Cap 15 Nada é fácil

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"Ele fez o quê??"

"Calma Gina, já foi, passou, ele só se exaltou um pouco, só isso..."

As duas mulheres e Harry conversavam na cozinha da casa dos Potter, enquanto Lily e Hugo estavam na sala e a ruivinha ajudava o primo a terminar a lição de casa daquele dia. Depois do final de semana, na segunda, Harry convidou a amiga para jantar em sua casa, não tinha certeza, mas instintivamente achava que ela teria novidades para contar.

"Hermione você é paciente demais minha amiga, me desculpe falar isso, mas acho que agora já chega não é? Chega de dar chances ao Ronald, a cada dia que passa ele só apronta mais e você fica aí defendendo ele!"

"Ah não, você também não! Draco só sabe me dizer isto, que eu sou muito paciente com o Ron e blá blá blá."

"Mas por mais que me doa concordar com aquele aguado, ele tem razão Mione." – Harry resolveu dar sua opinião. – "Qual é, lembra durante a guerra quando ele usava o medalhão e teve aquela crise idiota de ciúmes achando que a gente tava dando uns amassos escondido dele – Gina, pelo amor de Merlim, você sabe que isso nunca aconteceu, então tira esse bico da cara – e ele foi embora e você decidiu ficar comigo E CONTINUAR A PROCURAR AS HORCRUXES – Gina, pára! – e quando ele voltou encheu ele de porrada? Pois é, cadê aquela personalidade toda que demonstrou? Porque você ainda insiste em defendê-lo sabendo que está errado?"

"Mas a questão não é essa Harry, eu sei que ele esta errado, mas ele está cego e é isso que o faz agir dessa forma, acho que nós três conhecemos muito bem o Ron pra saber que ele não é essa pessoa que demonstra ser agora." – Hermione disse esperançosa.

"Querida, ninguém está falando o contrário, sabemos quem ele é de verdade, da índole dele. Ron tem sim um coração enorme, mas passível de escurecer pelo ciúme. Vocês mesmo já viram essa face dele, mas te lembro que agora ele não tem horcrux nenhuma no pescoço." – Gina se aproximou da amiga e afagou-lhe os cabelos.

"Não sei. Eu não quero acreditar que ele seja capaz de cumprir a ameaça que nos fez, ele é pai, sabe como ficaria se eu tirasse dele o direito de ver Hugo e Rose, não creio que ele leve até o fim essa vingançinha contra o Draco, por puro ciúme..."

"Bom, pelo sim, pelo não, eu vou bater um papo com ele, perguntar o porquê de tanta agressividade, tenho certeza que ele vai se abrir um pouco comigo, o Ron é um cara bom, não vai demorar pra cair na real e ver que está fazendo uma enorme besteira." – Harry falou tentando tranqüilizar a amiga.

Enquanto isso, andava até ela, que estava encostada na bancada da cozinha, junto de Gina que mexia em uma panela cheirosa de molho ao sugo e continuou.

"Maaaaas, estou me lembrando...o Malfoy foi até mim na sexta feira, perguntar educadamente se eu não poderia passar um tempo com meu sobrinho querido, pra que ele pudesse passar um tempo agradável com minha linda e querida irmã esse fim de semana e, como eu sei que Malfoy, educação e pedido não são palavras que se encaixam muito bem na mesma sentença, eu soube que ele tava armando alguma, por isso, trata de desembuchar Granger!"

"Harry! Deixa de ser curioso, ela não tem que te contar tudo que acontece na vida amorosa dela!" – Gina ralhou com o marido.

"Ah vá, como se você não estivesse se matando de curiosidade não é dona Potter?"

"Hahaha, desculpa Gi, mas nessa você perdeu!" – Hermione sentou-se em uma das cadeiras da mesa da cozinha e seu semblante ficou sério de repente. – "Bom, vocês são os primeiros a saber por mim e acho que nem preciso dizer que isso é segredo, pelo menos por enquanto."

"Você está me assustando Mione..." – Harry sentou-se ao lado dela.

"Eu. Não. Acredito." – Gina olhava para a amiga com uma cara de verdadeiro espanto. – "Ele não fez o que eu estou pensando, ou fez?"

"Hmmmm...bem, é, acho que ele fez sim Gi."

"Ai meu Merlim, ai meu Merlim, ai meu Merlim!" – a ruiva andou até o fogão e voltou três vezes até parar de pé em frente à amiga.

"Fez o quê? Dá pra vocês duas me incluírem nesse papo? Ele fez o quê afinal de contas?" – o moreno suplicava.

"Ele pediu ela casamento seu idiota!" – Gina gritou para o marido.

"Shiu, Gina, as crianças!" – Hermione lembrou à amiga que aquilo era um segredo.
Harry estava estático, só se percebia que ainda estava vivo pela sua respiração que, ficava mais ofegante a cada momento.

"E você....aceitou?" – ele resolveu falar.

"Sim." – ela pegou as mãos do amigo e colocou entre as suas. – "Harry, tudo bem? Eu sei que isso pode parecer meio estranho pra você, mas, acredite, ele não é mais aquele garoto. Eu não aceitaria se não tivesse certeza disso. Você confia em mim, não confia?"

"Hermione eu nunca te julguei em 36 anos de amizade, não seria agora que eu faria isso. É claro que confio em você, confio minha vida, a de minha mulher e a vida de cada um dos meus filhos a você. As escolhas que faz só refletem a pessoa incrível que é, seja perdoando as ações do Ron, seja crendo nas mudanças de Draco e é por isso que você é a pessoa que mais respeito nesse mundo. Minha mulher sabe que eu a amo infinitamente, mas ela sabe também que o que sou hoje, o homem que me tornei, você e Ron me ajudaram a ser."

"Obrigado Harry..."

"Diga ao Malfoy que podem contar comigo e aproveita pra dizer que se ele pisar na bola é melhor mudar de cidade, país, nome, é melhor ele mudar de cara, porque se isso acontecer, ah, mas eu caço esse aguado até o fim do mundo!"

O que se seguiu foi uma cena bonita de ser ver, com Harry e Hermione abraçados enquanto Gina os envolvia com seus próprios braços.



Era domingo e o dia estava ótimo para se passear pelos jardins ou ficar sentado em baixo de uma boa sombra perto do Lago Negro. Mas Scorp não conseguia perceber a beleza do dia como os outros. Seu coração pré adolescente estava apertado e angustiado. No dia seguinte seria a primeira audiência que decidiria seu futuro e ele fora convocado à ir. Não sentia fome e nem sono. Seu estomago parecia estar vivo e queria sair de dentro dele.

"Ficar aqui não vai melhorar." – Albus tinha aparecido em seu lado e ele nem percebera. Estava sentado sozinho na biblioteca. Queria se isolar do mundo ou da realidade. E além do mais era estranho ver o moreno ali. Já fazia um tempo que Albus parecia o evitar.

"E tem algo que melhore?" – Ele falou desanimado.

"Talvez se distrair com a gente lá fora. Não pensar em amanhã. Só curtir hoje. Se preocupar desse jeito não ajuda mesmo." – O loiro olhou para o amigo ao lado e deu um leve sorriso.

"Essas palavras não são suas." – O Potter do meio sorriu também.

"Não. Ela está lá fora fazendo alguma coisa e disse que me azara se não te levar comigo."

"Melhor irmos então, não quero ver você na ala hospitalar."

Os dois se levantaram da mesa em que estavam e seguiram para os jardins. A medida que iam andando, Scorp percebeu que estavam se aproximando da orla da Floresta e conseqüentemente da cabana de Hagrid.

"Vamos visitar o meio gigante?" – Disse com ar tão típico de sua família puro sangue.

"Não deixe Rose te ouvir falar assim. E vamos. Não faça cara de nojo!" – Albus nem se virou para trás para advertir o loiro.

"Eu não estou fazendo."

Quando entraram na cabana sentiram um cheiro agradável de chá, biscoitos e chocolate. Canino, que já estava meio cego bateu em uma cadeira antes de avançar em Albus. Rose sorriu ao vê-los entrar e deu um abraço rápido em Scorp só para ficar com as bochechas rosadas. Eles tinham trocado mais um beijo tímido há dois dias, quando Rose, distraidamente, escorregara em cima de Scorp na volta da biblioteca.

"Oh, olá pequeno Malfoy!" – Scorp não gostava de ser chamado assim, mas aquele meio gigante insistia nisso.

"Não gosto disso meio gigante!" – Rose lhe deu um soco no braço e Hagrid ficou sem graça. Passou a mão na sua barba espessa e meio grisalha e se sentou numa cadeira da mesa.

"Me desculpe. Mas você é o primeiro Malfoy que vem a minha casa sem ser para me ofender ou prejudicar ou coisa assim. E depois você é o mais novo da sua família." – O homem deu de ombros enquanto os três se aproximavam da mesa.

