"Não vou pedir que seja minha, como se eu pudesse ser seu dono... Tudo que quero é seja minha companheira, e trilhe a vida ao meu lado."
Na manhã seguinte recebi uma mensagem de Valentina, na qual dizia que estava adorando a história, e que gostava do meu modo pretensioso de descrever coisas simples do cotidiano. Por mais que eu soubesse que aqueles eram elogios exclusivamente para minha escrita, não pude deixar de me envaidecer um pouco. Normalmente eu não era afetado por opiniões, já tinha aprendido que elas mudam como o tempo, nem mesmo a opiniões de críticos literários me afetavam em longo prazo, mas naquela manhã fiquei radiante porque uma garotinha tinha gostado dos primeiros capítulos de "Do outro lado do Rio".
O meu dia estava cheio de compromissos, e logo precisei ir para a região central da cidade, e dali para a Avenida Paulista, onde meu editor tinha marcado um encontro com blogueiros literários, e alguns leitores, onde eles poderiam discutir comigo alguns pontos de "Desconexo Amor", meu terceiro, e ultimo romance lançado. Nos últimos dias eu já vinha me preparando para explicar algumas vezes porque não escreveria uma sequencia do livro, essa era uma questão levantada constantemente pelos leitores que tinham se apegado muito a personagem principal, Andressa, e a sua história de amor pouco comum. Todos queriam que eu escrevesse a sequencia, e esperavam que ela a garota pudesse ficar com seu amado, mas eu não tinha nenhuma intenção de seguir por esse caminho, e se escrevesse a desejada continuação da história, creio que seria um desapontamento para muitos, já que em momento algum vejo Andressa, e Ricardo tendo um final diferente do que já tiveram, além daquilo me parece forçado demais. Definitivamente não quero retornar aquela história e estragar o que mais amo nela, o final inesperado, e certo. Entretanto eu sei, que uma das primeiras perguntas que terei que responder será se não estou mesmo trabalhando numa continuação de "Desconexo Amor", e verei a desilusão no olhar de mais da metade das pessoas quando eu reafirmar pela milésima vez, que não tenho tais planos.
Creio que Valentina desconhecesse a existência de "Invictus", e "Desconexo Amor", o que apesar de ferir um pouco meu orgulho, por ser um autor quase desconhecido dos leitores de meu próprio bairro, quando tantas pessoas no restante do Brasil, e até na Espanha liam, e gostavam de minhas histórias, também fazia dela um refugio dessas perguntas ingênuas, e bem intencionadas, mas que me de deixava muito cansado.
O dia passou como eu tinha imaginado pela manhã, muita perguntas sobre "Desconexo Amor", muitas na tentativa de tentar descobrir sobre meu novo trabalho, e outras tantas sobre "Invictus", e "Do outro Lado do Rio". Eu fui de Metrô para o encontro, já que essa é sempre a melhor opção quando se vai ao centro, principalmente para evitar o transito, e os preços abusivos de estacionamentos naquela região, mas na volta meu editor insistiu em me dar uma carona, e não recusei, ele sempre foi uma companhia agradável, e um amigo. Durante o trajeto, sendo um editor, ele não deixou de comentar que se houvesse mais alguma história de Andressa e Ricardo para contar, esse livro venderia ainda mais que "Desconexo Amor", e eu sabia que era verdade, e o dinheiro que entraria por conta disso seria incrivelmente bem-vindo, no entanto já havíamos tido essa conversa outras vezes, e ambos sabíamos que não havia essa tal história a contar, pelo menos não naquele momento. Quando ele me deixou em casa, sem aceitar o convite educado para entrar, pois tinha que ir para casa para ficar com a esposa, e suas duas lindas filhas, eu fui direto para o banho, apesar da insistência de minha mãe para que eu acompanhasse ela em um jantar de boas vindas a uma sobrinha interiorana, da Dona Elisa, nossa mais antiga amiga de família. Recusei o convite, porque sabia bem a intenção de minha mãe, apenas olhando em seus olhos, estava claro que essa moça devia ser uma versão de boa namorada para mim, segundo os desejos de mamãe. E sinceramente eu não estava afim de aguentar minha mãe, e a Dona Elisa jogando a moça o jantar inteiro para cima de mim. Eu estava ainda no banho quando ouvi a porta da frente bater, sinalizando que meus pais já tinham saído.
