"Wicked Games"22. Capítulo

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-Concordo...- Vi-me quase obrigada psicologicamente a concordar... Eu sou a prova viva de que travar amizade com a solidão não é assim uma metáfora tão assustadora ... Vivia todos os dias da minha vida sem falar com praticamente ninguém. Não tinha amigos, não me abria emocionalmente com ninguém... A solidão era a minha mais querida companhia e por muito romântico e bonito que fosse poder discordar da opinião dele... Isso seria impossível... Porque sempre estive lá, entregue aos meus próprios pensamentos. Sem ter com quem os partilhar. Sem ter com quem poder demonstrar o que sentia, nas fases mais complicadas da minha vida.

Os minutos foram passando, sem que nos apercebêssemos disso, e metade do maço já ficara vazio. Ambos partilhava-mos histórias de vida, algumas mais intensas, outras mais insignificantes e enquanto isso o frio apoderava-se da atmosfera do Quarto e ondas de fumo cinzento passeavam no nosso meio. Passeavam e tocavam-nos suavemente. Sempre achara maravilhoso a forma como algo que nos mata pode ludibriar-nos tanto. Sentia-o abrir-se comigo de uma forma cautelosa mas que aparentava sinceridade. Ouvi cada pormenor da vida dele sem nunca o julgar e a cada palavra que proferia eu me apercebia a horrível vida que tinha tido até então.

Por vezes, em momentos de silêncio (ligeiramente constrangedores) apercebíamo-nos dos barulhos abafados de toda a multidão de estranhos reunida na sala de jantar, os copos a brindarem, as risadas, os passos dos tacões fininhos de senhoras de classe alta, as crianças a brincarem de um lado para o outro e riam-se alto. Conseguia ouvir todo aquele entusiamo, toda aquela alegria e no entanto... E no entanto nada daquilo me atraía... Não trocava aquele quarto frio, o Tate e os cigarros por nenhuma das conversas fúteis e mexericos partilhados pelos convidados. Não trocava nada daquilo por nenhuma das prendas, nenhuma das pessoas que estava na sala de estar. E de facto aquela noite de ceia de Natal estava a ser de longe muito mais bem aproveitada porque me via forçada a afastar os meus avós do pensamento. Não que os quisesse esquecer... Mas apenas me sentia bem em poder, pelo menos durante alguns segundos me abstrair da morte deles e não ter de pensar na noite do acidente...

Acima de tudo, confiava em Tate... Sentia que podia partilhar qualquer coisa com ele como se fossemos amigos à anos... Sentia-me capaz de abrir o meu coração com ele e .. Isso era algo que nunca havia sentido na minha vida... Nunca tinha sentido isto com mais ninguém. Da parte dele não me sentia reprovada ao partilhar as minhas experiências e sentimentos.

-Estas muito pensativa... -Retomou ele no seu sexto cigarro.- Posso saber em que é que estará a minha princesa a pensar?

-Estava a pensar em como não trocava isto por mais nada...

-Isto?

-Sim... Nós aqui. Os cigarros e tu... Não trocava nada disto pelo que se está a passar lá em baixo.

-Nem eu. – Reparei nas suas faces rosarem.- Posso-te fazer uma pergunta?

-Um milhão delas se te apetecer. Respondi sorrindo.

-Os teus pais parecem-me pessoas com uma mente um bocado fechada. Fechada o suficiente para não te deixarem tatuar nada... Onde é que fizeste isso que tens na coxa direita?- Colocou, com as pontas dos dedos, o cigarro nos lábios olhando de soslaio numa tentativa de me provocar.

-Como é que sabes sequer que tenho uma tatuagem? – Perguntei fingindo-me ligeiramente ofendida.

-É difícil não olhar quando «alguém» passa ao meu lado, com uma toalha a tapar um corpo que dá calafrios em qualquer homem. – Puxou uma passa e inalou o fumo pelo nariz expelindo-o depois pela boca e olhou-me outra vez daquela forma «despreocupada» e atrevida.

-Bem... -Entalei-me um pouco com o fumo. Não precisamente com aquelas palavras mas em particular com aquela maneira de me olhar.- Eu fiz isto à dois anos atrás na garagem de um miúdo do colégio... O irmão mais velho dele era um «aspirante» a tatuador profissional e ofereceu-se para me tatuar.

-Corajosa.- Ele riu-se.- Posso vê-la melhor? Nem consegui perceber o que era.

-Claro.

Inocentemente, levantei-me e puxei para cima o vestido na zona da minha coxa direita, apenas o suficiente para ver a tatuagem. Em seguida, com os dedos, puxei o collants para baixo delicadamente.

Ele colocou-se de joelhos e veio até mim.

-Um lobo...- Começou.- Está absolutamente espetacular. Ele era realmente um artista. – Continuou enquanto passava suavemente as pontas dos dedos pela minha coxa, fazendo-me arrepiar a espinha. Creio que por se aperceber disso mesmo (não consegui disfarçar), continuou com aquelas caricias aproximando-se lentamente da zona interior da minha coxa. Não olhei, não tinha coragem... Estava demasiado corada para conseguir sequer baixar o meu olhar. Conseguia-o aperceber-me do quão próximo estava para sentir a sua respiração junto a mim. – Tens uma pele tão suave... -Nem sequer me atrevi a responder. Não era capaz ... Sentia o meu espírito completamente intoxicado pelo calor da sua respiração, pelas suas palavras.

(....)

Minhas lindas, a continuação é publicada entre hoje e amanhã. Espero que gostem.

BTW alterei a capa do livro, espero que tenham gostado um beijinho


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