"Pode ser, mas Rose e Al também são novos da família deles e nem por isso os chama assim." – O garoto ainda estava emburrado.

"Mas sempre tive intimidade com os pais deles. Os vi nascer e crescer. É diferente."

"Um Malfoy sempre será diferente, não é?" – Scorp baixou a cabeça realmente sentido. Rose ia dizer alguma coisa, mas Hagrid tomou a palavra.

"Escute uma coisa. Há anos atrás estive em uma situação parecida com essa. E foi por causa de seu pai. Ele chamara a pequena Hermione de .. er... sangue ruim. Ela ficara assim, bastante chateada e triste. E vou dizer a você o que eu disse a ela. Não se preocupe com isso. Não se preocupe com os julgamentos pré estabelecidos. Ninguém pode ou tem o direito de dizer do que você é capaz ou o que você realmente é por causa de seus pais, de sua origem. Não se deixe levar pelo preconceito alheio. Talvez eu não tenha dito essas palavras, mas foi parecido." – E ele sorriu com os olhos brilhantes como se estivesse lembrando daquele tempo passado. Scorp ergueu a cabeça.

"Então não me julgue Hagrid." – O homem parou de rir.

"Não seria capaz de fazer isso. Só acho tudo novo garoto. Ainda mais que você é muito parecido com seu pai nessa idade. E Draco não era o menino mais doce de todos." – O loiro suspirou.

"Sei que não."

"Bem, já que vocês se resolveram que tal experimentarem meus biscoitos? Receita da Vó Weasley!" – Rose parecia ansiosa.

"Você cozinhou?" – Albus parecia perplexo.

"Qual problema Al?"

"O fato de você nunca ter feito nada na cozinha talvez?" – Ela ficou vermelha novamente, mas desta vez de raiva.

"Está dizendo que está ruim?"

"Provavelmente sim!"

"Coma antes de falar seu idiota!" – Rose gritou.

"Agora que não como mesmo. Coma você sua deliciosa comida!"

"Acalmem-se! Vamos todos pegar um biscoito e experimentar."- Hagrid pegou o primeiro e mordeu. O trio o encarava em expectativa.

"Está melhor que o meu!" – Ele disse colocando tudo na boca.

"Isso não quer dizer muita coisa." – O moreno disse desanimado.

"Deixa eu comer um então, pra ver." – Scorp disse inseguro, mas queria muito agradar a garota. Ao morder, pensou que jamais ia conseguir parar de mastigar. O biscoito estava borrachudo.

"Então Scorp?" – Rose não escondia sua ansiedade.

"Hum, bem.. Está bom, mas com pratica poderá ficar magnífico!" – Albus sorria divertido enquanto Rose ficava muito sem graça. Resolveu ela mesma experimentar um.

"Ow, isso ta horrível. Não entendo porque, fiz tudo como está escrito!" – Parecia que a ruiva iria chorar.

"Não fique assim Rose. Talvez faltou você colocar algo de seu na receita. O seu toque pessoal. Minha vó sempre fala disso quando cozinha. E a comida dela é bem boa. Pena que ela não faça isso sempre." – Scorp disse enquanto acariciava o rosto da garota. Albus parou de rir imediatamente já Hagrid sorriu feliz.

"Ele tem razão ruivinha. E depois, você ainda tem tempo para aprender. Sua mãe aprendeu. E cá entre nós, ela não era muito boa." – Todos riram, menos o moreno, que ainda estava emburrado com a cena de carinho em sua prima.

"Que seja! Vamos tomar o chá, ele está bom porque já experimentei."

Ficaram na casa de Hagrid até depois da hora do almoço, ouvindo as histórias que o homem sempre gostava de contar. Como as travessuras de Harry e sua capa ou dos seus bichinhos de estimação exóticos.

Quando voltaram para o Castelo o tempo já era outro. Nuvens carregadas começavam a se juntar no céu, como presságio de tempestade.

"Estou com sono. Vou aproveitar o resto da tarde para descansar." – Al disse se espreguiçando quando estavam perto das escadas que se movimentavam.

"Você tinha era que fazer o dever de poções, é para amanhã!" – Rose disse mandona.

"Ah, é para amanhã a tarde. E você vai me emprestar o seu mesmo." – O garoto subiu correndo a escada mais próxima antes que sua prima o ferisse de alguma maneira. Mas se arrependeu logo em seguida. Só quando estava no topo percebera que a deixara sozinha com Scorp e isso não era nada bom. Voltou alguns degraus para espiar.

"Está mais calmo?" – A menina puxou o loiro para se sentar com ela no degrau de um portal ali perto.

"Obrigado Rose, sei que planejou essa tarde por minha causa."

"Quanta pretensão hein! Mas sim, é verdade. Estava preocupada com você. Desde ontem não come e essa coisa de ficar sozinho." – Scorp respirou fundo. A chuva já começara a cair.

"Eu queria pensar no que vou dizer caso me perguntem com quem eu quero ficar."

"E você já sabe o que vai dizer?" – Eles não se olhavam e sim para a chuva que caia pelo lado de fora.

"Não exatamente. Claro que o que eu mais quero é ficar com meu pai. Mas amo a minha mãe e não gosto da idéia de magoá-la.."

"É isso que deve dizer Scorp." – O menino então encarou o perfil da ruiva.

"Como?" – Ela virou o rosto para ele.

"Diga que ama muito a sua mãe, mas a pessoa que te passa mais segurança, mais firmeza é o seu pai. Que você precisa dos dois por perto. Mas se tem que escolher algo definitivo, então, que seja seu pai. Mas que você não quer deixar jamais de ter sua mãe ao seu lado por isso."

"Você faz parecer fácil." – Ele abaixou o olhar mas Rose o tocou no queixo e ergueu seu rosto. Estavam bem próximos, era sempre assim, próximos demais, como se tivessem imã. Albus se remexeu inquieto em seu esconderijo improvisado.

"Não é fácil, mas é o que deve ser feito e você sabe."

"Obrigado." – Os azuis acinzentados mergulharam nos azuis dela. Delicadamente ele pegou a mão dela em seu queixo e a colocou em sua própria nuca. Nesse momento Rose fechou os olhos já sabendo o que viria a seguir. Scorp colou seus lábios no dela com a delicadeza de sempre. Ficaram nessa caricia até que Rose, involuntariamente abrisse a boca para suspirar. Scorp não perdeu a oportunidade e pela primeira vez resolvera explorar a boca dela por dentro. Ela se assustou mas deixou acontecer. De todos, aquele foi o melhor beijo deles. Pelo menos, até aquele momento.

Quem não estava gostando nada da cena era Albus. Sentia seu corpo tremer em raiva. Tinha feito tudo que ela pedira a ele. Conversara com o loiro, o dera uma tarde agradável, afinal, "ele está passando por um momento difícil." Mas aquilo já era demais e não ficaria assim. Já sabia o que fazer e silenciosamente saiu dali para sua sala comunal. Precisava escrever uma carta.

Albus correu para a Torre da Grifinória e subiu direto para seu dormitório, pegou papel e pena e pôs-se a escrever.

"E aí primo?

Como andam as coisas por aí sem eu pra livrar sua cara das bagunças que deixam a vó Molly doida? Ela já te encheu de cascudos o suficiente? Hahahaha! Brincadeira cara, você sabe que gosto pra caramba de você...te considero um irmão...e por isso, eu queria te perguntar uma coisa: você tá cuidando da Lils direitinho? Sabe como é, ela é bonita como a mamãe e tem sempre uns idiotas que acham que podem se meter com elas. Bom, eu disse elas porque, na verdade, como eu já disse, gosto muito de você e gosto muito da Rosie também e sei lá, eu descobri uma coisa hoje e acho que devia te contar. Só queria que você não contasse pra ninguém porque acho que a Rose pode se encrencar, mesmo que tenha gente no meio que merece se encrencar.

Ok vou te contar, mas se eu ficar sabendo que você abriu esse bocão, eu vou até aí te dar umas bifas nesse cabeção, ta entendendo? É o seguinte, acho que a Rose tá namorando. É, namorando, na verdade, eu vi ela beijando um carinha, na boca. Eu sinceramente acho que ela tá muito nova pra essas coisas, outro dia mesmo a gente tava brincando de auror/comensal lá na Toca...mas o pior você não sabe, o tal garoto que ela tava beijando...era o Scorp, o filho do Draco Malfoy, aquele que quase matou meu pai e seus pais quando eles eram mais novos. As pessoas acham que nós somos amigos, mas eu não sou amigo dele, amigos não mentem e não magoam os outros...

Bom, só to te contando isso porque sei que se acontecesse uma coisa desse tipo com a Lils você me contaria né, afinal, somos primos-irmãos. Mas se eu ficar sabendo que deu com a língua nos dentes, já sabe.
Beleza, agora tenho que ir, to cheio de dever de casa pra fazer, não sei como você e a Lily querem tanto vir pra cá, é legal às vezes, mas na maior parte do tempo a gente só estuda...saco....

