Cap 5 Manoir Fleur de Lys part I

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"Ei cara, você por aqui?" – Harry abraçou rapidamente o amigo ruivo.

"Mione me mandou uma coruja hoje cedo, dizendo que precisava conversar comigo com urgência. Pedi folga a Jorge e vim. Fiquei preocupado." – Respondeu Rony olhando para Hermione que ainda não tinha sequer feito algum tipo de movimento desde que ele havia chegado.

"Você está bem Hermione?" – Foi Harry quem perguntou.

"Oh, sim, claro. Estou ótima!" – Disse se levantando de supetão e abraçando o ex marido. – "Tudo bem Rony?"

"Acredito que sim. Mas preocupado."

"Não fique, não há motivo. Mas sente-se, por favor." – Tanto Harry quanto Rony estavam achando Hermione um tanto estranha, e trocaram essa informação pelo olhar, mas preferiram não dizer nada, conheciam o gênio dela, era melhor evitar maiores confusões.

"Bem, acho que vou deixar vocês conversando então. Almoça comigo hoje Rony? Precisando falar de algumas coisas com você." – Curiosamente Harry olhou para
Hermione ao dizer isso, o que passou despercebido por ela, que estava nervosa demais em olhar para seus sapatos.

"Claro Harry, acabando aqui te procuro na sua sala." – Disse o ruivo sorridente.

"Certo então. Até mais." – Harry saiu da sala, a deixando em um silencio profundo.

"Então Mione, qual é o assunto urgente?" – Rony resolveu falar ao ver que ela não faria tão cedo.

"Ah. Bem. Já soube que Hugo vai passar esse fim de semana com vocês na Toca?"

"Mamãe me disse. Achei estranho, confesso. Agora que vocês estão se dando bem de novo, ele ficar um final de semana inteiro conosco. Aconteceu algo?"

"Na verdade sim." – Hermione ficou encarando o ruivo que cada vez entendia menos o comportamento dela.


"Por Merlim Hermione, diga logo o que está acontecendo!"

"É que vou viajar Rony, a trabalho, é claro." – Era visível o tremor de Hermione.

"Viajar a trabalho? Mas você nunca viajou a trabalho." – Rony parecia confuso.

"Er.. esse caso exige um pouco mais de mim. Preciso conhecer pessoas, conferir algumas coisas. Enfim, vou ter que me ausentar."

"E pra onde você vai?"

"Litoral francês."

"Litoral francês? Que caso é esse que você precisa ir ao litoral Frances para poder trabalhar?" – Rony perguntou ficando um tanto vermelho.

"Rony, um pai está sendo proibido, de maneira injusta, de ficar com o filho. Uma vingança suja de uma mulher baixa que, no mínimo, deve se sentir rejeitada, já que partiu do marido a decisão de se separar. Não é certo uma criança pagar pelos erros dos adultos. O menino gosta muito do pai e sofreria muito ficando longe dele. Assim como o pai sofre só de pensar em não poder ver o filho."- Hermione tentou se mostrar mais calma possível, mas não estava tendo muito sucesso.

"Sei, mas de quem se trata afinal? Pois você viajar assim, para um lugar longe e de repente, no mínimo é alguém de dinheiro e pelo que pude perceber é homem." – Rony disse emburrado.

"O que você quer dizer com isso Ronald?" – Hermione estava começando a ficar nervosa.

"Não quero dizer nada Hermione, só quero saber quem é."

"Se trata de Draco Malfoy" – Disse seca. Rony estava reagindo do jeito que ela esperava e aquilo a tirava do serio.

"Como? Acho que escutei errado." – Rony nunca esteve tão vermelho.

"Você ouviu muito bem. Meu cliente nesse caso é Draco Lucius Malfoy. Está se separando de Astoria, que como represália pretende tirar o direito dele de ver Scorpius." – Disse entediada. Rony se levantou e começou andar de um lado para o outro.


"Você só pode estar de brincadeira. Defender aquele loiro? Ele pode fazer isso sozinho. Afinal não é um grande advogado? Não, pior. Ele é Draco Malfoy. Será que você se lembra de quem estamos falando? Do cara que quase matou Dumbledore quando tinha apenas 16 anos! Do cara que se tornou comensal aos 16 anos! Do cara que desde os 11 te chamava de sangue ruim e dedicou toda a sua adolescência as nos perseguir e humilhar. É ele que você vai defender?!" – Rony estava possesso.

"Por todos esses motivos que você disse que ele precisa de mim!" - Mas Hermione se arrependeu na mesma hora de ter dito isso.

"O QUE VOCÊ DISSE? ELE PRECISA DE VOCÊ? COMO ASSIM?" – Rony bradou.

"Pare imediatamente de gritar Rony! Você não está na sua casa e eu não sou qualquer uma para ouvir esses seus berros. Me respeite!" – Hermione disse nervosa e se levantando.

"Respeito? Você quer respeito? Como? Se nem você se respeita mais? Defender Draco Malfoy? Nem todo seu altruísmo justifica isso."

"Pra mim já deu Rony! Eu quis ser honesta, dizer a verdade. Mas você não entende nada, nunca entendeu. Sempre se achando muito esperto, condenando os outros, mas agindo exatamente igual. Cheio de preconceito e magoa. Eu não sou como você, nunca fui e jamais serei. Eu consigo ver as coisas além de suas embalagens. Eu tento ir mais além sempre, não me contento com o raso."

