam a sentir qualquer sentimento que seja. Você olha para o lado e sequer sabe se um bêbado vomitou naquela calçada mês passado, ou se aconteceu um assalto contra um jovem estudante distraído. Até o vento tem outro peso, as pessoas são mais doces e afáveis. É, realmente, muito bom.

Mas quando o pesadelo do seu passado resolve aparecer, não existe vento, pessoas, músicas, que te faça parar de se contorcer nos lençóis de madrugada. A dor estampada nos gemidos das lembranças que não cessam. O remorso das decisões mal tomadas é como uma faca que perfura lentamente seu cérebro. Esse processo continua até os seus olhos abrirem arregalados e um grito seco romper o ambiente.

Era assim que Olívia estava, enquanto passava freneticamente as mãos no cabelo úmido tentando respirar fundo e voltar à realidade. Todas as noites, desde o acontecido, ela se via com medo de dormir e rever tudo de novo. Como ela queria poder voltar no tempo e pedir ao seu pai o colo que ele tanto oferecia quando criança.

Resolveu levantar e esvaziar o seu estômago no banheiro. A sua gastrite piorava quando esses pesadelos vinham e deixava, desde a garganta até o fígado, dolorido. Sabia que pela manhã estaria péssima, mas reagiria como sempre fazia: fingindo.

Caminhou até a janela e observou o céu por um tempo, ele parecia refletir seu estado de espírito, estava nublado e parecia tão pesado que a gotas de chuva começaram a correr até o chão, tão fino e lento que parecia uma tortura. Como Olívia detestava está assim, tudo ficava mais doloroso do que de costume.

Quando parecia melhor, resolveu encher a sua caixinha com mais um bilhete, que sua amiga jamais leria "porque estava morrendo", lembrou mentalmente.

"Oi Wanessa, estou com tantas saudades de você. Não consigo dormir à noite, pensando em como seria diferente se não tivéssemos feito aquilo. Eu choro todos os dias, como uma oração silenciosa e peço para que você melhore.

Saudades,

Oli"

Nada melhorava depois daquilo, mas conseguia notar que, mesmo sem ela ler, a amiga sentia tudo que Olívia sentia: dor.

***

- Você está horrível, Olivia. - Shelie falou, enquanto a encarava com uma careta. - Não dormiu à noite?

Elas duas se tornaram amigas desde que Olívia chegou, pareceu amor à primeira vista. Shelie era sempre alegre e fazia os dias mais felizes para Oli. Ela lembrava muito Wanessa, se tornando um conforto constante.

- Eu tento, mas os cachorros só inventam de latir quando vou dormir. - Resmungou, demonstrando seu mal-humor.

- Não acredito em você, porém sabe que pode me falar quando quiser. - A menina sorriu, ao constatar o quanto a amiga era sensível perante os seus sentimentos.

- Você é tão dramática. - Gargalhou, tocando o ombro da outra.

- Puxei a você, monamour.

Após um rápido café da manhã, elas seguiram para a necropsia checar os novos formulários dos recém chegados presuntos.

- Escuta, queria te perguntar uma coisa. - Começou Olívia, timidamente. - Quem é Ethan?

Shelie parou de repente, se voltou para ela e sorriu maliciosamente.

- O delegado?

- Não sei se é delegado. - tentou agir naturalmente, mas os seus trejeitos a denunciava. - Sei apenas o seu nome.

- Como ele é?

Shelie perguntava, mas sabia exatamente a quem Olívia referia-se. Ele foi seu colega de curso e o conhecia muito bem. Ele sempre fora "alvejado" pelas mulheres, mas nunca demonstrou nenhum interesse por elas.

- Bem. - Começou Olívia, coçando o queixo. - Ele é alto, cabelos castanhos-escuro e olhos azuis.

- Bonito? - Sorriu.

-Han, bem, sim.

Shelie a olhou com curiosidade, seus pensamentos a flor da pele. Olívia era uma boa garota, mas, talvez, não fosse o par perfeito para Ethan. Ele tinha os seus espinhos e sabia ser grosso quando queria.

- Nós vamos chegar atrasadas, e o Dylan não vai gostar. - Desconversou, enquanto puxava a garota pelo braço.

***

O sol estava quente na hora do almoço, mas a brisa leve deixava tudo mais relaxante. Ele preferia se esconder no estacionamento aberto, do que conversar com pessoas vazias e que não se importavam com ele.

O seu peito subia e descia lentamente, enquanto os pensamentos vagavam no passado. Não iria parecer fraco para os outros, mas tinha consciência de que estava em pedaços por dentro. Não contaria a ninguém sobre os seus fantasmas e, talvez, nunca supere, isso não o importa mais.

A única coisa que importa é orgulhar o seu pai e ajudar a sua família. Os outros não eram importantes, já cortou amizades com quem não fazia diferença e a sua armadura de grosseiria subiu para sua proteção. Sua mãe condenava essa sua escolha, mas ela pouco sabia o que existia dentro dele, e, se for para ficar só e triste, ele suportaria.




NOTAS DA AUTORA

Gente, desculpem pelo desaparecimento...

1° Esse capitulo foi dramático, mas o fiz porque quero os meus personagens bem reais mesmos... Vocês verão que ainda vai piorar muchoo.

2° Eu amo o Ethan, sabe? E vocês também irão, mas não agora huahuahua

3° A Oli não vai ser vitimista, Okay!? Eu não gosto disso, mas preciso escrever sobre o que ela passa, e, quando vocês souberem o que é, compreenderão...

comentem, votem e sejam felizes <3

Bejokas da Lí!!!

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