Falou 'cabeção', até mais,

Albus."


Al fechou a carta com cuidado e colocou no bolso do casaco. Quando se preparava para passar pelo retrato da Mulher Gorda viu alguém entrando pela abertura e acabou trombando cabeças com o outro.

"Ai!" – ambos resmungaram.

"Ow, não olha por onde anda não?" – uma voz feminina ralhou com ele.

"Ah, é você." – Al olhou entediado para a prima ruiva que ainda coçava o lugar em que batera cabeça com o menino.

"Ai Al, pra quê essa pressa toda, quase me atropelou..."

"Vou até o corujal e ainda tenho umas coisas pra terminar."

"Corujal pra quê? Você detesta escrever cartinhas, a tia Gina vive ralhando com você por isso."

"Eu não odeio escrever cartas Rose e se você me conhecesse de verdade saberia disso."

"Hey, não precisa ser grosso, só fiz um comentário..."

"Não fui grosso com você, só respondi sua pergunta."

"Não vai mais ao corujal?"

"To indo."

"Posso ir com você?"

"Não. E sim, to sendo grosso agora."

Al virou as costas e deixou a prima meio boquiaberta com a má atitude que demonstrara.

Rose por sua vez terminou de adentrar e encontro sua prima mais velha Vicky sentada frente à lareira, no salão comunal. Percebendo a carinha murcha da prima ruiva, a loira a chamou.

"Rosie! Vem cá!" – a loira fez um sinal com a mão para que a garota chegasse mais perto.

"Hã? Ah, oi Vicky." – Rose andou meio sem vontade até lá.

"Posso saber o que tá pegando com minha prima ruiva linda? Ta com uma carinha triste..."

"Ah...nem sei viu..." – a menina se jogou na poltrona vazia ao lado da prima.

"Como não sabe?"

É, não sei mesmo. Tem horas que eu acho que nada podia ficar melhor do que já tá, mas em outras....sei lá, parece que nada tá certo."

"Hmmm...por um acaso, tem um menino na jogada? Um certo loirinho sonserino?"

Rose riu de leve e arrancou um sorriso mais aberto de Victorie.

"E um moreno descabelado que não para de me dar patadas de graça, sem mais nem menos."

"Ahhh, entendo. Mas me diz, então você e o Malfoy tão se dando bem, quer dizer, tão se entendendo bem?"
Rose suspirou discretamente.

"Ele beija bem." – ela disse no que pra ela era um verdadeiro ato de coragem.

"É mesmo? Então as coisas estão melhores do que eu imaginava!" – Vicky se empolgou.

"Bom, como eu te disse, quando to com ele é tudo muito bom, a gente conversa, se entende, e eu realmente não me sinto estranha sabe? Mas aí, o Al aparece e ele age de um jeito tão diferente, não parece com ele."

"O Al age como um idiota quando vocês estão sozinhos, sem o Scorp?"

"Com exceção de agorinha, não, a gente não briga e nem discute quando o Scorp não está por perto."

"Então o Al muda quando o Malfoy tá junto de vocês? Hmmm...

"Muda. Muito, fica até parecendo meu pai com aquelas idiotices dele de odiar os Malfoy e dizer que eles são isso e aquilo....mas o que isso tem a ver comigo e o Scorp?"

"Rosie, querida, tem tudo a ver. Você é muito novinha ainda pra perceber essas coisas, mas eu já vi. Rose, acho que o Al fica assim, agindo como idiota, porque ele gosta de você e tem ciúmes do Scorpius. Mas o ciúme dele não é de primo, na verdade Rosie, o Al não gosta do fato de você namorar o Scorp porque ele queria ser seu namorado."

Rose arregalou os olhos para a loira.

"O Al? Gostando de mim? De mim? Da desengonçada e nerd da Rose? Não é assim que ele me chama desde sempre? Porque logo agora isso também?"

"Bom, o porque eu não sei, mas acho que é isso e vi também que você gosta muito do Scorp e portanto, querida, tome muito cuidado pra não magoar o Al, eu sei que você nunca faria isto, mas mesmo assim, não desista do que quer de verdade sem machucar o coração dos outros, ok?"

A menina ruiva assentiu com a cabeça e em troca recebeu um beijo na bochecha.

"Vou indo, amanhã tenho treino cedo, além de uma prova do Slugh a tarde, pra qual eu não li uma linha, ou seja, to perdida! Argh! Boa noite meu bem e não fique assim, tristonha, não gosto de te ver assim...e lembra que se precisar de mim, é só me procurar. Boa noite, durma com os anjinhos!" – Victorie afagou os cabelos vermelhos da Rose e foi em direção às escadas que levavam ao dormitório feminino.


Enquanto andava até o corujal Albus se repreendeu um milhão de vezes por ter sido ignorante com a prima, mas ao mesmo tempo, ao lembrar-se do beijo dela em Scorpius, sentia uma raiva queimar e sacudia a cabeça tentando convencer a si mesmo que, se era assim que Rose queria que as coisas fossem, era assim que elas seriam. Ainda pensou duas vezes antes de soltar uma das corujas da escola, olhou para o lado e viu Stardust, a coruja de Rose, parada, ela parecia observá-lo, mas Al rapidamente se virou e desceu, tomando o caminho de volta ao castelo. Agora era esperar a coisa ferver, afinal, ele não foi nenhum santo ao pedir justo à Hugo que ficasse calado sobre o tal segredo, ele sabia que o primo acabaria contando sobre Rose e Scorpius, Al só não sabia a quem.



Hermione bateu na porta do filho mais novo antes de abri-la e andar até a cama do garoto para acordá-lo. Qual foi sua surpresa ao ver o menino sentando na cama, lendo uma carta, com uma coruja parada na janela, certamente esperando alguma recompensa pelo trabalho árduo da noite anterior.

"Ah, oi mãe, bom dia. Pode dar alguma coisa pra coruja, por favor, ela ta cansada tadinha."
"Bom dia meu amor, claro que posso sim, mas antes, recebendo cartas assim tão cedo?"

"Ah, é do Al, ele tava me prometendo uma carta já tinha um tempo, finalmente aquele preguiçoso cumpriu a promessa!"

"Bom, porque a gente não faz assim, você levanta, toma um banho, seu café da manhã e daí depois, no carro, você pode ler a carta do Al, que tal? Se não vai acabar se atrasando..."

"Aham, tudo bem, ele deve tá falando só besteira mesmo!"

"Agora vamos levantando e indo pro banho, que eu vou ali na cozinha pegar uns bons pedaços de bacon pra essa jovem senhora que se encontra ali na janela nos aguardando." – Hermione achou ter visto a coruja concordar com a cabeça e saiu do quarto rindo da própria maluquice.

Depois de tomarem o café da manhã Hermione e Hugo se acomodaram no carro da mulher e então, com a mãe distraída com o trânsito, Hugo tirou a carta do primo de dentro da mochila e pôs-se a ler. Assustou-se quando leu a parte em que Al contava que a prima estava namorando, mas quando chegou ao pedaço que fazia menção à Scorpius, Hugo que era bem parecido com Hermione, começou a ficar impressionantemente parecido com o pai, especialmente na vermelhidão das orelhas fazendo parecer que sairia fogo por elas a qualquer momento.

Hermione em dado momento olhou o filho pelo retrovisor e preocupou-se ao vê-lo meio alterado.

"Hugo, tá tudo bem aí?"

"Tá sim mãe, é só o Al me enchendo na carta."

"Mas você parece meio enfezado querido, que foi que seu primo disse?"

"Nada não, idiotice, só isso."

"Hmmm...e ele fala alguma coisa da Rose aí? Diz como ela está? Tem um tempinho que sua irmã não me escreve..."

"Ah, eu acho que ela tá muito ocupada pra te escrever mãe, acho que tá fazendo coisas melhores, ou piores, argh."

"Que foi isso Hugo? Porque a cara de nojo?" – Hermione falou ao ver a cara do filho.

"Ela deve ta ocupada estudando mãe, a Rose é a chata dos livros, deve tá mais ocupada fazendo essa chatice..." – Hugo não queria contar a mãe sobre o namoro da irmã, ele sabia que Hermione não recriminaria a menina, e ele não era burro, podia ser criança, mas não era burro. Já tinha percebido uma coisa meio estranha entre sua mãe e o pai de Scorpius, Draco Malfoy.

"Não fale assim da sua irmã querido, e livros não são chatos ok, eu cheguei onde estou hoje muito pelos livros, fique sabendo disso. E agora vamos guardando a carta que a escola está logo ali na frente. Ajeite as coisas, sim."

Hermione parou o carro na frente da escola trouxa que Hugo freqüentaria até o próximo ano, depois, em setembro, seria a vez dela se despedir de Rose e dele em Kings Cross.