"Isso está mais que certo. Você deve ir sempre além mesmo, senhorita Granger!" – O que se ouviu em seguida foi o barulho da mão de Hermione esbofeteando o já vermelho rosto de Rony.


"Saia daqui imediatamente. Eu não preciso ficar ouvindo esses seus absurdos. Sei que está nervoso e está perdendo o controle, mas não te dou o direito de me ofender!" – Ela quase gritou e já estava chorando.

"Hermione, eu..." – Rony tentou mais baixo, porém Hermione o interrompeu.

"SAIA DAQUI! AGORA!" – Ela enfim perdeu o controle. Rony viu que tinha feito besteira e que por enquanto o melhor que se tinha a fazer era sair dali rapidamente.

Hermione se sentou e tentou se acalmar. Estava confusa em relação à Draco. Estava fazendo a coisa certa? E as coisas que ela sentia quando estava perto dele. Sua falta de controle às vezes. E Rony? Por que ele tinha que ser daquele jeito? Ela pensou que ia explodir. Muitas emoções ao mesmo tempo, e o pior, a expectativa de uma viagem que com certeza lhe guardava muitas surpresas, ela só não sabia se eram boas ou ruins.





Draco entrou em sua sala e sem pensar duas vezes se jogou no sofá de couro verde que lá havia. Colocou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos. Não entendia como podia estar sentindo tudo aquilo, pelo menos não por ela, Hermione Granger. Lembrava do cheiro bom que sentiu ao beijar o pescoço dela, e não soube distinguir se era o perfume que ela usava ou se era o cheiro dela mesmo que o fazia ter todas aquelas sensações. Como podia ter, em tão pouco tempo, sentido tudo aquilo por ela? Não que ele a desprezasse, na verdade, ele agora via que nunca o fez realmente. Todas as vezes que a chamava de sangue-ruim era mais com o intuito de aparecer para seus amigos idiotas do que para magoá-la propriamente. Por vezes se arrependeu e sentiu calado o remorso de ter ouvido o choro baixinho da menina causado por suas ofensas. Sua mente então conseguiu localizar o "incidente" ocorrido entre os dois na biblioteca, quando estavam no sexto ano, aquele mesmo que a motivou a escrever a carta tão "desaforada" que ele achara.

Ele estava na Seção reservada procurando algo que o ajudasse a consertar o Armário Sumidouro, o que mais tarde seria usado por sua tia Bellatrix e outros comensais, para invadir o castelo. Revirou toda a seção, mas nada encontrou e quando saía cheio de fúria causada pela frustração e desespero, Draco sentiu seu ombro direito esbarrando em algo e em seguida ouviu o barulho de livros sendo lançados ao chão. Virou-se e viu Hermione já abaixada, pegando de volta os livros que haviam caído.

(pequeno FLASHBACK ON)


"Imbecil!" – Draco chiou olhando para a garota no chão.

"Você é sempre assim tão educado?" – Hermione nem se importou em olhar para ele ao falar.

"Cala essa sua boca imunda!" – ele aumentou a voz irritado pela ironia da garota.

"Um simples "desculpe-me" é tão difícil assim de dizer?"

"É muita audácia sua imaginar que eu vá te pedir alguma coisa, algum dia na minha vida inteira sua sangue-ruim!" – a cada frase que dizia, o tom de voz do garoto só aumentava, fazendo com que os alunos que estudavam na biblioteca parassem para ver o que estava acontecendo.

"Pois bem. Eu não te ajudaria nem se minha vida dependesse disso. Pode ter certeza." – Hermione agora já segurava novamente todos os livros nos braços e olhava para o garoto loiro que bufava à sua frente.

"Não me faça rir sua idiota. Você é desprezível...não serve para nada agora, porque acha que vai servir algum dia? Agora some da minha frente sua aberração." – e saiu em disparada fazendo questão de se afastar da menina com cara de nojo.

(pequeno FLASHBACK OFF!)

"Meu Merlim! Como eu pude ser tão nojento assim?" – Draco havia se levantado do sofá verde e agora estava parado em frente à sua mesa, com as duas mãos sobre esta. – "Ela teve toda razão de escrever aquilo...como eu pude ser tão idiota, desprezível, digno de asco assim a minha vida toda? E justo com ela...justo com ela, Merlim..."

Estranhamente agora Draco ria. Ria alto. Ele percebera que ambos não conseguiram cumprir as "promessas" feitas naquele dia. Ele precisara da ajuda dela e pedira, enquanto ela aceitara ajuda-lo. Foi aí que ele ouviu os gritos dela na sala à frente. Correu para a porta e o que viu foi Ronald Weasley saindo do escritório de Hermione cabisbaixo e segurando um lado do rosto como se tivesse acabado de receber um tapa. Viu por trás do ruivo a mulher que respirava com dificuldade, já com os olhos vermelhos de choro e quando ele demonstrou a intenção de ir até ela, Hermione simplesmente fechou a porta e o deixou encarando-a.




Hermione chorou copiosamente depois que Rony saiu de sua sala e antes de fechar sua porta ela pode ver Draco dando-lhe um olhar de pena e isso a irritou mais ainda. Ela odiava que sentissem pena dela, e com certeza ele era a última pessoa que ela queria naquele momento que sentisse pena dela. Pensava em tudo que Ron havia lhe dito e lembrava do que houve entre ela e Draco antes de Harry chegar. Sua cabeça girava e como ela odiava isso, odiava com todas as suas forças se sentir confusa e sem uma direção a seguir. Odiava não estar no controle da situação. Precisava se acalmar e aí poderia ver tudo com mais clareza.

