Já se passavam das nove horas quando eu acordei; a noite não foi uma das mais confortáveis, além de ter Grace deitada em mim o tempo todo, o movimento dos vagões não me fazia bem e eu acabei ficando enjoado demais para conseguir dormir mais tempo.
Ajeitei Grace no banco de couro vermelho e a deixei dormindo, indo até outro vagão buscar comida para nós dois, mas ao voltar tive dó e preguiça de acordar a garota, então me sentei na poltrona de frente a ela e comecei a comer, observando-a. Com o movimento do trem, o rosto de Grace acabou sendo esmagado contra o vidro, fazendo-a despertar de seus sonhos assustada e provavelmente dolorida.
Eu tentei não rir, mas a feição dela ao acordar foi ainda mais engraçado, então não consegui conter o riso.
- Do que está rindo, idiota? - Ela passou a mão no lateral do rosto fazendo um beicinho e eu sorri, mordendo um pedaço de um dos biscoitos que peguei para comer.
- Só foi engraçado ver você batendo a cara no vidro.
- Idiota.
- Acordou de mau humor, baby? - Questionei a ela que pegou uma garrafa de suco de laranja e a abriu, bebendo um pouco e passou as costas da sua mão na boca.
- Acordei, e a culpa é sua. Não deveria estar aqui.
- Não? Se não fosse por mim você estaria indo para sua nova casa agora. - Não consegui evitar ser ríspido ao responde-la, porém respirei fundo e diminui o tom de voz ao voltar a falar. - Eu não te segui para te atormentar, acho que preciso pensar e só... pensei que você seria uma boa companhia.
- Agora somos dois indo para lugar nenhum.
- Estamos indo em direção a uma cidade onde meu pai tinha uma casa. Podemos ficar lá, se quiser.
- Mas seus amigos...
- Eles não conhecem, se quer sabem da casa.
Me levantei e me sentei ao lado dela, olhando a simples cidade aparecendo conforme o trem avançava. As lembranças do passado passaram em minha mente, as brincadeiras e sorrisos, e eu não consegui me manter sério.
- Por que está sorrindo?
- Lembranças.
Vi um sorriso começar a se formar no canto dos lábios levemente avermelhados da garota, mas ela virou o rosto e repousou a mão no vidro.
- Quanto tempo vamos poder ficar aqui?
- Algumas semanas até seus pais te encontrarem.
O silêncio então voltou a fazer companhia a nós dois; Grace e eu trocamos apenas olhares pela última meia hora de viagem. Quando os trilhos do trem começaram a parar, ela pareceu curiosa sobre o que encontraria lá fora.
Peguei a mochila de Grace e a coloquei nas costas, andando entre os vagões até finalmente colocar meus pés fora daquele trem enjoativo.
- Para onde vamos agora?
Grace juntou as mãos em frente ao corpo, um pouco desconfortável ou ainda tentando assimilar que havia fugido. Olhei em minha volta e sai caminhando para o lado de fora daquele lugar.
Estive ali a tanto tempo que talvez não me lembrasse mais quais os caminhos deveria seguir.
A garota morena me seguia, sua feição parecia cansada e a minha não estaria diferente, mas não demoraríamos tanto para chegar a casa. Caminhei com Grace ao meu lado por alguns minutos, até chegarmos a uma rua pouco movimentada.
- Vai demorar muito?
- Não. - Tirei meu celular e os fones do meu bolso e entreguei a ela. - Sente-se em algum lugar e me espere voltar.
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A Filha Dos Smith
FanfictionQuem não se lembra de John e Jane, ou Sr. e Sra. Smith? Em um momento, eles eram o casal aparentemente incrível e em seguida eles descobriram que todos os momentos juntos não passavam de mentiras. Eles passaram por cima dos problemas e depois de al...