"Tchau mãe. Será que o pai podia me buscar hoje? To com saudades..." – ele perguntou inocente.

"Ah querido, não sei..."

"Por favor?"

"Tudo bem, eu mando uma coruja pra ele e peço."

"Pode deixar, eu ligo daqui da escola, papai convenceu o tio George a instalar uma linha telefônica lá na loja, ele disse que isso vai ajudar nos negócios porque todo mundo vai querer ver a única loja do beco com telefone!"

"Seu pai está me saindo um empresário e tanto...tá bom, mas eu ligo antes do fim das aulas pra saber se ele vem, ok? Dá um beijo." – Hugo deu um beijo no rosto de Hermione e desceu rápido do carro.

Ela acenou para ele de dentro carro e arrancou em direção ao Ministério.

Foi só o carro da mãe virar a esquina e Hugo falou com uma professora que estava na porta da escola que precisava usar o telefone. Ele estava com saudades de Ronald, mas não era só por isso que queria vê-lo, precisava contar para o pai sobre Rose, era seu dever como irmão alertar o pai sobre o que estava acontecendo com a menina.

Ela agradeceria depois, ele tinha certeza.


Rose olhava pela janela do dormitório feminino o campo coberto por uma agora fina camada de neve, que ia derretendo aos poucos à medida que o calor do sol aumentava, anunciando o fim do inverno. Tinha acordado mais cedo do que de costume, rolou a noite toda na cama preocupada com o que Vicky havia lhe dito, sobre Al estar gostando dela mais do que como primo e amigo, e ainda tinha Scorpius que ficava a cada dia mais tenso com a audiência e a decisão de quem ficaria com sua guarda.

Estava pronta para descer e tomar seu café da manhã, mas se deteve por uns instantes na janela, e dali só saiu quando Grace Weber, uma de suas colegas de quarto, entrou pela porta esbaforida, procurando por Rose.

"Ai meu Merlim, ainda bem que te achei! Vem correndo!"

"Que foi Gracie? O que ta acontecendo?" – Rose perguntou já aflita.

"Rose, seu pai! Ele tá aqui, quer dizer, lá fora berrando com a Mulher Gorda, não sei quem berra mais!"

"Meu pai? Aqui? Berrando?" – a menina desceu correndo até o salão comunal e teve tempo de notar Albus olhando assustado para o corredor de entrada da torre.

"Eu já disse que preciso entrar aí sua, sua, sua...MULHER GORDA!" – Ron gritava tão alto que do outro lado do retrato podia-se ouvir claramente tudo.

"E eu já te disse, você não pode entrar! Não é mais aluno e, portanto, não tem mais acesso livre à sua casa! Vá falar com a diretora!" – a Mulher Gorda do retrato não ficava atrás nos gritos.

"Como não tenho acesso livre? Você sabe com quem está falando, por acaso?"

"Ronald Weasley, 1991 a 1997, apesar de ter retornado à Hogwarts para seu último ano somente em 1998 depois da reforma completa do castelo após a batalha final da segunda guerra. Preguiçoso, esquentadinho e adorava se agarrar pelos cantos com Lavender Brown, hoje Lavender Thomas. Foi monitor no ano de 1995 e goleiro do time grifinório em 1996. Era amigo de Hermione Granger e Harry Potter, o Eleito. Sim, eu sei quem é você, seu imbecil convencido, acha que não conheço meus alunos? Pois saiba que me lembro exatamente de cada um deles!"

Rose previu que seu pai ia armar uma confusão maior depois da resposta da mulher do retrato e por isso tomou a palavra rapidamente.

"Ei, o que está acontecendo aqui? Será que eu posso passar, por favor?"

"Ah sim, claro minha querida, você pode passar porque, além de aluna e grifinória, é uma menina muito educada! Ao contrário desse ogro a quem chama de pai!" – o retrato então se abriu e Rose rapidamente pulou para fora.

"Ah então ela está aqui!"

"Pai, o que o senhor tá fazendo aqui?"

"Quem faz as perguntas aqui sou eu Rose, vem comigo." – Ron pegou a menina pelo braço e começou a puxá-la pelo corredor afora.

"Pai pára, tá me machucando! Me solta, por favor!" – Ron apertava com muita força o bracinho magro da menina, o que acabou arrancando algumas lágrimas dela.

"O que o senhor está fazendo?" – era Minerva McGonnagal que, sabendo da confusão que se instaurara na entrada de Torre da Grifinória, apressou-se para intervir.

"Com todo respeito Minerva, mas esse é um assunto de família, então, por favor, fique fora disso." – Ronald mal olhou para a diretora.

"Assunto de família ou não senhor Weasley, essa ainda é uma escola e eu sou responsável por ela, bem como pelos seus alunos e o senhor está machucando um deles. E você pode ser mal educado o quanto quiser comigo Ronald, mas não vou tolerar esse tipo de atitude com uma criança, nunca. Solte a menina ou chamo Hagrid para te colocar para fora e não será uma experiência agradável para ambos, tenho certeza."

Ron arregalou os olhos assustado com a atitude da professora e vendo a cara aterrorizada de Rose, olhou para onde segurava a menina e viu o braço da filha vermelho. Largou-a e se afastou um pouco enquanto ela corria para perto de McGonnagal.

"Sim, muito bem. Agora, se quiser ter uma conversa civilizada com Rose, em minha presença, posso ceder meu escritório para isto. Não sem antes comunicar Hermione de sua presença ao castelo, óbvio."

"Obrigada. E não preciso de Hermione aqui. Minha conversa é com Rose." – mais uma vez ele fitou a menina e ela gelou com o olhar frio e estranho que o pai lhe dava, algo que ele nunca tinha feito antes.


Minerva McGonnagal era uma diretora tão competente quanto fora Dumbledore em seus tempos de diretor e provavelmente pelo convívio de anos com ele, a professora tinha também um lado maternal para com seus alunos e, foi graças a essa sensibilidade que ela decidiu contatar Hermione a fim de avisá-la da presença do ex marido na escola. Não falaria da confusão causada por ele na entrada da torre da grifinória, mas deixaria à escolha da mulher ir ou não até o castelo.


Hermione e Draco estavam na sala da castanha e aproveitavam a folga antes do almoço para namorar, já que a preparação da audiência de guarda de Scorpius estava tomando quase todo o tempo deles. Estavam no meio de um beijo preguiçoso quando leves batidinhas na porta os trouxe de volta para o mundo real.

"Er, desculpe incomodar, mas é que tem uma carta esperando pela senhorita Granger aqui fora." – Claire disse com a voz meio envergonhada.

"Então receba a carta e volte depois Claire, estamos muito ocupados!" – Draco gritou do sofá que dividia com Hermione.

"É importante. Acho. É de Hogwarts senhorita Granger e tem o símbolo da diretoria." – a moça fez uma cara feia do outro lado da porta, temendo represália do chefe.

Hermione pulou do abraço de Draco, passando por cima dele e abriu a porta de supetão, fazendo Claire pular de susto.

"Cadê a carta Claire? Me dá aqui!" – a estagiária de Draco se apressou em pegar um pequeno envelope em cima da mesa da secretária da advogada e entregou a ela. – "Obrigado, e pode ficar despreocupada, você fez bem em nos interromper por isso, não fique com medo desse chefe seu, já dizia minha vózinha trouxa 'cão que ladra não morde'!"

Hermione leu a carta, que na verdade era mais um bilhete da diretora Minerva, informando-a da presença do ex marido no castelo. Ela acrescentou que este tinha ido até lá para conversar com Rose, o que era aceitável mesmo sem ele ter avisado previamente, contudo, Minerva também disse à mulher no bilhete que Ronald estava agindo de maneira diversa do usual e achava melhor se ela pudesse estar lá para participar da tal conversa.

"Preciso ir pra Hogwarts! Agora!" – a mulher disparou enquanto pegava a bolsa e o casaco, o que fez Draco pular do sofá.

"Espera aí, o que houve? Alguma coisa séria com a Rose?"

"Não, ela está bem, o problema é que eu não sei até quando. Ronald está lá, disse que foi ter uma conversa com ela, mas eu o conheço, falar nunca foi o ponto forte daquele ali. Minerva disse que acha melhor que eu esteja lá também."

"Tudo bem, vá sim. Eu seguro as coisas por aqui, mas me avise se precisar de ajuda, não quero me meter entre você e o Ronald quando o assuntos são seus filhos, mas sabe que pode contar comigo." – Draco disse afagando os cabelos dela.

"Obrigado meu amor e agradeço sua consideração. Você sabe que faz parte da minha vida, mas algumas coisas eu preciso resolver sozinha." – ela retribuiu o carinho dele com um beijo leve nos lábios.

Em seguida pegou a bolsa, terminou de vestir o casaco e deixou o escritório.

"Posso saber o porquê de Rose estar do lado de fora da sala enquanto eu estou aqui dentro?" – Ron indagou a diretora, impaciente.

