Desci os degraus com passos certeiros e tentando esconder o enorme sorriso que insistia em aparecer.
"Você está deslumbrante." Meu tio quebrou o silêncio pegando em minha mão ao chegar no final da escada.
Sorri em agradecimento, como dizia minha mãe 'vestido lhe cai bem', realmente, não precisa ser cheio de frescuras ou ter muitos detalhes, parece que quanto mais singelo, mais bonito fica. Porém, escutar a palavra deslumbrante dos lábios de meu tio soa um pouco estranho, talvez seja por sua jovem aparência.
"Posso saber para onde vocês vão?" Meu pai estava sentado na poltrona que parece ser seu mais novo habitat, com os braços cruzados e pela primeira vez com um olhar carregado para seu irmão.
"Só vamos dar uma volta, você deveria fazer o mesmo." Alison disse vestindo sua jaqueta de couro lançando-lhe um olhar de conforto, como se estivesse com dó. Franzino venho e sai assim que a porta foi aberta, sem proferir uma única palavra para o meu pai.
"Eu entendo que seu pai esteja um pouco rabugento mas seja paciente." Meu tio disse colocando o sinto e dando partida.
"Tio, agora não. Ser mais paciente que eu impossível." Murmurei encarando a janela. Por que ser paciente com uma pessoa que te trata horrivelmente mal? Por que tolerar uma pessoa desprezível? Por que ser educada com alguém que te desrespeita, bate e insulta?
"Apesar dos apesares ele é seu pai." E com uma única frase todas as questões formadas mentalmente receberam uma única resposta dada pelo meu tio. Apenas me recuso a aceitar.
***"Você ficou calada o caminho todo." O carro parou no meio de vários carros um tanto sofisticados.
"Onde estamos?" Perguntei descendo do carro e tentando identificar o lugar.
"Você nunca veio aqui? Claro que não, adolescentes como você só querem saber de balada." Disse sorrindo convencido.
"Adolescentes como eu? Eu eim." Respondi dando-lhe uma cotovelada de leve.
"Boa noite." Uma mulher muito bem vestida nos recebeu com um belo sorriso no rosto. O lugar tinha cores claras, se destacando apenas os arranjos e decorações escuras com mármore preto.
"Olá, boa noite. Gostaríamos de uma mesa para dois." Alison disse com uma seriedade que não estou acostumada, não consigo vê-lo como um homem formado e maduro.
Nos sentamos a meio casais, famílias e senhores que estavam degustando uma boa comida, pelo menos é o que aparenta pelo maravilhoso cheiro.
"Este restaurante é deslumbrante." Disse com um ar convencida, fazendo ele gargalhar ao usar o mesmo adjetivo que ele tinha usado.
"Eu já vim aqui umas três vezes, a comida é sensacional." Respondeu fazendo um sinal para o garçom parar de servir o vinho em sua taça.
"Desculpa pela forma como agi no carro. Meu pai mudou muito depois da morte dela, ele não parece mais ele." Beberiquei do meu vinho lentamente, primeira vez que experimento essa famosa bebida.
"É perceptível, mas ele ficou abalado, se isolou e praticamente não contou para ninguém o ocorrido." Concordei em suspiro, não consigo acreditar que ele também esteja sofrendo.
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Cruel Fate
FanfictionNem sempre podemos contar com a sorte, eu particularmente não acredito em 'felizes para sempre'. Isso não é porque sou uma desalmada, sem coração, simplesmente não tive escolhas, ou melhor, foram as únicas opções que tive. Afinal que vida é essa em...