Aos poucos ela foi se acalmando e deitada em seu sofá Hermione conseguiu chegar à conclusão que deveria prosseguir com o combinado, pois não seriam as ofensas infundadas de Ronald que a impediriam de fazer seu trabalho, e o faria muito bem feito.

Levantou-se do sofá e arrumando os cabelos e desamassando as roupas foi até a porta de seu escritório. Passou por ela e parando à frente da porta que dizia Draco Malfoy – Advogado Ministerial, ela bateu e esperou o loiro abri-la.

"Desde quando você bate na porta?" – ele perguntou com um tom de ironia na voz.

"Por favor, não me canse mais do que eu já estou Malfoy..."

"Malfoy? Eu pensei ter te ouvido me chamar de Draco algumas vezes..."

"Que seja. Draco. Malfoy. É tudo a mesma coisa não é? É o seu nome não é? Pois então...mas eu vim aqui pra terminarmos o que começamos mais cedo." – Hermione passou pelo homem e ficou de costas para ele, enquanto encarava a parede oposta.

"Você é bem direta não? Sempre soube que as quietinhas são as com mais fogo..." – Draco disse num tom malicioso demais até para ele, ao mesmo tempo que fechava a porta e andava até a mulher.

"Pode tirar essas atrocidades da sua mente doentia seu pervertido! Eu vim aqui pra falar da nossa viagem." – Hermione se virou quando sentiu a aproximação do loiro à suas costas.



"Ah....você veio falar disso....tudo bem, como você disse, seria mesmo atrocidades pois seriam feitas com você, ou seja, creio que minhas "ações" não teriam o efeito esperado em uma "sabe-tudo" como você..." – Draco tentou soar descompromissado, mas pelo sorriso que ela lhe deu, ele percebeu que não tinha sido bem sucedido.

"Adorável. Então, tudo preparado? Quando vamos?" – ela disse em um tom mais casual.

"Tudo. Preferia que fôssemos hoje ainda, depois de expediente. Tudo bem pra você?" – o homem colocou as mãos nos bolsos e sentou-se na beirada da mesa, encarando-a.

"Okay. Sem problemas. Providenciou a chave de portal? Se quiser eu posso pedir ao King, sabe como é difícil conseguir uma em tão pouco tempo assim e...."

"Não se incomode querida. Assim como você eu também tenho meus contatos. Esteja pronta às oito pode ser?"

"Sim, estarei aqui." – Hermione se dirigia até a porta e antes de sair por ela, ouviu Draco falar atrás dela.

"Obrigado."

"Hã?"

"Obrigado pelo que está fazendo. Sei que deve ser difícil."

"Eu tenho a terrível tendência de gostar das coisas mais difíceis. Não sei se você já notou isso...."

O que pareceu minutos intermináveis foi apenas alguns poucos segundos, mas o que houve ali foi uma troca de olhares doces, culminada por um sorriso sincero de ambos.

Com a mala pronta, Hermione voltou ao Ministério e às oito em ponto se postou à frente da porta de Draco que, como que pressentindo a presença da mulher, abriu-a antes que ela terminasse o movimento de bater.

"Sempre pontual."

"Sempre."

"Vamos? A chave está na mesa."

Hermione olhou para onde ele apontava e viu uma garrafinha de água mineral vazia. Sorriu como fazia toda vez que via uma chave de portal. Achava divertido que objetos que parecem tão comuns para uns podem significar um meio de transporte para outros tantos.



Aproximaram-se da garrafa e como esta era relativamente pequena, suas mãos acabaram se encostando e tanto Draco quanto Hermione tiveram uma sensação agradável de conforto ao sentirem a pele quente um do outro.

Depois de tudo girar e ambos sentirem estar flutuando, chegaram à uma clareira dentro de uma floresta. Draco a guiou por alguns metros e foi quando Hermione viu a vista que, depois de Hogwarts, ela julgou ser a mais bela que já vira. Uma casa branca, estilo renascentista, com muitas janelas estreitas, porém altas na fachada. A porta de entrada ficava debaixo de uma marquise sustentada por seis colunas de mármore grego. A entrada da casa em si já era maravilhosa, Hermione percebeu. Dois pilares do mesmo mármore branco das colunas davam as boas vindas aos que passavam pelos jardins não menos impressionantes. Havia uma pequena placa de bronze onde Hermione pode ler escrito Manoir Fleur de Lys – Mansão Flor de Lis, a flor que é um dos símbolos franceses. Ao fundo, na lateral da casa, a mulher pode ver o azul, agora escurecido pela noite, do mar mediterrâneo e o que passou por sua cabeça naquele momento foi que talvez a viagem não fosse ser tão ruim assim.









Entraram no grande pátio na frente da casa e Draco abriu a grande porta de madeira maciça sem muita cerimônia. Se o exterior da casa já havia impressionado Hermione, o interior com certeza a deixou mais boquiaberta do que nunca. Ao contrário da Mansão Malfoy na Inglaterra, esta era toda branca, branco. Para onde a mulher olhava, só se via branco.