"Só vai levar um tempinho Ronald, não se preocupe." – McGonnagal disse sem dar muita atenção ao ruivo nervoso que bufava em seu escritório.

Do lado de fora da sala Rose balançava os pés nervosamente sentada no banquinho de madeira, quando a mãe surgiu da escada de pedra.

"Rose!" – Hermione correu para a menina.

"Mamãe! O pai tá aqui e ele tá muito estranho, ele gritou comigo mãe, apertou meu braço..." – a menina disse chorosa enquanto abraçava Hermione.

"Querida ele te machucou? Me diz, ele te machucou Rose, porque se ele fez isso, ah eu acabo com aquele idiota!" – ela procurava qualquer sinal visível de agressão na menina.

"Não, não mamãe, ele só tá muito bravo, como eu nunca vi antes e isso tá me assustando..."

"Meu bem, me diz, o que ele veio fazer aqui? Minerva disse que ele veio conversar com você. O que aconteceu?"

Rose deu à mãe uma carinha suspeita.

"Rose...."

"Tudo bem, não quero que você comece a surtar ou algo do tipo, mas....acho que estou meio que namorando."

"Não sei por que, mas isso não me surpreende. É o Scorpius?"

Rose balançou a cabeça.

"Então querida, acho que talvez seja isto que seu pai quer conversar com você. Ele deve ter ficado sabendo e achou melhor vir até aqui."

"Mas como ele ficou sabendo mãe? Se nem e o Scorp contamos a ninguém?"

"Isso é verdade, nem Draco sabe disso...mas...." – ele se lembrou da carta que Hugo recebera e começou a desconfiar que aquilo tudo tenha tido, talvez, o dedinho de um certo Potter enciumado, porém, resolveu não tirar conclusões precipitadas e acabar magoando a filha.

"Mas o quê, mãe?"

"Nada, meu bem, nada. Vem, vamos entrar. Se eu bem conheço o Ron, ele deve estar começando a irritar a McGonnagal."

Bateu na porta de leve ao que ouviu o pedido para entrar na voz da diretora. Adentraram e Ronald não se fez de rogado e já foi logo esbravejando.

"O que você está fazendo aqui Hermione?"

"Minerva me chamou Ron." – ela disse calmamente, pois sabia que de nada adiantava retribuir a agressividade do ruivo. – "Boa tarde Minerva."

"Boa tarde Hermione. E chamei-a sim, Weasley, você está agindo de maneira imprópria e ela é a mãe da menina, nada mais natural a presença dela aqui." – McGonnagal falou em sua altivez. – "Bom, vou deixá-los a sós agora que Hermione chegou. Sejam civilizados." – a professora saiu do escritório deixando-os num silêncio constrangedor.

Foi Rose quem quebrou o clima.

"Então papai, o senhor queria conversar comigo?" – a menina mostrava segurança na vozinha fina, o que deixou a mãe orgulhosa.

"Você tinha que vir encher a paciência não é Hermione?"

"Ronald se você não percebeu, sua filha falou com você. Eu estou aqui só pra observar. Se você veio para conversar com a Rose, converse. Ela está esperando." – a mulher disse se sentando em um pequeno sofá.

Ron engoliu em seco as palavras da ex, mas conseguiu continuar.

"Rose, eu vou te fazer uma pergunta e quero, quero não, eu EXIJO que você me responda honestamente." – ele ainda parecia bravo, mas agora sua voz era menos assustadora para Rose.

Ela consentiu e a mãe observava do sofá.

"Você anda por aí de namorinho com o filho do Malfoy, Rose?"

"Nós não estamos namorando pai, pelo menos a gente não vê assim...mas eu gosto dele e ele gosta de mim."

"Rose, você tem onze anos! O que diabos você sabe sobre isso? Ainda mais sendo ele filho de que é! Rose, você não pode fazer isso comigo!" – ele andou até a menina e a pegou pelos ombros, sacudindo-a.

Hermione resolveu que aquilo ela não ia permitir. Era a primeira vez que ela o vira ser agressivo com um dos filhos e ele precisava parar antes que perdesse a noção.

"Ronald, pare já com isso!"

"Pai, você tá machucando meu braço!"

Ele parou e olhou da filha para a ex mulher e o que viu o assustou. Elas o fitavam incrédulas e ele então soltou a menina e andou na direção contrária das duas.

"Ron, é muito sério isso que está acontecendo."

"Ah, pelo menos nisso então você concorda comigo!" – o homem estava de costas para elas.

"Não estou falando da Rose e do Scorpius, Ron. Estou falando de você e suas atitudes egoístas e agressivas. Você nunca foi de levar desaforo pra casa, mas também não te reconheço desse jeito."

"Essa não é a hora pra discutirmos minhas atitudes Hermione. E certamente não vim aqui pra ouvir suas lições de moral. Se é que você tem alguma." – ele agora encarava Hermione, enquanto Rose se encolhera perto da mãe.

"Está vendo? É disso que estou falando. Você está amargurado, grosseiro, inconveniente, mal educado, em nada lembra o cara doce e corajoso que conheci."

"Vai começar com a falsidade Hermione? Sabe, você nunca soube mentir, é uma péssima atriz."

"Quando você usou aquela porcaria de horcrux no pescoço quando tínhamos 17 anos você teve uma desculpa pra ser tão idiota e imaturo como foi, mas agora não. Você é um homem feito, Ron. Construiu uma vida comigo, tem dois filhos lindos que te amam mais que tudo nesse mundo, sua família te venera, seus amigos só querem o seu bem e sua felicidade, agora me diz, por que todo esse ódio agora? Que desculpa você tem agora Ron?" – Hermione apertou o abraço em Rose que, ouvia atentamente a mãe.

Ela, o irmão e os primos não sabiam muito bem do que tinha acontecido com os pais nos meses que antecederam a guerra, mas ouvindo tudo que Hermione dizia ela sabia que tinha sido difícil e se a mãe achava esta situação mais complicada do que as que ocorreram no ano da guerra, então realmente era pior.

"Aquilo foi diferente! E você sabe muito bem o porquê disso tudo. Você é uma traidora Hermione, uma traidora suja. Aquela família causou muito mal, dor. Já se esqueceu da sessão de tortura que a titia do seu amorzinho lhe proporcionou naquela noite na mansão Malfoy? Lembra da marca que ela deixou em você? E lembra também que aquele merdinha não fez absolutamente nada pra impedir isto? Esqueceu que o covarde só fez assistir? Acha que meu irmão morreu em vão? E Tonks, Lupin, Moody, até seu precioso elfo doméstico Dobby? E todos os outros Hermione, eles morreram em vão também? Você não presta mesmo, se vendendo por tão pouco!" – Ronald falava e andava na direção da mulher, ficando a alguns centímetros dela e da filha.

Hermione perdeu a paciência e sem pensar marcou o rosto dele com um sonoro tapa. Arrependeu-se logo depois, Rose começou a chorar e ela também tinha lágrimas nos olhos.

"Ron, desculpa, por favor, me perdoa! Eu não podia, eu não devia ter feito isso! Meu Deus! Olha onde nós chegamos Ron! Não, isso não está acontecendo! Me perdoa!" – ela foi até ele que, depois do tapa afastou-se das duas, dando-lhes as costas.

Ron se virou e Hermione pôde ver que ele também estava com os olhos marejados, mas segurava as lágrimas. Ele quase nunca chorava, ela mesma só o vira fazer isso poucas vezes. Hermione fez que tocaria novamente o rosto dele, mas dessa vez delicadamente, mas ele segurou a mão dela e apertou forte o pulso da mulher. Ela se assustou, mas não arriscaria reagir naquele momento. Aos poucos ele foi afrouxando o aperto, enquanto a mirava com os olhos vermelhos e marejados, até soltar de vez o pulso dela.

"Me perdoa..." – ela tentou novamente, baixinho.

"Nossa conversa não terminou Rose. Quero que passe o final de semana comigo, na casa da sua avó. Farei um pedido formal à McGonnagal." – o homem falou à menina assustada do canto da sala. – "E você" – ele falou à Hermione – "por favor, não tente impedir isso."

Ela só balançou a cabeça concordando com ele, que saiu rapidamente do gabinete da diretora. Rose correu para perto da mãe, abraçando –a.

"Rose, por favor, nunca repita isso que viu aqui hoje. Eu perdi a calma e isso é inadmissível, nunca agrida alguém, verbalmente e principalmente fisicamente. Isso não demonstra força e muito menos inteligência, pelo contrário, só demonstra ignorância e baixeza."

"Mamãe...é verdade tudo que ele disse? A senhora foi...torturada? Na época da guerra? Pela tia do Sr. Malfoy?" – ela enxugava as lágrimas dos olhos enquanto questionava Hermione.

