Capítulo 6

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A empresa onde meu pai passava a maioria de seus dias, e algumas horas dos seus fins de semana, não ficava muito longe do meu colégio, uns 5 minutos andando. Lembro que quando ele me disse que eu ia estudar em uma das melhores escolas do país, ele fez questão de enfatizar de que, além de ser a melhor, ficava a minutos de seu escritório, e por isso eu poderia ver ele sempre que eu quisesse.

Para ser sincera, essa ideia sempre me atraiu, principalmente porque isso aconteceu alguns anos depois do meu pai quase perder todo seu império, por causa de jogos e bebidas. O império dele foi construído de uma forma rápida, e quase destruído em um piscar de olhos, e após milagrosamente ele conseguir reerguer tudo de novo, e prometer que ia mudar, eu decidi acreditar e tentar juntar os caquinhos que estavam soltos dentro da minha casa, alguns de minha mãe, outros meus, mas ambos estavam soltos pelo mesmo motivo, meu pai.

Essa fase de reconstrução de todo império, por mais milagrosa que tenho sido, foi demorada. Ele teve que começar a empresa quase que do zero, mas por incrível que pareça, a empresa cresceu novamente, e se tornou ainda maior do que já era. Meu pai podia ser muitas coisas, mas ele com certeza não era ruim nos negócios. Como um meio de se desculpar com a minha mãe, ele fez a floricultura dela, que até então era apenas uma lojinha no fim de uma avenida, virar referência em todo o mundo na área de flores e decorações de festas, assim construindo outro império basicamente do zero. Ele disse que se algum dia ele chegasse a vacinar novamente, mamãe teria como se manter, e ter a vida que ela merecia ter.

Minha mãe chegou até a se afastar dele por algum tempo, mas logo voltou. Ela não voltou com ele por interesse no quanto a empresa dela poderia crescer cada vez mais, até porque a mesma era formada em administração, e apesar de não ter o dom que meu pai tinha de fazer algo pequeno virar um grande negócio de uma hora para outra, ela tinha capacidade suficiente para manter sua empresa como referência mundial, e apesar de ter suas dúvidas se a escolha de voltar com ele foi realmente a certa, ela o amava, e isso importava mais do que qualquer vacilo que ele tenha cometido.

Como um meio de se redimir comigo, ele queria me dar tudo o que estava ao seu alcance, inclusive a matrícula no melhor colégio. A princípio eu não queria, mas após muita insistência do mesmo eu concordei, porém em nenhum momento deixei que ele pagasse um sequer centavo de mensalidade, se eu fosse estudar na melhor escola existente por aqui, eu iria entrar por meus próprios méritos, e apesar de ele querer pagar tudo para se redimir, eu pude ver o orgulho estampado em seus olhos ao ver a minha exigência.

Eu comecei a visitar a empresa pelo menos uma vez por semana, e ficava lá até dar o horário de meu pai sair, ficavamos comendo e conversando sobre coisas aleatórias, que me deixavam bem, por ver que ele se esforçava em ser melhor para mim e para mãe. Depois de algumas semanas ouve um problema com a parte administrativa da empresa, e meu pai percebendo meu interesse por aquele assunto, começou a me ensinar um pouco mais sobre como as coisas funcionavam ali, e consequentemente me ensinou a lidar com os problemas. Eu me interessei tanto pelos assuntos da empresa, que quando me dei conta, todos os dias após as aulas eu me dirigia até o escritório do meu pai, onde uma cadeira do seu lado já me aguardava, e passava o resto do expediente dele sentada ao seu lado aprendendo cada vez mais sobre aquele mundo complexo da administração e de direito.

Eu estava tão interessada que me escrevi em um curso técnico de administração, e como estudava o dia todo e fazia o técnico de noite, não tinha tempo para ir para empresa dia de semana, então, pelo menos uns 2 sábados do mês eu ia até a empresa e me sentava ao lado de meu pai, até ficar por dentro de tudo daquele mundo complexo que eu tanto amo.

Mas agora que meu pai não está mais aqui, não fazia sentido algum voltar a empresa, mesmo que tudo aquilo faça parte da minha vida, sem meu pai não faz mais sentido, e talvez por esse motivo eu fiquei parada na frente do prédio. Fazia tanto tempo que eu não ia ali, desde que descobri que meu pai havia voltado a jogar eu me recusei a aparecer na empresa, e depois da morte deles eu não conseguia ir. Meu curso acabou em um ano e meio, e desde antes de eu começar o curso, aquela empresa já era como minha segunda casa, e agora, olhando ela novamente depois de tanto tempo, eu percebi que eu sentia falta de estar ali dentro, que três anos da minha vida estavam ali.

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