"Lindo. É realmente muito lindo..." – ela divagou olhando tudo à sua volta.

"Obrigado. O branco tem o poder de "filtrar" as coisas ruins minha querida. E definitivamente a última coisa que precisamos nesta família são coisas ruins."

Hermione se assustou ao ouvir aquela voz. Era a voz de uma mulher, uma voz que ela já ouvira antes, porém desta vez não tinha o tom sarcástico e ácido que ela sentiu quando se encontraram pela primeira vez na loja da Madame Malkin no Beco Diagonal, tantos anos atrás.

A mulher se virou e viu Narcissa Malfoy descendo as escadas de mármore, elegante como sempre, um tailleur verde escuro contrastando com o batom vermelho nos lábios. O cabelo loiro dourado que Draco herdara estava preso em um coque torcido lhe dando um ar sério, contudo ainda assim amigável. Hermione pensou que mesmo depois de quase vinte anos, ela continuava sendo uma das mulheres mais bonitas que ela já havia visto.

"Mãe, você deve se lembrar de Hermione Granger." – Draco disse olhando a mulher loira.

"Srta. Granger, claro. Lembro-me de você. Amiga de Harry Potter, ajudou a derrotar do Lord das Trevas, e ainda se formou em Hogwarts com honras." – Apesar da seriedade das palavras, Hermione não sentiu hostilidade na voz da mulher.


"Sra. Malfoy. Creio que não nos conhecemos da melhor maneira então, muito prazer, Hermione Granger." – e estendeu a mão para a mulher loira.

Narcissa a fitou por uns segundos e estendeu também sua mão, abrindo então um sorriso sincero e falou em seguida.

"Espero que goste da sua estada em nossa casa, e Srta., agradeço-lhe muito por ter aceitado o pedido de meu filho. Não sei se tem consciência, mas está nos fazendo um bem enorme." – dizendo isto a mulher deu mais um sorriso à Hermione e já ia saindo à procura de um empregado que levasse a hóspede ao seu quarto quando Draco falou.

"Onde está o pai?"

"Lendo. Na biblioteca."

"Pode deixar que eu mostro o quarto à ela mãe." – e vendo a cara de desconfiança que a mãe lhe fez, Draco continuou. – "e depois vou para o meu descansar um pouco antes do jantar dona Narcissa."

Narcissa riu e Hermione corou quando a mulher lhe lançou um olhar despreocupado.

Subiram pelas escadas de mármore e entraram em um corredor longo com o chão forrado com um tapete verde escuro cheio de insígnias com uma serpente, uma flor de Lis e um M, todos entrelaçados. Ao passarem por uma grande porta dupla de madeira ouviram alguém chamar.

"Filho?"

"Sou eu pai. Cheguei agora há pouco."

"Pronto. Acabou. Agora vou ser enxotada daqui, e vou ter que ouvir os velhos e insuportáveis insultos de Lucius Malfoy." – Hermione pensou quando ouviu a voz e os passos em direção à porta dupla da biblioteca.

Um homem alto e forte apareceu à porta e Hermione notou que diferente da mulher, vinte anos foram mais do que suficientes para envelhecê-lo. Os cabelos continuavam brancos, mas agora eram curtos e ela percebeu também que aquele olhar que tanto a fez medo no passado havia desaparecido como que...mágica? "Não, arrependimento, talvez" pensou ela.

"Pai, acredito que se lembra da Granger, não é?"

"Draco, tudo bem...eu.." – Hermione de repente se sentiu muito desconfortável com aquela situação.



"Srta. Granger. Fico feliz que não tenha deixado o passado interferir no seu julgamento em relação à essa família e o quanto necessitamos de sua ajuda. Obrigado."

"Sr., só faço o meu trabalho. Seu filho acredita que eu posso ajuda-lo e por isso estou fazendo-o. Não sei se posso dizer pelo Sr., mas o "passado" a que o Sr. se refere não me atormenta mais."

Estranhamente o homem sorriu, e disse em seguida.

"Ela é realmente muito boa Draco. E realmente ficou muito bonita, como você havia me dito."

Draco imediatamente sentiu seu rosto corar e um calor subir pelo colarinho do terno, o que fez o pai se voltar para dentro da biblioteca rindo em alto som.

Hermione por sua vez também corou e depois de alguns segundos Draco tomou a iniciativa de dizer algo.

"Ele anda falando umas coisas sem sentido ultimamente, se eu fosse você não levava muito a sério..."

"Ah claro, pode deixar." – e sorrindo de canto de lábio ela falou ao ouvido do loiro – "eu não vou considerar o que ele disse sobre você ter falado que eu sou muito bonita." - e soltou uma risadinha abafada.


Depois de andaram mais alguns metros Draco deixou a mulher à porta de um dos inúmeros quartos da casa. Combinaram de se encontrar ali mesmo em uma hora, para jantarem. Ela então adentrou o quarto e quando achou que não podia ser mais surpreendida pela beleza do lugar que estava, ela se deparou com uma cama de dossel, extremamente parecida com a do sonho estranho que tivera com Draco algumas noite antes. Na verdade tudo do sonho estava lá, não exatamente como era, mas estranhamente parecido, muito parecido pro gosto de Hermione. Os lençóis de seda, as cortinas da cama, as poltronas com a mesinha de chá, o armário branco decorado com flores de lis, até a sacada ficava em um lugar familiar à ela. Foi até lá e abriu as portas de vidro. Sentiu imediatamente a brisa fresca do mar e escutou o barulho das ondas quebrando nos rochedo que ela julgou estar debaixo do penhasco onde a casa estava. Era um som reconfortante, uma brisa reconfortante.