"Nós sempre tentamos poupar vocês de todas as coisas ruins que aconteceram conosco naquele tempo, querida. Mas acho que nada fica guardado pra sempre...sim, tudo isso que seu pai disse aconteceu mesmo. Eu fui torturada na mansão Malfoy, pela tia de Draco, Bellatrix Lestrange e sim, ele não fez nada. Só que os tempos eram outros e Bellatrix era uma mulher muito ruim e Draco era um menino, como nós éramos. Não havia nada que ele pudesse ter feito, sem ser morto ou perder os pais, ou ambos. Porém Rose, a vida dá uma segunda chance a todos e Draco soube aproveitar a dele, assim como sua família."

"Acredito em você mamãe."

"Bem, faremos o seguinte. Você vai passar o fim de semana com seu pai, na Toca. Mas quero que me procure se qualquer coisa der errado, ok? Confio no Ron, mas nunca se sabe, não é? Bom, você vai ficar bem agora querida? Eu tenho que voltar ao Ministério, saí correndo de lá..."

"Tudo bem mamãe, eu aviso sim e não se preocupe, eu vou ficar legal. Mas, mãe...a senhora sabe como o pai ficou sabendo de mim e do Scorp?"

"Bem, Rose...eu tenho uma suspeita, mas como disse, é só um palpite, portanto, não faça nada precipitadamente. Seu irmão recebeu uma carta essa semana. Do Al."

"Do Al? Mas ele não escreve nem pra tia Gina..." – a menina ficou pensativa e de repente, seu rosto se iluminou. – "A não ser que...ah não! Não pode ser! O AL fez isso? Ele contou pro Hugo, sabendo que aquele pirralho não ia agüentar e contar pro papai! Não consigo acreditar nisso mãe! Por que o Al faria isso?"

"Meu bem, como eu disse, é só uma suspeita e, portanto, sugiro que você converse com ele, pergunte se ele tocou no assunto na carta e por que fez isso. Mas seja educada, não brigue com ele, tudo bem?"

"Pode deixar...eu já sei como descobrir se foi ele mesmo." – Rose se lembrou da conversa que tivera com Vicky e do conselho que a prima lhe dera.

Hermione se despediu da menina e teve uma breve conversa com Minerva ao sair do gabinete da diretora, pediu a ela que olhasse por Rose e se possível, lhe comunicasse qualquer incidente.

Rose entrou no salão comunal da Grifinória calmamente, parou por uns instantes, avistou Albus em um canto sentado em uma pequena mesa, sozinho. Ele por sua vez também viu a prima e lhe lançou um sorriso meio desanimado, seguido de um suspiro. A menina andou até ele e sem dizer nada, puxou uma cadeira e sentou-se.

"Então, tá encrencada?" – Albus quebrou o silêncio, um tanto desconcertado.

"Não sei ainda. Meu pai tá bravo comigo. Você sabe por que Al?"

"Não. Não faço idéia Rosie." – ele não conseguia encarar a prima.

"Alguém contou pra ele que eu estou namorando o Scorp."

"Você? Namorando o Scorpius? Isso é verdade Rose?"

"Claro Al, inclusive ele pediu minha mão em casamento ao meu pai, agorinha."- A menina sorriu cinicamente para o primo.

"Hmm..ironia né? E você...por um acaso...você sabe quem contou pro seu pai, quer dizer, quem falou isso pro tio?"

"Sei sim."

Al congelou na cadeira. Ele alinhou sua postura, parecendo estar extremamente desconfortável naquela posição. Tinha medo do que iria ouvir de Rose a seguir.

"Foi o Hugo. Aquele linguarudo."

"Ahhhh, ainda bem, quer dizer, menos mal, menos mal." – Albus se sentiu mais leve.

"Menos mal por quê? O que poderia ser pior que o Hugo me encrencar desse jeito?"

"Bom, acho que nada né prima? Rsrs." – ele riu, ainda nervoso, porém mais aliviado.

"É...acho que tem razão. Só que ele ficou sabendo disso por outra pessoa, afinal, ele não freqüenta Hogwarts ainda. Como saberia o que se passa aqui?"

"É, como? Tem alguma idéia de quem tenha falado com ele sobre essa mentira?"

"Não...pelo menos não tenho certeza. Mas terei, com um tempinho pra descobrir." – Rose se levantou da cadeira e, antes de se virar e subir para o dormitório feminino, disse mais algumas palavras. – "E quem disse que é uma mentira?" – virou as costas deixando Albus não só apavorado com a possibilidade de ela descobrir que fora ele quem contara à Hugo, como também furioso pela confirmação do namorico entre ela e Scorpius.



Draco foi até a sala de Hermione assim que Claire o avisou que ela havia voltado de Hogwarts. Encontrou-a recostada na cadeira de couro, junto à mesa. Seus olhos estavam fechados e ele achou que ela estivesse dormindo, já que não se moveu quando ele entrou no recinto. Trancou a porta, andou até ela e depositou um leve beijo nos lábios. Hermione por sua vez somente abriu os olhos e ele pode ver que estavam vermelhos.

"Você andou chorando?" – ele questionou a mulher enquanto apoiava-se na mesa, de frente para ela que ainda estava recostada na cadeira.

"Eu fiz uma besteira Draco."

"Quer me contar?"

"Eu perdi a calma. Eu me descontrolei. Isso não pode acontecer."

"Que foi que você fez?"

"Eu estapeei o Ron. Na frente da Rose...meu Deus, isso é desprezível!"

"Calma...todos nós temos um limite querida, e se bem te conheço, ele deve ter atingido o seu pra você fazer isso. Não é nenhum crime perder a calma uma vez ou outra..."

"Draco, a Rose viu tudo. Isso não é certo, os meus problemas e do Ron não devem afetar nossos filhos! E que tipo de mãe eu sou dando esse exemplo pra minha filha?"

"Hermione, a Rose é uma menina inteligente, ela sabe que isto é errado e sabe também que muito provavelmente o pai mereceu o tapa. Como eu mereci no terceiro ano, lembra? Aposto que não ficou se remoendo toda depois..."

"É diferente. Ambos mereceram, com a diferença que no seu eu tinha 13 anos e hoje sou uma mulher madura, mãe de dois filhos e advogada."

"Olha pra mim."

"Não...Draco, eu estou falando muito sério."

"Olha pra mim, é sério também."

Hermione se aprumou na cadeira e olhou para os olhos do noivo.

"A gente aprende a viver, vivendo. E isso inclui levar tombos, porradas, tapas. E não só no sentido figurado, não. No sentido literal também! Tomar um bom tapa pode nos trazer de volta a realidade, nos fazer acordar. Não estou dizendo que tudo pode ser resolvido na violência, claro que não, isto é ignorância, mas às vezes precisamos disso pra nos sentirmos vivos outra vez, sabe? Tomar mais um fôlego pra continuar vivendo. E acho que seja isto que o Ronald esteja precisando, ser acordado, tomar mais um fôlego. Ele não tem mais esperanças de te ter de volta e isso o assusta mais do que tudo, meu amor. Só que viver nesse constante estado de pavor não está fazendo bem nenhum a ele e talvez esse tapa que você deu no rosto, talvez ele tenha sido na consciência também."

A mulher ouviu atentamente tudo que o homem dizia e quando ele terminou, ela se levantou da cadeira e passou as mãos pelos cabelos dele aproximando os corpos enquanto fazia isto. Ela passou os braços pelos ombros dele, que a segurou em um abraço pela cintura.

"Quando foi que você ficou assim hein?"

"O quê? Lindo? Ah, desde que nasci, claro."

"Modesto..."

"Obrigado!" – ele abriu um sorriso que a fez sorrir de volta.

"Estou falando dessa consciência toda. Andou lendo alguns tratados de psicologia, por acaso?"

"Não...acho que foi uma porrada que eu tomei aos 13 anos que só há algum tempo começou a surtir efeito." – Draco brincou com os lábios dela até realmente beijá-los com toda vontade.

Apesar do protesto de Draco, os beijos não duraram muito, Hermione o convenceu que isso deveria ficar para depois, já que tinham muita coisa ainda para discutir. A data da audiência de guarda estava se aproximando mais e eles não podiam se distrair agora.

Estavam em uma discussão sobre que argumentos usariam contar uma possível acusação de traição cometida por Draco, quando Claire bateu à porta.

"Com licença."

"Pode entrar Claire, a porta está aberta." – Hermione disse amigavelmente.

"Sr. Malfoy, tem alguém esperando pelo senhor na sua sala."

"Mas eu achei que você tinha dito que meus compromissos de hoje haviam terminado, Claire."

"Sim, eu disse, mas é que essa pessoa chegou sem marcar hora."

"Ora, então diga a ela que marque um horário e retorne. Estou ocupado aqui, estamos discutindo sobre a audiência de guarda de Scorpius."

"Eu sei senhor, porém, acho que a pessoa não vai querer marcar um horário."

"Mas que droga Claire, quem é afinal de contas? O Ministro?"

