capítulo 1

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Acordei com as memórias horríveis de um breve acidente, mas não me lembrava exatamente o que tinha acontecido e de quem era. Olhei ao redor tentando reconhecer o ambiente e vi uma moça de branco, uma enfermeira?

"Moça? Onde eu estou?" disse fraco, pois minha voz falhava sempre que tentava falar.

"Não se lembra?" ela se aproximou de mim com uma certa preocupação no olhar. "Vou chamar o médico. Um minuto."

"Me explica pri..." fui interrompida pela porta batendo, ela saiu do quarto.

Fiquei olhando ao redor tentando entender o que havia acontecido. Não me lembrei. Quer dizer, vagamente. Lembrava de um acidente, de alguns barulhos, coisas batendo e eu desmaiando... mais nada.

Olhei impaciente para poltrona ao meu lado.

"Por que raios eu estou num hospital e a poltrona está vazia? Oshe."

"Bom dia, como está se sentindo?" um senhor entrou na sala. Provavelmente o médico.

"Confusa." disse meio impaciente "o que estou fazendo aqui? E por quê raios não tem parentes meu aqui?" ele me olhou com cautela "desculpa... Só me explica o que está havendo... Pelo amor de Deus!" Supliquei.

"Olha" ele disse enquanto apagava a luz que usou para examinar meus olhos "Eu vou chamar sua tia e ela te explica tudo, só um momento."

"Minha tia?" ele não me respondeu e saiu. Qual o problema das pessoas que trabalham nesse hospital? Em menos de 5 minutos eu fui ignorada 2 vezes...

Fui acordada de meus pensamentos por um suspiro.

"Tia?" abri os olhos lentamente.

"Está tudo bem meu amor?" observei seus olhos com cautela.

"Seus olhos estão vermelhos. O que aconteceu?"

"Então..."

"Cadê meus pais? Eles não deviam estar aqui?"

"Você não quer dormir mais um pouco? Assim que acordar eu te explico!"

"Tia, quero saber agora!" as lembranças voltaram a minha mente violentamente, cada vez mais nítidas. Era o carro deles, eram eles no carro. "Eram eles não era? O que aconteceu? Eles estão bem, né?" ela me olhou e eu sabia o que ela queria dizer, mas não podia ser verdade. Por mais que as lembranças não paravam de vim, e mesmo sabendo que era o carro deles, e a gravidade do acidente, eu não processava a situação.

Minha reação foi travar. Os olhos fixos na porta, esperando eles entrarem por ela a qualquer momento. Minha mente girava em torno do acidente, eu sabia que era real, mas a informação de que eles não estavam mais comigo ainda não tinha sido aceita pelo meu cérebro. Meu corpo não obedecia quando eu queria chorar, ou gritar. Ele apenas se manteve imóvel, e a voz da minha tia soava como um sussurro na minha cabeça.

"Eu sinto muito, eu não queria te contar desse jeito... Está sendo difícil de mais, nem eu acredito." A fixa ainda não tinha caído. Eles iam entrar pela porta do quarto a qualquer momento, iam dizer que foi tudo um mal entendido e perguntar como eu estou. Eu sei que iam.

"Me deixa sozinha?" Foi a única coisa que saiu da minha boca. "Me deixa sozinha..."

Eu fiquei por mais um tempo olhando a porta, mas eles não entraram por ela. Então meus olhos marejaram, e após alguns segundos eu senti uma lágrima molhar minhas bochechas. Meus olhos ainda estavam fixos na porta, entretanto, a esperança deles atravessarem ela não existia mais.

Quando consegui desviar os olhos da porta, eu me permiti chorar.

As lagrimas não paravam de rolar, eram lágrimas silenciosas, mas com um peso enorme.

Não percebi quando a enfermeira entrou no quarto.

"Você precisa se acalmar! Está fraca." Ela disse aplicando um remédio na minha veia e trocando o soro que pingava no mesmo ritmo desde que acordei.

Enquanto eu observava o soro pingar, minhas lágrimas iam cessando, não porque eu queria parar de chorar, mas por conta do sono que fez com que meus olhos ficassem pesados. Eu dormi.

***

Acordei com minha cabeça pesada e meu corpo formigando. Não sabia o motivo.

"Tiia?" senti suas mãos apertarem a minha. "Desde quando está aqui?"

"Não sai de perto de ti!" eu sorri fraco. O máximo que consegui.

"Quando é o enterro?" ela hesitou e sua voz falhou.

"Amanhã... Você recebe alta hoje. Vai para casa comigo."

"Pra minha?" ela apertou mais minha mão.

"Pensei que quisesse ficar comigo... Por uns tempos, sabe? Até se acostumar com..." ela escolheu bem as palavras. "A situação."

"Só quero chorar!" olhei para minha mão, que no momento estava envolvida pelas mãos dela.

"Eu também." ela olhou pro vazio enquanto uma lágrima solitária caia do seu rosto. "Eu também...".


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