Por mais que isso a assustasse, ela sentia que os Malfoy estavam sendo sinceros quando lhe agradeceram pela ajuda. Talvez tenha realmente havido a tal mudança que Draco tanto falava, e ela decidiu que este primeiro jantar seria um ótimo modo de botar à prova tal afirmação. Ela mal podia acreditar que se sentaria à mesa com simplesmente talvez as pessoas que mais a odiaram na sua ainda breve vida, aqueles que sempre se orgulharam de odiar nascidos trouxas...era uma boa idéia? Hermione pensou e concluiu que nada a impedia de acreditar e por isso, ela acreditaria que sim.


Às nove horas em ponto Hermione, depois de tomar um banho no banheiro mais maravilhoso que ela já havia visto, nas palavras da própria, estava pronta, à espera de Draco bater em sua porta para que descessem para o jantar.

Nem bem ela sentou-se na poltrona confortável que ficava ao lado de sua cama, ouviu batidas leves na porta. Foi até lá e abrindo viu que o homem já a esperava.

"Esse doninha consegue ficar melhor a cada vez que eu o vejo...como pode?" – ela pensou ao ver Draco vestindo uma calça social preta e uma camisa pólo branca. O cabelo estava molhado e puxado para trás, o que o deixava com um ar de "menino rico mimado", o que ele não deixava de ser, pelo menos a parte do rico. E talvez a do mimado também. Hermione riu ao pensar isto.

"Rindo de quê?" – ele perguntou vendo a mulher sorrir.

"Nada. Só umas coisas que passaram pela minha cabeça agora, só isso."

Quando Hermione saiu pela porta de seu quarto, vestindo um vestido azul acinzentado, de tecido leve, transpassado na cintura, na altura dos joelhos e sem mangas, Draco sentiu-se de repente mais leve, a cabeça parecia querer sair do corpo e só flutuar. A mulher usava uma sandália de tiras prateada e tinha o cabelo preso em um coque displicentemente armado.

"Como essa "sabe-tudo-certinha" consegue ficar mais linda do que já é?" – ele pensou enquanto a acompanhava pelo corredor até a escadaria de mármore.

Quando chegaram à ante-sala do salão de jantar Hermione notou que havia outras pessoas no local, além do casal Malfoy. Foi quando ela ouviu aquela vozinha estridente e irritante, que mais parecia um apito de trem.

"Draaaaaaaaaaco meu amor!"

Pansy Parkinson veio em direção ao homem. A mesma voz insuportável, a mesma cara de buldogue só que agora com algumas esticadas produto das plásticas e o mesmo cabelo preto escorrido de franjinha, só que agora estava mais curto.

"Draquinho, há quanto tempo não nos vemos meu querido!" – Pansy pegou o homem pelos braços e deu um beijinho imaginário em cada lado do rosto dele.



"Er...olá Pansy. Como vai?" – Draco respondeu meio sem graça com a situação.

Logo em seguida, um homem negro e alto veio em direção ao loiro e aí sim Hermione viu que ele relaxou finalmente. Era Blaise Zabinni, o melhor amigo de Draco desde os tempos de escola.

"Draco meu amigo! Cara, você precisa aparecer mais! Dá um abraço aqui!" – Zabinni puxou o loiro para um abraço cheio de tapinhas não muito leves nas costas.

"Blase! Meu irmão! Nossa, faz muito tempo mesmo.... desculpe, mas eu andei meio ocupado ultimamente, na verdade, ando muito ainda..."

"É...eu fiquei sabendo, seu pai me contou tudo. Ela ta pegando pesado com você cara, não podia ter te ameaçado dessa forma."

"É eu sei. Mas não se preocupe. Eu tenho o melhor advogado. Quer dizer, a melhor advogada." - Draco virou-se para Hermione.

"Mas se não é a Granger...ou melhor, Weasley agora não é?"

"Er, não. Voltou a ser Granger." – o loiro falou e Hermione pode sentir certo tom de empolgação na voz dele.

"Ah....bom, sinto muito por isso."

"Não sinta. Foi melhor assim." – Hermione falou brevemente.

"Ora, ora. Hermione Granger freqüentando a alta-sociedade bruxa. Quem diria." – Pansy falou em um tom debochado.

"Pansy querida, não comece, sim. Não estamos mais no colégio." – Blaise a repreendeu.

"Prazer em vê-la também Parkinson." – Hermione rebateu com ironia na voz.

"É Zabinni meu bem. Pansy Zabinni. Mas eu te perdôo. Sei como você não tem tempo pra essas futilidades de família, afinal é uma advogada muito bem sucedida que só tem olhos para o trabalho não é?"

"Na verdade Pansy, trabalho vem só depois dos meus dois filhos lindos e meus amigos, mas sim, claro, eu gosto muito do que faço. Se não gostasse, com certeza não estaria aqui."

"Bom, acredito que o jantar já pode ser servido! Me acompanha querido?" – Narcissa falou sentindo a tensão que crescia na sala entre as duas mulheres.



