Os dias de domingo sempre foram especiais para mim.
Meu pai fazia questão de reunir a família toda. Era o dia em que eu acordava com um beijo de bom dia da minha avó, almoçava ouvindo as piadas horríveis do meu tio, discutia com a minha tia sobre o porquê eu não arrumei um namorado ainda e sempre ouvia as defesas do meu pai ao meu favor: Ela tem que se preocupar com os estudos, Bety. E graças ao bom Deus, é o que ela está fazendo!Minha tia solange tinha u.ma participação mais do que especial no preparo do almoço, ela sempre ajudava minha mãe, e as duas juntas eram a dupla mais perfeita do mundo na cozinha. Sinto falta disso. De tudo isso.
Desde que meus pais morreram, os domingos se parecem muito com tempestades, toda vez que chega, causa uma destruição enorme. E o domingo é a tempestade da minha vida, a minha destruição. Meus melhores momentos eram vividos aos domingos, e hoje são apenas lembranças do que eu perdi.
Minha avó tentou continuar me acordando aos domingos, mas
depois de algumas crises de pânico que ela presenciou, minha tia achou melhor ela não vir mais, pelo menos até eu estar melhor.Meus tios nem tentaram vir, alegaram estar abalados demais pra me ver, disseram que eu lembro muito a minha mãe, e por isso, não queriam desabar na minha frente e me deixar ainda pior.
Minha tia Sol faz o seu melhor pro dia de domingo não ser tão tempestuoso, e eu faço o meu melhor pra ela pensar que está dando certo, e hoje provavelmente não vai ser diferente, e foi por ela que eu levantei da cama.
Ouvi alguns passos no corredor e imaginei ser ela vindo me acordar, mesmo sabendo que eu nem cheguei a dormir direito.
"Já acordou?" A cabeça dela surgiu no vão da porta, e o sorriso de quem tinha um plano estava mais do que evidente em seu rosto.
"Huhum" murmurei enquanto pegava algumas roupas e seguia até o banheiro pra tomar um banho.
"Hoje teremos visita pro almoço."
"Vovó?" Ela negou com a cabeça e seu sorriso aumentou significativamente."Se arrume e desça." Ela me lançou mais um sorriso antes de abandonar o meu quarto.
Eu não ia lavar meu cabelo, mas alguma coisa na minha cabeça me dizia que era melhor estar apresentável para essa visita misteriosa.
Depois do banho, resolvi escolher outra peça de roupa também. Deixei meu short, que era basicamente de dormir, dentro do guarda roupas e peguei uma calça de tecido leve e soltinho no meu corpo e uma blusinha preta lisa.
Meu celular vibrou em cima da escrivaninha e eu sorri quando vi o nome do Liam brilhando na tela.
"Você chegou a cogitar a possibilidade de eu estar dormindo uma hora dessas?" Sorri enquanto colocava o celular no viva voz e pegava meu corretivo para aplicar embaixo dos olhos.
"Você sabe que já é quase meio dia, né?" Ele deu uma risada leve "E além do mais, sua tia me disse que você estaria acordada."
"Como assim?" Congelei a mão no ar e olhei pro celular, como se o Liam pudesse sentir meu olhar através dele.
"Estou te esperando para almoçar, por favor, vê se não demora!" E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele desligou.
Lavei minha mão que ainda se encontrava com o corretivo, que por sinal, eu não apliquei e segui para cozinha enquanto colocava meu óculos.
"Tia, posso saber que história é essa de..." parei minha frase no meio assim que avistei o Liam, com uma bermuda jeans, uma blusa preta e uma faca na mão. "Você está mesmo cortando a salada ou eu ainda não acordei?" Fechei meus olhos e abri novamente para ter certeza do que estava vendo. "Espera, o que você está fazendo aqui?"
"Bom dia para você também!" Ele sorriu.
"Eu convidei ele para almoçar." Minha tia que até então estava calada, resolveu se pronunciar. "Depois que ele te trouxe em casa ontem, eu corri atrás dele e fiz o convite"
"E eu não costumo recusar comida" Ele deu de ombros.
"Ora, porque está me olhando assim? Ele te faz bem, e por isso o convidei." Ela deu de ombros e ele ruborizou. Não pude deixar de abrir um leve sorriso por conta disso, e pelo fato de que ele realmente me faz bem.
"Se eu soubesse que o segredo para senhora correr era chegar em casa com o Liam, tinha feito isso a muito tempo atrás" Brinquei e peguei a faca das mãos do Liam, que relaxou sobre o meu toque. "Deixa que eu corto" ele concordou com a cabeça e se afastou um pouco.
"Pensei que ia me expulsar daqui." Olhei pra ele e apreciei seu sorriso por alguns minutos antes de sorrir em resposta.
"Eu não sou tão má assim, e além do mais, a casa é da minha tia, ela não deixaria eu te expulsar!" Ele negou com a cabeça e sorriu.
Ao decorrer do almoço eu percebi que minha tia tinha gostado do Liam, não apenas porque ele me faz bem, como ela mesma havia observado, mas porque realmente é meio impossível não gostar dele, além do fato de ele elogiar a comida dela a cada cinco segundos. Ela não admite, mas ama ser elogiada quando o assunto é comida.
"Mas então, Liam..." minha tia começou, após servir a sobremesa e se sentar. "Já pensou em qual faculdade vai se escrever?"
"Essa pergunta é tão apropriada para hora da sobremesa.." pensei um pouco alto demais. Optei por colocar um pedaço de pudim na boca, antes que falasse mais alguma coisa.
"Pretendo fazer direito." O sorriso no rosto da minha tia foi involuntário, e os olhos dela que até então estavam se revirando, brilharam em encantamento. "Sempre admirei muito os advogados. E sei que uma boa acusação pode salvar o mundo!" Não pude deixar de sorrir.
"Sabe, meu pai que dizia isso."
"Sabe, seu pai era um homem muito sábio." Dito isso, ele me olhou e sorriu.
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Até Você Chegar.
Teen FictionQuanto tempo uma dor é capaz de durar? Um dia? Uma semana? Um mês? Ou um ano? Sinceramente, eu lembro apenas a intensidade da minha dor. Lembro do quanto dói quando a sua base é abalada, ou simplesmente tirada de ti, talvez não do jeito mais brusco...