Capítulo 5

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"As suas escolhas fazem você."


SEGUNDO RELATO

11 de Junho de 2015, Quinta-feira, 01:14 AM

Tornei-me um monstro. É a minha única certeza, disso eu sei. Talvez eu pudesse ter seguido outro caminho, ter feito o bem e viver, hoje, uma "vidinha" pacata numa cidade pequena, com uma esposa ao lado e vários filhos adoráveis. Era o que ele queria, o meu avô.

Por outro lado, isso seria enfadonho. Toda essa vida doméstica acabaria com o meu intelecto. Eu acho agradável o mal, não me deixa cair na rotina e me trás uma deliciosa sensação de prazer. No inicio, achei que tudo fosse questão de vingança, claro que ainda quero isso, mas vai além, mexe com todo o meu corpo. Eu assemelho a um homem que se droga. Ele sabe que não faz bem, mas o prazer que é obtido faz valer a pena.

A minha vida é perfeita aos meus olhos. Não tenho qualquer vínculo familiar, sou bem sucedido financeiramente, consigo sempre o que quero, quando quero e como quero. Sei apreciar o meu tempo e tiro muito proveito disso.

Mas a melhor parte são elas. Eu consigo descarregar todo o meu estresse e ira nelas, eu consigo maltratá-las de uma maneira alucinadora. É bom, muito bom. Elas acham que conseguem sentir prazer com isso, mas não chega nem perto do que eu tenho.

Elas são o meu porto seguro. Elas, as minhas cobaias.

***

As noites ainda deixavam um buraco imenso no peito de Olivia. Não era fácil ter uma amiga em coma, uma família marcada pela perda do pai ou qualquer dos problemas que ela costumava enfrentar. Os pesadelos não a deixavam esquecer nenhum deles.

Mas, por algum motivo, os pensamentos mudaram. Ela acordou leve e sorridente, pedindo para que sempre, a partir de agora, fosse assim. Uma parcela dessa felicidade era devido ao seu desempenho no trabalho, mas a maior parte foi pelo sonho que tivera.

- Não acredito que sonhei com ele. – Exclamou ela, com um sorriso nos lábios e os olhos marejados. – Que saudade, pai.

Ainda era cedo da manhã, o tempo estava nublado e frio. Uma raridade para essa época do ano. Dormiria mais um pouco, se o telefone não tivesse tocado.

- Alô? – Disse em um bocejo.

- Olivia, é o Mikes. – As voz grossa e apressada demonstrou um nervosismo que o perito não costumava ter. – Desculpe acordá-la há esta hora, mas preciso que venha com urgência.

- O que houve? – Perguntou com autêntica preocupação.

- Aconteceu de novo. – Ele não precisou dizer nada mais.

Vinte minutos depois, Olivia entrava na sala de necropsia. Encontrou Mikes em silêncio encostado numa mesa, Shelie e Still próximos a um corpo na mesa de metal e Call conversando com o Delegado no canto da sala. Algo estava errado.

Depois da morte de John Weston, outros dois corpos foram encontrados em cenas semelhantes, obtendo o mesmo resultado: Nada. Nada era encontrado ou constatado pelos laudos periciais. Não poderia ser apenas coincidência.

- Bom dia, Mikes. – Caminhou até o perito que parecia pensativo. – Descobriram alguma novidade?

- Não. – Respondeu. – Na verdade, tudo parece obra do acaso, se é que isso existe.

- O que o delegado veio fazer aqui? – Inquiriu Olivia, observando Ethan que parecia furioso. – Ele não costuma vir com tanta frequência, e já é a terceira vez essa semana.

- Ele está querendo garantir que Call faça tudo que deve fazer. – O perito a olhou com um sorriso. – Se é que me entende.

- Claro. – Sussurrou.

Ela caminhou até sua amiga, que estava demasiadamente preocupada, enquanto olhava para o corpo sem vida. Ela ainda não se acostumara com o impacto que sofria ao encarar a morte, desde a perda do pai isso a incomodava.

- Quem é este? – Perguntou a Shelie, que a olhou espantada notando sua presença.

- Ryan Macgrahan. – Fitou o corpo a sua frente com um olhar escuro, quase sombrio. – Ele tinha setenta e quatro anos, cinco filhos, oito netos e uma esposa, que agora encontra-se desamparada.

Olivia se aproximou e tocou seu ombro, mostrando o quanto entendia e compartilhava da mesma revolta. Elas sabiam que alguém estava assassinando homens idosos, mas ninguém conseguia dizer como ou por que.

- Achou algo? – A jovem perita indagou, mesmo sabendo qual resposta viria.

- Não. – Still, que até então apenas observara, respondeu e Olivia percebeu o quanto ele parecia aturdido. – Nada disso faz sentido.

- Eu sei. – Foi o que conseguiu dizer.

***

- Você está me dizendo que não conseguiu nada? – Ethan sussurrou furioso. – Isso não é possível.

- O que quer que eu faça? – Indagou Call exasperado. – Eu não posso simplesmente adivinhar, estou dando o máximo.

Os dois nunca se deram bem, apenas suportavam um ao outro. O trabalho deles não haviam se cruzado de tal maneira antes. Ethan o encarava, claramente respirando pesado, tão concentrado que não notou a pequena discursão que se iniciou entre os auxiliares de necropsia e os peritos.

- É isso! – Exclamou Mikes, fazendo o delegado e o médico legista virarem-se. – Eu sabia que nenhum crime poderia ser executado com perfeição.

- O que está dizendo? – Perguntou Call, claramente surpreso.

- Descobrimos. – E gargalhou, orgulhoso e aliviado.



NOTAS DA AUTORA

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Até a próxima... :) 

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