Hermione permaneceu a maior parte do jantar calada, soltando a voz somente para responder à algumas perguntas e concordar com outras coisas. De certa maneira foi muito bom tudo isso. Ela pode ver como a família se comportava. O casal Malfoy apesar de sempre muito discretos, demonstravam carinho e afeto um pelo outro, isso era bom Hermione pensou, Scorpius precisa se sentir bem onde vive e se as pessoas que o rodeiam são afetuosas isso com certeza ajuda no desenvolvimento saudável da criança.

Draco também parecia bem carinhoso com os pais, sempre muito respeitoso nas palavras, de um modo tranqüilo e bonito.

Quando o jantar terminou foram todos de volta à sala que estavam antes, quando se encontraram. Hermione deixou que Draco aproveitasse o momento para rever os amigos e com isso lhe desse mais oportunidades para observar. Depois de um tempo o casal Malfoy se despediu e se recolheu para seus aposentos, ficando só o casal Zabinni e Draco e Hermione.

Pansy que já havia tomado um pouco mais de vinho estava agora entretida com uma mancha de molho que havia caído em seu vestido "caríssimo de grife" como ela mesmo fez questão de berrar quando a senhora que servia a comida deixou cair um pinguinho de molho branco fora do prato da morena. Hermione preferiu então ir até a sacada e respirar um pouco de ar puro.

Enquanto isso Draco e Zabinni ficaram conversando próximo à lareira de mármore da sala.

"Então, Granger."

"Granger. E?" – Draco indagou o amigo.

"E? Ah vai me dizer que isso é estritamente profissional cara?"

"Ah qual é Zabinni, é a Granger. Você sabe que isso é sem chance." – o loiro tentou soar despreocupado, sem sucesso.

"Sim, é a Granger. A Granger mais linda do que nunca." – Blaise deu uma olhadela para a mulher que estava na sacada.

"Ow! Respeita a sua mulher não é? E desde quando você acha a Herm...a Granger linda?" – Draco perguntou demonstrando certa irritação.



"Vai me dizer também que nunca viu como ela sempre foi linda? Ah Draco, nem vem com essa que eu sei que você bem que checava certas partes do corpo dela quando a gente tava no colégio...." – Zabinni ria alto.

"Que papo ruim hein Zabinni? Dá pra parar? Ela só está me ajudando..."

"Só? Cara, agora falando sério. Talvez você precise de alguém como ela. Alguém para te colocar no lugar!"

"E desde quando eu to fora do lugar seu imbecil?"

"Desde que casou com a Astoria!"

Draco não resistiu e ambos caíram na risada.

Depois de mais alguns cálices de licor, Blaise e Pansy decidiram que era hora de ir. Despediram-se de Draco e Hermione e quando já iam saindo até a porta de entrada, Blaise falou.

"Então nos vemos amanhã à noite!"

"Amanhã? Nós combinamos algo?" – Draco perguntou.

"Cara! Não acredito que você esqueceu! Meu aniversário de casamento, Pan e eu te falamos isso há mais de um mês, mandamos o convite e você confirmou presença! E nem vem que não tem que você não vai nos dar bolo esse ano de novo! 15 anos de casados e nosso padrinho não vai à festa?"

"A festa! Blase, desculpe...eu sabia que estava esquecendo de alguma coisa...cara, desculpa mesmo, é muita coisa na cabeça...mas eu vou sim, nós vamos." – dizendo isto ele apontou para Hermione.

"Ah! Achei que ia usar a nossa querida Granger como desculpa!" – Blaise deu uma piscadela marota para o amigo, que corou, assim como Hermione. – "Você será muito bem vinda Srta." – falou dirigindo o olhar à castanha.

"Agradeço pelo convite, mas acho que não trouxe a roupa adequada para esse tipo de evento. Draco pode ir sozinho, eu ficarei bem aqui."

"Oh que pena! Sabe Hermione, essa festa não será a mesma sem a sua ilustre presença!" – Pansy alfinetou.

"Não, ela vai. Pode deixar que minha mãe ajudará você a providenciar o que vestir, não se preocupe, ela é muito boa nisto, acredite." – Draco agora falou à Hermione, tentando ele mesmo responder à ironia de Pansy.



Despediram-se mais uma vez e assim que a porta foi fechada, os dois se viram sozinhos no hall de entrada, à meia luz da lua que iluminava por uma fresta das longas cortinas. Ficaram se olhando por um tempo e só quando Hermione falou o clima que havia se formado foi quebrado.

"Acho melhor ir deitar. Quero ver muita coisa amanhã. Sugiro que faça o mesmo, afinal é você quem vai me mostrar tudo." – e falando isto começou a subir as escadas brancas.

"Claro. Vamos dormir. Amanhã o dia será cheio, você tem razão." – e acompanhou a mulher.

Subiram a escadaria em silêncio, que só foi terminado quando ela falou novamente, ao chegarem à porta do quarto de hóspedes.

"Obrigado pelo jantar."

"Tirando a vozinha irritante da Pansy, acho que esteve tudo bem até agora não é?"

"É, aparentemente algumas coisas nunca mudam! Mas ao contrário da voz da Sra. Zabinni, eu estou vendo que você tinha razão. Estou começando a ver tudo isto com outros olhos. Os olhos da alma, o que eu um dia jurei achar que vocês não tivessem, mas agora vejo que me enganei."