Eu sei que é um pouco estranho um cara de trinta anos morando com os pais, mas há uma explicação logica para isso, pelo menos em minha logica. Pense comigo, porque um cara solteiro, que passa muito tempo viajando para divulgar seus livros, iria querer uma casa apenas para ele? Eu já havia pensado diversas vezes em alugar um lugar, ou mesmo comprar, já que há mais de três anos que meus livros rendiam o suficiente para eu pudesse me dar alguns luxos, mas sempre me deparava com a questão do porque eu iria pagar água, luz, telefone, internet, impostos, de uma casa que eu mal usaria. Para mim pior que suportar papos desinteressantes, era perder dinheiro a toa, e permanece assim. Partindo desse principio, eu continuava a mora com meus pais, coisa que era cômoda para mim, e para eles, na maior parte do tempo.
Quando sai do banho, a casa estava deliciosamente silenciosa, uma oportunidade perfeita para eu escrever, eu sempre produzo melhor em ambientes silenciosos, apesar de poder escrever em qualquer lugar, a qualidade é sempre melhor quando estou sozinho. Antes de começar a sessão de escrita, resolvi fazer um lanche, e ler algumas mensagens que estavam esperando no celular. A maioria dos e-mails era de propagandas e spam, então apenas ignorei, e em dois minutos tinha lido o único e-mail sobre o próximo encontro de autores, que seria em Curitiba. Quando eu já ia deixar o celular sobre a bancada de mármore negro, ele vibrou em minha mão, e o nome de Valentina apareceu na tela, avisando que ela tinha enviado uma mensagem:
"Como assim o pai do Lutz morre no quinto capitulo?"
"Não deveria ter morrido?" – Respondi.
"Não, claro que não".
"Você sabe que ele é um personagem de entrada né? Serve apenas para inserir o filho na história".
"Não importo, eu estava gostando dele".
"Todo esse amor na meia pagina que ele aparece?"
"Sim, se você quer saber foi a melhor meia pagina que já li até agora".
"Desculpe! Por estragar isso para você".
"Não faz mal, só queria registrar meu protesto. E só para constar já estou no capitulo 13".
"Que bom que está tão envolvida... Preciso escrever agora, mas depois você me dá seu relatório sobre o livro."
"Vai lá, e vê se não mata personagens legais"
"Prometo que vou tentar!"
Eu não me espantei por ela achar que Gerald Lutz não deveria morrer tão precocemente na história, pois centenas de outras pessoas já tinham me dito isso, tanto pessoalmente, quanto por cartas, e e-mails. No final ninguém que um simpático senhor morra minutos depois de se reconciliar com o filho mais novo. Mas sem isso não haveria nada que interessasse, ao jovem Juliano, "do outro lado do rio", e não teria uma história a contar. Geralmente as pessoas entendiam isso nos dois capítulos seguintes, e aceitavam que foi algo necessário afinal, mas em alguns casos, como parecia ser o de Valentina, elas continuavam inconformadas com isso, algo já esperado por mim, já que meu próprio editor queria que ele tivesse permanecido na história.
Por mais que eu tentasse deixar ela longe, aquela garota sempre arrumava um jeito de arrebatar meus pensamentos para si, e isso causava um pouco de incomodo, porque eu jamais tinha sentido isso por uma garota, sempre havia limites dos quais eu jamais passaria, mas de um modo assustador, ela não permitia que esses limites fossem postos entre nós, e o pior é que já naquele momento sabia que ela não fazia isso intencionalmente, era o encanto que exercia sobre mim, que me desarmava completamente. Essa situação era muito perigosa, e isso de tantas maneiras, que eu não conseguia compreender o porquê de estar me permitindo estar nela. Era uma loucura, e eu estava me afogando nessa loucura.
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Pessoas maravilhosas do Wattpad, tudo bem? Ansioso para saber a opinião de vocês sobre o capítulo... Abusem dos comentários... Beijos
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Beijo de Outono [Completa]
Short StoryE se um amor lhe fosse negado? Se a única garota que realmente fez seu coração bater mais forte, fosse aquela que não te quisesse? Nicholas Cavalieri, já tinha conquistado muito de seus desejos, aos trinta anos, inclusive algumas boas história...