O vestido preto caiu bem em mim. Comprei um novo pra ocasião. Achei que meus pais mereciam mais do que um simples vestido já usado.
Me olhei no espelho pela última vez antes de ir, meus olhos denunciavam a noite que passei em claro.
Percorri meus olhos pelo meu quarto em busca do discurso, que por sinal eu não fazia ideia se estava bom ou não, eu não sabia o que escrever, e quando sabia, não escrevia. Era como se minha mente se fechasse toda vez que eu sentava para escrever, e eu só conseguisse chorar, e realmente era a única coisa que eu conseguia fazer.
"Já está Pronta?" minha tia apareceu na porta do quarto.
Afirmei com a cabeça e a segui. Palavras naquela hora eram desnecessárias.
No caminho pensei diversas vezes em reler meu discurso, mas sempre que olhava a folha me dava um nó na garganta, então achei melhor economizar para o velório.
"Chegamos." ouvi ao longe e novamente apenas afirmei com a cabeça.
Confesso que não ouvi nada do culto, só ouvi meu nome, onde meus pensamentos voltaram para realidade e meus olhos se desviaram um pouco dos caixões.
"Becca...tem certeza?" disse minha tia assim que levantei, ela sabia que a única coisa que eu fazia era chorar.
"Devo isso a eles." Sorri fraco, apenas para passar confiança de que eu iria conseguir, mas a verdade, era que nem eu confiava o suficiente em mim mesma para ter certeza de que eu conseguiria.
Caminhei até a frente de todos e abri o papel, mas imediatamente o fechei, aquele discurso não era realmente o que eu queria falar, eram só palavras que eu procurei e encaixei lá. Mas o que estava sentindo naquele momento e as lembranças que me rondavam... Isso sim era o discurso perfeito. Devia isso a eles, a memória deles, por isso me concentrei nos meus sapatos e iniciei apenas agradecendo.
"Bom, primeiro quero agradecer a todos que vieram, vocês não tem noção do quanto isso é importante pra mim!" Tentei sorrir e olhei para trás por um segundo, fitando o caixão, e pude sentir o nó que se formava na minha garganta. Resolvi ignora- lo e seguir com o discurso "Sabe, meus pais me ensinaram a superar muitas perdas. Como a perda do meu cachorro predileto. Lembro que chorei durante dias falando que queria ele de volta e que não foi o certo ele ter morrido, ele devia ficar conosco. Meu pai chegou no meu quarto no terceiro dia, após minha mãe tentar fazer eu comer, e ter falhado, e simplesmente perguntou que se fosse eu no lugar dele, o que eu iria querer que acontecesse? Eu obviamente falei que queria ficar. Como se já esperasse aquela resposta de mim, ele sorriu, e disse que se fosse ele no lugar do cachorro, ele iria. Fiquei indignada, e nem quis ouvir o porquê, mas como todos sabem, meu pai não se deixava abalar tão fácil, principalmente com uma simples indignação, então ele continuou" sorri lembrando de suas palavras " Se fosse eu, eu preferiria ir do que sofrer... Na vida nós perdemos coisas, minha pequena! Perdemos coisas valiosas e outras não tanto assim, mas perdemos. Perdemos coisas que vão nós marcar pela vida inteira, e outras que são banais. Mas tudo o que perdemos, vem com uma lição por trás, basta olhar bem para tudo isso. Essa por exemplo? O que estamos aprendendo mesmo? Obviamente não respondi e o olhei esperando a continuação. Estamos aprendendo a ser fortes. Para quando a vida nós der outras perdas estarmos preparados para possível dor.
E foi ai que eu parei de chorar."Parei por um minuto e respirei fundo, não podia chorar agora, não no meio do discurso.
"Mas sabe, pai! O senhor me preparou para perda de um dente, de um amigo, do meu cachorro favorito que perdi apenas com 5 anos de idade, Mas nunca me preparou pra sua perda e a da mamãe... Será que era para perda de vocês que a vida estava me preparando com todas as outras perdas? Porque se for, volta, eu não estava pronta ainda." nesse momento lagrimas silenciosas escorrem pelos meus olhos e minha voz falhou, mas obriguei ela a sair "Sabe, depois que meu cachorro morreu, minha mãe entrou no quarto e os dois me abraçaram. Agora eu não tenho o abraço de nenhum deles. Em outras ocasiões eu procuraria eles para me ajudar a acabar com a dor, mas não sei o que faço agora, já que a dor é por causa da morte deles. Como meu pai me ensinou, sei que tudo tem uma lição de vida, e eu não sei ainda qual é essa, mas espero descobrir logo, e sinceramente, espero que tenha uma lição por trás disso tudo." Me virei para os caixões e sussurrei, dessa vez, apenas para eles ouvirem.
"Vocês estão fazendo falta..."Senti as mãos da minha tia nas minhas costas e foi no abraço dela que eu chorei tudo o que não chorei durante o discurso, e foi nesse mesmo abraço, que fui guiada ao meu lugar.
"Você se saiu muito bem, querida."
Passei o resto do velório e o enterro chorando. Lagrimas silenciosas com vários significados...
A flor que deixei pra eles foi a preferida minha e da minha mãe. Girassóis! 🌻
Olá gente, to passando só pra avisar que irei postar capítulos todas as segundas, e se eu estiver muito ansiosa, como estou hoje, talvez eu solte um capítulo ao decorrer da semana hehe
Bom, é isso. Espero de coração que estejam gostando, e que deixem seus votos.
Nos vemos na segunda-feira. 😍🌻
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Até Você Chegar.
Teen FictionQuanto tempo uma dor é capaz de durar? Um dia? Uma semana? Um mês? Ou um ano? Sinceramente, eu lembro apenas a intensidade da minha dor. Lembro do quanto dói quando a sua base é abalada, ou simplesmente tirada de ti, talvez não do jeito mais brusco...