"Que bom que os Malfoy estão conseguindo mudar alguns de seus conceitos."
"Eu diria que mais uma vez a culpa é de certo garoto chato e mimado que eu conheci."
A conversa tinha um tom suave e agora Draco chegava mais perto da mulher.

"Ah você conheceu, por quê? Ele não existe mais?" – falou isto já afastando uma mecha de cabelo de Hermione que insistia em cair sobre os olhos dela.

"Bom, até agora o que eu vi foi que esse garoto se tornou um homem honesto que só quer fazer as coisas direito." – ela agora havia se recostado na porta de seu quarto e com uma mão segurava a porta entreaberta e enquanto a outra ela colocou sobre o peito do homem.



"Então será que você não gostaria de ver mais um pouco?" – Draco disse isso já com os lábios roçando no canto da boca de Hermione.

"Acho que posso esperar mais um tempinho...agora se me dá licença, vou me deitar." – ela fez questão de deslizar a mão que não segurava a porta pelo peito do loiro, enquanto entrava porta adentro, deixando-o com o olhar desolado no corredor.

Após fechar a porta de seu quarto Hermione foi até a sacada e respirou o mais fundo que conseguiu.

"Porque eu to assim Merlim! Não posso! Ai, mas ele tem um cheiro tão bom....uma boca, um corpo, aquela boca Merlim! Para Hermione....para com isso...isso é só carência, só pode ser...também, tem o quê? 5 meses desde aquela tentativa frustrada de reconciliação com Ron! Aquela foi a última vez que eu fiz sexo? Merlim! Eu realmente preciso sair mais...." – e terminando de dizer isto ela, que já havia voltado para dentro do quarto, caiu na cama, ainda pensando na boca que havia quase beijado-a ainda pouco.

Draco entrou no quarto e ao parar de frente para sua cama, não pode deixar de imaginar quem ele gostaria que estivesse ali naquele momento e pior, imaginava também tudo o que estariam fazendo. Decidiu que um banho frio seria a melhor opção, ou não conseguiria dormir, não com ela tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe.


Enquanto se afundava mais ainda nos travesseiros enormes da sua cama, Hermione simplesmente abriu os olhos e encarou o teto da cama. O sonho outra vez. O mesmo de dias anteriores, ela acordando na cama com Draco, grávida, nua. Respirou fundo e tentou tirar isso da cabeça enquanto se levantava e ia para o banho. O dia ia ser longo e ela esperava realmente que isso tudo que estava sentindo não passasse de carência, afetiva, sexual, o que quer que fosse, ia passar. Ela repetia para si mesma ao vestir uma roupa confortável, porém ainda muito elegante para os padrões daquela casa e dos moradores dela. Deixou os cabelos soltos e prendeu duas mechas atrás da cabeça com uma pequena presilha de estrela que havia ganhado de Rose. Pegou sua pasta e desceu para o café da manhã.

Ao contrário de Hermione, Draco acordou mais cedo, pois precisava providenciar mais algumas coisas para o dia. Era um sábado e o inverno não parecia ter afetado o lugar, o céu estava claro, o sol era acolhedoramente quente e o mar mediterrâneo com seu azul esverdeado era especialmente convidativo. Foi por isso que Draco decidiu antes de resolver qualquer coisa, mergulhar naquelas águas cristalinas. Assim como sua mãe ele se sentia muito bem na água, ajudava a pensar, ela sempre lhe dizia, especialmente a água fria, e completava sempre contando ao filho como costumava nadar escondida em um lago perto da casa em que viveu, na Irlanda. Depois do mergulho, voltou para a mansão e encontrou com Hermione descendo as escadas para o desjejum.


"Bom dia." – ela disse.

"Bom dia. Dormiu bem?" – ele disse enquanto enxugava os cabelos em uma toalha.

"Sim, a cama é maravilhosa. Foi nadar?" – ela parou ao pé da escada, nos últimos degraus.

"Devia experimentar qualquer hora."

"No inverno? Você ta louco?" – ela parecia meio incrédula.

"Pois eu acho que ia te fazer muito bem...a não ser....a não ser que não saiba nadar." – Draco brincou com a mulher.

"É claro que eu sei nadar, só não quero me congelar!"

"Hum...olha, eu sei que não sou nenhum Krum, mas, se eu estiver por perto, eu juro que te salvo!" – o homem disse colocando a toalha no pescoço.

"Engraçadinho...até quando vão me atormentar por causa disso hein? Coisa mais chata..." – Hermione disse terminando de descer a escadaria e passando pelo loiro.

"Ah que coisa mais chata não é? Ser a mocinha que o "macho man" que Krum salvou de um afogamento! E você parece tão pouco incomodada com isso minha querida...nem corou agora!"

"Eu não estou corada."

"Sério? Hum...pena...pois eu acho uma gracinha quando uma mulher como você fica envergonhada..." – falou isso mais perto do ouvido dela.

"Mulher como eu? E o que seria uma mulher como eu seu doninha?" – Hermione botou as mãos na cintura como fazia nos tempos de Hogwarts.

"Linda." – Draco falou e saiu pelo hall indo em direção ao salão de refeições deixando uma Hermione completamente boquiaberta.

"Querida? Está tudo bem?" – Narcissa perguntou ao descer as escadas e ver a mulher ali parada com as mãos na cintura.

"Hã? Ah sim. Estou ótima sra., só tive um pequeno desentendimento com seu filho."