"Não. Sua ex esposa."

Draco ficou sem reação por uns instantes, mas logo recobrou a atenção.

"O que ela quer agora?" – ele se virou para Hermione.

"Não faço idéia. Vá lá e veja o que é."

"Vem comigo?"

"Não. A não ser que ela tenha vindo acompanhada do advogado. Ele está com ela Claire?" – Hermione se dirigiu à estagiária de Draco.

"Não senhorita, ela está sozinha."

"Hmm, ok. Vá sozinho. Não será uma conversa oficial, talvez ela esteja querendo uma trégua, vale a pena tentar, não acha?"

"Trégua? Astória? Não mesmo! Ela consegue ser mais teimosa do que eu, duvido que queira baixar a guarda." – Draco disse com incredulidade.

"Quem sabe não é Draco? Todo mundo pode mudar a qualquer momento. E se ela resolver fazer isso agora será melhor para todos."

"Tudo bem. Eu vou. Me espere, ok? Quero que fique sabendo do que conversarmos lá."

Hermione balançou a cabeça positivamente, dando a ele um sorriso de incentivo. Draco saiu pela porta e em poucos passos já estava à frente da sua. Abriu-a com cuidado, viu a mulher morena sentada em uma das cadeiras de frente para sua mesa e fechou a porta. Ela não se virou.

"A que devo a honra da visita, Srta. Greengrass?"

"Greengrass. Há quanto tempo não escuto esse nome. Acostumei-me tanto com Malfoy que acho estranho ouvir meu próprio nome de batismo."

"É isso que acontece quando se casa com um homem de família nobre."

"Nobre, Draco? Você realmente acha isso? Por favor, não me entenda mal, não vim aqui para brigar e nem insultar sua família que sempre me acolheu tão maravilhosamente bem. Só estou dizendo que essa nobreza toda nunca foi realmente colocada em prática pelos Malfoy até depois do fim da segunda guerra bruxa."

"Não posso discordar de você. Nós realmente só entendemos o significado de nobreza depois de sofrermos e provocarmos muito sofrimento. E se não veio até aqui para me desacatar, pra quê veio então?"

"Quero te fazer um pedido."

"Não, eu não volto para você." – ele sorriu maliciosamente. Tendia ainda a querer ferir quem lhe ferira tanto.

"Isto é ótimo, porque eu não te quero de volta. Nosso casamento só não foi um erro completo por causa de Scorpius, Draco. Aquele garoto é a minha vida e hoje eu entendo isso. Nunca fui a melhor das mães, mas nunca é tarde pra me redimir. Gostaria que me permitisse ver Scorp na escola."

"Você não tem que me pedir permissão para isso Astória."

"Sei que não, mas eu quero e prefiro assim."

"Isso faz parte de algum planinho sujo seu? Por que já vou avisando, Scorpius é um menino muito esperto, ele não cai nesses joguinhos de chantagem."

"Eu só quero ver o meu filho, Draco."

"Tudo bem. Quer por escrito o consentimento? Ou minha palavra ainda tem alguma valia?"

"Obrigado. Irei nesse final de semana, não quero atrapalhá-lo nas aulas." – dito isto, Astória se levantou elegantemente e se despediu de Draco. – "Até logo. Obrigado, mais uma vez." – virou as costas e deixou-o intrigado tanto pela gentileza, quanto pelo pedido que havia feito.

Ainda pensando na estranha atitude de Astória, Draco retornou à sala de Hermione, que o aguardava ainda no sofá. Ela se assustou quando ele adentrou o escritório minutos depois e com uma cara pensativa.

"Já?"

"Sim."

"E então?"

"Foi a conversa mais estranha que tive até hoje com ela."

"Como assim?"

"Bom, ela não me insultou, me disse que não me quer de volta, que quer se redimir dos erros cometidos com Scorp e me pediu permissão para vê-lo na escola."

"Draco, isso é um bom sinal. Ela está baixando a guarda!"

"Será Hermione? Será mesmo? Tudo bem que ela nunca foi falsa ou dissimulada, na verdade, era até sincera demais por vezes. Mas daí vir com esse papo de querer mudar, de não me querer de volta, a poucos dias da audiência...isso está estranho demais."

"Hmm...ela tem todo o direito de querer mudar, e se for antes da decisão do juiz, melhor ainda. E você está um tanto incomodado pelo fato dela não te querer mais...incomodado até demais."

"Ciúmes? Sabia que isso é patético, mas em você fica lindo?"

"Nossa, se foi um elogio, tenho que dizer que você precisa praticar."

"Desculpe, foi sim um elogio. É só que eu não consigo acreditar nessa mudança repentina da Astória."

"Talvez não tenha sido repentina, Draco. Talvez ela já venha sentindo isso há algum tempo e só resolveu colocar em prática agora."

"Porque você tem essa tendência a ver sempre o lado bom das coisas e das pessoas?"

"Porque é assim que tem que ser, meu amor, fé não se resume a acreditar em uma religião e um deus. É mais que isso, é levar em conta a possibilidade de tudo dar certo, acima da possibilidade de tudo dar errado. Simples assim." – ela deu a ele um sorriso sincero.

"Você é irritantemente perfeita, sabia?"

"Ah, agora sim um elogio à minha altura!"

Se arriscando um pouco os dois trocaram um doce beijo, curto, porém afável e carinhoso, antes de continuarem o trabalho que ainda tinham pela frente.



Na manhã seguinte Rose desceu para o desjejum e antes de chegar ao salão principal encontrou-se com Scorpius. O menino ficara sabendo do que tinha acontecido no dia anterior, que o pai de Rose havia ido até a escola e armado um prelúdio de escândalo, apartado pela diretora. Ele queria saber como ela estava, já que ele imaginava o motivo da presença de Ron no castelo.

"Tudo bem Rose?"

"Bom, ainda não sei Scorp. Meu pai esteve aqui ontem e deu um chilique, como você já deve saber."

"Na verdade sei sim. Sabe como é, as paredes tem ouvidos nesse castelo aqui, literalmente." – ele falou apontando para um dos quadros que se mexiam e tentavam ouvir as conversas dos alunos que iam chegando para o café da manhã.

Rose riu e continuou a conversa.

"Pois é, acontece que minha mãe apareceu aqui também e a coisa esquentou. Eles brigaram, foi feia a briga e acho que meu pai saiu daqui mais bravo do que chegou."

"Nossa, sinto muito por isso...odiava as brigas dos meus pais, eram sempre tão loucas...minha mãe gritava enquanto meu pai falava o mais baixo possível, o que deixava ela doida e a fazia gritar mais ainda. Lembro de dormir algumas vezes no quarto dos meus avós porque o quarto deles era perto do meu e eu acabava ouvindo tudo e não conseguia dormir."

"Sinto muito por você também Scorp, não vejo porque eles simplesmente não conseguem se entender, esses adultos." – a menina torcia as mãozinhas rentes à saia do uniforme.

"Bom, e afinal de contas, porque seu pai veio até aqui?" – ele achava que já sabia a resposta, mas queria ouvir a confirmação dela.

"Ele veio por causa da gente. Alguém contou pro Hugo que estamos, er, namorando. E meu irmão de língua grande contou pro papai, que ficou furioso por conta daquela rixa idiota que ele tem com o seu pai."

"E acho que o fato da sua mãe estar com meu pai não facilita muito não é? E essa história que nós estamos namorando..."

"É, não ajuda. E a história...pois é. Que história hein."

"Então." – Scorpius queria perguntar a ela se estavam ou não namorando, afinal, mas a timidez estava falando mais forte.

"Scorp...nós estamos namorando?" – Rose se adiantou e mostrou porque as meninas sempre amadurecem mais cedo do que os meninos.

"Eu não sei." – Péssima resposta Scorpius, péssima! Ele pensou.

"Ah. Tudo bem então." – a menina tinha um tom de desapontamento na voz.

"Você quer?"

"O quê?"

"Namorar comigo, oras."

"Isso é um pedido?"

O menino respirou fundo, tomou coragem e finalmente disse a coisa certa.

"Sim. É um pedido. Rose, você aceita ser minha namorada?" – ele sorriu timidamente.

"Bom, já que você perguntou...eu aceito." – ela também tentava esconder a timidez.

"Legal. E agora, o que a gente faz?"

"Não sei...eu nunca namorei antes."

"Hmmm, acho que por enquanto a gente podia tomar café da manhã né." – ouviu-se um barulho engraçado vindo do estômago vazio do menino, o que arrancou risos de ambos.

Foram juntos o restante do caminho até o salão principal e se separam quando entraram nele. Rose foi para a mesa da Grifinória se juntar aos primos e Scorpius foi para a mesa da Sonserina, onde uma carta já o aguardava.

