"Os meus passos podem conduzir-me ao caos, ao mal. Os meus passos não sabem o que é bom, eles não pensam."
"Ele mantinha os olhos fixos no espelho, mirava uma ruga no canto do olho que há tempos habitava ali. Respirava fundo diversas vezes, tentando, em vão, manter a calma e a certeza de que queria fazer aquilo. Inspira, expira.
Caminhou até a poltrona velha, próxima ao telefone, sentou devagar, sentindo a coluna estalar. A idade tinha algumas vantagens, ele pensava, mas não superava o mal que trazia.
Quando o telefone tocou, o velho homem pensou por um tempo em fugir e se esconder. No fundo do seu coração ele não queria aquilo, mas do que adianta estar vivo, se a solidão domina tudo? Era um dilema difícil de resolver.
Encarou o telefone, deu meia volta e se distanciou, mas no fim, parou, voltou e atendeu.
- Alô? – A sua voz era quase um sussurro exasperado. – Quem fala?
- Sou eu. – As palavras bem articuladas e a firmeza na voz, trouxe ao homem a certeza de quem era. – O encontro acontecerá hoje, meia-noite, esteja pronto.
- Certo. – Uma lágrima escorreu pelo olho direito, o que fora consumido pela catarata. Ele não queria, mas precisava.
***
Olhou o relógio de pulso de ouro, que deixava o seu braço mais velho do que de fato era, estava perto de meia-noite. Decidiu fazer um trajeto longo, contornando ruas antigas, que há tempos não passava por elas, observando praças, que nesse momento estavam como ele, solitárias. Quando a morte se aproxima, tudo ao seu redor ganha um novo rosto e significado. O adeus mais difícil, sem sombra de dúvida, está sendo hoje.
Quando alcançou o velho porão, todos estavam presentes e o olhavam com expectativa.
- Chegou a minha vez."
***
- Advinha quem encontrei hoje? – Olivia contava com entusiasmo a amiga.
- Não sei. – A outra respondeu sem dar muita atenção. – E estou com preguiça de pensar.
- Como você é chata. – A perita reclamou, mas continuava com o sorriso no rosto. – O médico.
- Que médico? – Shelie ainda permanecia inerte.
- O neurologista do hospital, não lembra? – A amiga a encarou devagar, abrindo um gigantesco sorriso.
- NÃO BRINCA! – Ela pulou da cadeira e a abraçou. – Que maravilhoso. O que aconteceu neste encontro?
- Nada demais. – Olivia parecia tímida. – Só conversamos e ele me chamou para tomar um milk-shake na quarta-feira.
- ACHO QUE VOU SURTAR. – Shelie estava mais radiante que amiga. – Temos que produzir você. Vai ficar gata.
- Nossa. – Foi tudo o que Olivia conseguiu dizer.
Havia sido um encontro rápido. Ele perguntou sobre a sua cabeça e ela o respondeu amistosamente. Mas gostou demasiado de sua companhia.
" O médico era animado, simpático e muito bonito. E Ethan era carrancudo, briguento, responsável, lindo e decidido. Mas o quê? Ethan? Ninguém falou nele."
- Toc toc. – Shelie a olhou estranhamente. – Está bem?
- Sim. – A resposta saiu como um grito desafinado.
- Estava com uma cara tão engraçada. – Shelie riu.
Ao fundo da sala, Olivia viu a porta se abrir. Mikes as encarava com uma expressão tão sofrida. As duas se levantaram e correram até à porta.
- O que houve, Mikes? – Shelie indagou.
- Mataram o Jack. – Ele sussurrou.
- Quem é Jack? – Olivia perguntou apressada.
- Um velho amigo meu e... – O velho perito olhou para o horizonte sem fitar nada concreto. – Tio de Ethan.
- Oh, meu Deus. – Shelie expressou, pondo as mãos na boca. Enquanto Olívia conseguia apenas pensar no quanto estava sendo doloroso para o delegado.
NOTAS DA AUTORA
Curtinho, eu sei... Mas é por um bem necessário!
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Bejoka <3
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Destinos Traçados
RastgeleOs caminhos não se cruzam por acaso! Entre sonhos, medos, passados, dores, amores e rotina, seria o homem capaz de mudar? Essa misteriosa e envolvente história te fará sentir tantas emoções quanto pode aguentar. #ATENÇÃO Se você é hipertenso, tem p...