"Desentendimento? Mas eu achei que vocês já haviam se acertado....bom , eu sei que Draco não é bem a pessoa mais fácil de se lidar, contudo eu sei que meu filho mudou bastante nos últimos anos...nós todos mudamos." – a mulher loira falou olhando nos olhos de Hermione.

"Eu sei sra. e....."

"Narcissa, por favor. Me chame de Narcissa. Eu sei que já não sou uma mocinha, mas
eu me sinto tão velha quando me chama assim!" – a mãe de Draco falou sorrindo. –
"me faz sentir como aquela bruxa velha da mãe de Lucius. Mulher pavorosa..." – ela emendou baixinho para Hermione.

"Bom, desculpe, Narcissa." – Hermione deu uma pequena risada ao recomeçar a frase. – "eu sei que seu filho mudou e que as intenções dele são as melhores, mas é que às vezes acho que somos como água e óleo. Por mais que tentemos, nunca vamos nos misturar."

"Tem certeza minha querida?" – Narcissa deu uma piscadela para a mulher e continuou. – "Bom, porque não vamos tomar nosso café? Ah, a propósito, Draco me falou sobre seu "pequeno contratempo de vestuário"...não se preocupe, acho que tenho o vestido certo para você. Podemos ver isso mais tarde, depois que você e Draco voltarem de seus compromissos, e se de todo jeito não der certo, o que é muito improvável visto seu tipo físico e o meu bom gosto, sempre podemos dar um pulo em Paris e comprar algo que te satisfaça." – Disse tudo isso com um sorriso sincero no rosto. – "Vamos, os meninos já devem estar à mesa."

Narcissa saiu à frente com Hermione em seus calcanhares e enquanto ela seguia a mulher loira pensou como tanta coisa realmente mudou. Há cerca de vinte e poucos anos essa mesma mulher havia lhe chamado de sangue-ruim e humilhado-a, simplesmente porque ela escolheu entrar na loja errada, na hora errada. Agora, ela lhe dirigia palavras doces e olhares educados e sinceros, inclusive lhe oferecendo ajuda.

"Esse mundo ta virado mesmo." – ela falou baixinho quando chegava ao salão de refeições.



O café da manhã transcorreu tranqüilo com exceção dos olhares que ela e Draco ocasionalmente recebiam do casal Malfoy. Isto demonstrava que eles sabiam que existia algo mais do que trabalho ali, entre o filho e a castanha, mas não ousavam fazer nada além de pequenas insinuações que faziam Hermione e Draco corarem vez ou outra. Hermione ficou um pouco impressionada que nenhum desses olhares fosse de ódio ou repulsa, pelo contrário, faziam ela se sentir como se estivesse no colégio e fosse a primeira vez que ia à casa dos pais do namoradinho e eles achavam extremamente interessante e divertido ver "o casalzinho" constrangido.

Como Hermione previra, Draco tinha preparado tudo para o dia. Logo depois do desjejum foram para a cidade conhecer algumas pessoas que conviveram com Scorpius e a família Malfoy todos estes anos. Visitaram a escola trouxa que o menino freqüentara, e isso deixou Hermione particularmente impressionada, um Malfoy educado na mesma escola que trouxas. Conheceu professores e alguns pais de amiguinhos de infância do menino. Conversou até com o rapaz que vendia os peixes para a família. E todos diziam a mesma coisa: o quão excelente pai Draco era para o menino e o quão boa era aquela família, até o velho que era sempre muito sério, vez ou outra se deixava levar por uma conversa descompromissada no porto ou fazer um agrado ao neto levando-o para pescar no velho píer.

Subiram e desceram ladeiras, falaram pelo que parecia horas a fio, com inúmeras pessoas e ao final da manhã, Hermione decidiu que precisava de uma parada para pelo menos um refresco. Draco consentiu e levou-a até um lugar muito charmoso em uma enseada. Sentaram-se em uma mesa próxima ao paredão de rochas onde as ondas batiam vigorosamente.

"E então? Quais as suas impressões?" – ele perguntou enquanto mostrava ao garçom no cardápio o que beberiam. – "Obrigado." – agradeceu ao homem quando este se foi. – "Tem algo que possa usar a meu favor?"

"A seu favor? Draco, TUDO está a seu favor! Essas pessoas simplesmente te amam! Se isso fosse o Ministério meu amigo, você já seria o primeiro ministro!" – ela disse sorrindo e se recostando na cadeira.

"Nossa...não achei que eu fosse tão popular assim..." – ele soou sincero.

"Ta vendo como às vezes é melhor a gente deixar nossas ações falarem por nós mesmos? Não dá pra controlar tudo..." – Hermione falou olhando agora o mar.

"Olha quem fala...srta. "o mundo é meu e eu mando aqui"..."

"Eu não sou assim..."

"Ah não é? Se não tivesse essa mania de querer controlar tudo, poderia ter tido a melhor noite da sua vida ontem..." – Draco falou na sua melhor voz casual.

"Bom, eu entrei e te deixei do lado de fora do meu quarto...mas não te proibi de tentar entrar..." – ela falou desviando o olhar para o garçom que chegava com as bebidas. – "Obrigado."

"Com licença Sr. Malfoy." – o garçom, um rapaz de uns 25 anos, falou. – "desculpe incomodar, mas é que eu acho que deveria contar algo ao senhor."

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