Rose sentou-se ao lado de Albus, como sempre fazia, mas hoje ela notou que o primo estava mais calado do que o normal. Talvez as suspeitas da mãe estivessem certas e tinha sido mesmo Al quem contou a Hugo sobre ela e o sonserino. Preferiu não pensar nisto naquele momento, estava com fome e feliz pelo que tinha acabado de acontecer. Ela tinha um namorado. Só não se animava muito com a possibilidade de passar um fim de semana inteiro com o pai, bravo com ela.

Enquanto Rose tomava seu café na mesa oposta, Scorpius abria a carta que um de seus amigos sonserinos recebera por ele na hora do correio. Abriu-a com cuidado e se surpreendeu ao ver que a caligrafia ali escrita não era de seu pai, como ele imaginara que fosse.

"Querido Scorp,como vai?

Sei que não te escrevo muito, mas quero mudar isto. Além de outras coisas na nossa relação, meu amor. Não vou me delongar nesta carta, ela chega até você para te avisar que farei uma visita esse fim de semana ao castelo, para te ver. Quero conversar com você, de mãe para filho. Sei que é um menino de bom coração e por isso me receberá de braços abertos. Não vejo a hora de te ver, estou com muitas saudades.

Um beijo carinhoso,

Mamãe."


Ele fez uma cara bem parecida como a que o pai fizera quando Astória teve com ele na tarde anterior. Desconfiava por um segundo das intenções da mãe, mas não podia esperar o pior dela, ele confiava no amor que ela lhe tinha e ela nunca fora de mentir e dissimular, portanto, ele só podia esperar boas coisas dessa visita. Decidiu que escutaria o que ela tinha a lhe dizer e alegrou-se pela chance de vê-la novamente, depois de tanto tempo. Continuou a tomar seu café e sentiu um calorzinho no peito ao se lembrar que sua primeira aula era de Herbologia, junto com a Grifinória, o que significava ficar mais tempo perto da sua agora namorada, Rose.

O sábado começou com pouca neve. A que já havia caído estava dando sinais de que começaria a derreter de vez logo, enquanto uma novinha caía de leve, sem muita pretensão.

Rose descera para tomar seu café da manhã bem cedo, pois sabia que Ron viria e não pretendia piorar o mau-humor recorrente dele. Scorpius também levantou cedo naquele sábado, mas não era para esperar a mãe que viria visitá-lo. Espantou o sono só para poder ver Rose, antes que o pai dela chegasse e a levasse para passar o fim de semana fora do castelo. Chegou ao salão principal praticamente vazio e como previra ela estava lá, sentada sozinha na mesa da Grifinória. Olhou para a mesa da Sonserina, voltou os olhos para a mesa da menina e tomou o caminho de lá.

"Bom dia." – O menino disse timidamente.

"Ah, oi! Bom dia!" – Rose se virou para ele. – "Já tomou seu café da manhã?"

"Er, ainda não. Mas vou lá, acho que tenho que ir né..."

"Ah...bem, se você quiser...pode sentar aqui. A não ser que se sinta estranho, claro, um sonserino comendo na mesa da Grifinória..."

Scorpius não pensou duas vezes e surpreendendo Rose, sentou ao lado dela na mesa.

"Achei que com a gente não tinha dessas coisas de 'sonserinos', 'grifinórios'..."

"Claro que não tem Scorp. É só que...são muitos anos de rixa. Uma rixa boba, mas...de vez em quando coloca a gente em uns apuros bobos também."

"Bom, se você quer saber, eu to pouco me importando pra essa rixa idiota e esses apuros mais idiotas ainda. E agora...o que tem pra comer?" – ele sorriu para a menina e vislumbrou a mesa farta à sua frente.

Os dois ficaram ali por algum tempo, conversando, saboreando algumas delícias, até que Rose, que estava de frente para a porta do salão principal, perdeu o sorriso aberto que ostentava após Scorpius lhe contar uma situação engraçada ocorrida nas masmorras e encarou a saída. O menino logo percebeu e se virou para ver qual era o motivo dela ter ficado tão séria de repente. Engoliu seco ao avistar um ruivo alto, forte e com cara de poucos amigos parado na soleira da porta. Rose se aprumou e falou baixinho.

"Scorp. Relaxa. Ele não veio te matar." – ela deu pequenas risadas ao ver o menino aterrorizado. – "Pai!" – Rose acenou para Ronald que prontamente se colocou a caminhar em direção a eles.

"Rosie, eu acho que ele não vai gostar de me ver aqui..."

"E você vai fugir agora é Malfoy?" – ela riu novamente, o que deixou Scorp mais confiante.

"Bom dia Rose. Já está tudo pronto pra irmos?" – Ron estava parado bem ao lado de Scorpius.

"Bom dia papai. Está sim, mas antes...bom, não sei se o senhor lembra do Scorpius." – ela acenou com a cabeça na direção do menino loiro.

"Scorpius Malfoy. Me lembro sim. Como vai rapazinho? Aprontando muito?" – o sorriso dele assustava o pequeno Malfoy.

"Vou bem senhor. E não, eu realmente prefiro estudar a ficar por aí arrumando confusão...acho que nisso eu não saí nem um pouco o meu pai...se bem que a Srta. Granger também gosta muito de ler e aprontava muito, não é senhor? Pelo menos foi o que meu pai me contou..." – se tinha uma coisa que Scorpius tinha herdado do pai, com certeza, essa coisa era a habilidade de provocar.

"Aposto que seu pai conhece muito bem a Srta. Granger, até mais do que eu. Afinal, presenciar a tortura de uma pessoa pode ser bem instrutivo para se conhecer o outro."

"Tortura?" – Scorpius arregalou os olhos e se levantou rapidamente da mesa.

"Scorp, eu tenho que ir agora e acho que você também, já que a mãe chega mais tarde, não é?" – Rose ficara nervosa com o pseudo-embate entre o pai e o menino e mudou rapidamente de assunto. Não queria que Scorpius soubesse ainda do que aconteceu com sua mãe no passado e o que o pai dele tinha a ver com tudo isso.

Rose então se levantou também e despediu-se rapidamente do menino, que ficou olhando ela e o pai saindo do salão principal. A menina pegou suas coisas na Torre e desceu o caminho nevado até Hogsmeade, junto do pai, onde ele os aparataria próximo à Toca. Durante todo o caminho Rose tentou conversar com o pai, mas ele só lhe dava respostas monossilábicas, até que por fim ela desistiu meio frustrada.

Chegaram à Toca e logo que adentraram Rose correu para abraçar os avós e o tio Charlie que passava o resto das férias lá também. Depois se sentou na grande mesa da cozinha dos Wealeys enquanto o pai levava suas coisas para cima. Quando ele voltou Rose tentou novamente conversar.

"Pai, a gente vai fazer o quê esse fim de semana? Eu tava pensando que o senhor podia me ajudar com umas lições de vôo...não levo muito jeito, sabe." – a menina falou despretensiosamente.

"Sim, mas fica pra mais tarde. Eu tenho que passar na loja, ver umas coisas do restaurante que estamos comprando. Volto depois do almoço, aí conversaremos." – Ronald foi seco com a filha.

"Ah...tudo bem." – ela tornou a se frustrar.

"Ron, porque não almoça aqui com a Rose? Posso fazer o seu favorito também..." – Molly Weasley compadeceu-se da carinha triste da neta.

"Obrigado mãe, mas realmente não posso. Como alguma coisa no restaurante, não se preocupe. E a Rose não vai sentir a minha falta, tenho certeza. Já se acostumou a ficar sem o pai, não é querida?"

Ela nada respondeu. Somente se levantou e subiu as escadas. Molly, Arthur e Charlie se entreolharam enquanto Ron saia pela porta depois de uma breve despedida.


Scorpius ainda maquinava na cabeça o que ouvira do pai de Rose, enquanto andava para fora do salão principal quando esse pensamento voou. Ouviu a voz do velho Filch chamando-o.

"Ô garoto! Ô Malfoy! Arre...depois esses meninos me chamam de velho...ô menino!"

Scorpius se virou para o homem.

"Sim? Me chamou, senhor?"

Filch se inflou todo ao ser chamado de senhor.

"Arre, você é mesmo bem diferente do seu pai não é pirralho? Tsc, a diretora quer te ver no escritório dela. Ande depressa que ela já está lhe esperando. A senha é chiclete de baba."

"Ah, ok. Obrigado." – Scorp passou pelo já bem envelhecido zelador do castelo e fez uma reverência com a cabeça.

"É...quem diria, um Malfoy educado!" – o homem saiu arrastando a perna, resmungando com alguns alunos que conversavam alto nas portas do salão.

Scorp subiu lentamente até o gabinete da diretora, pois, sabia exatamente o que lhe esperava e, ele não estava lá muito animado para isto. Chegou à estátua que dava acesso à escadaria e disse senha. Subiu as escadarias e bateu de leve na porta.

"Entre." – a voz da diretora atravessou a madeira.

Ele então entrou vagarosamente, ainda com certa relutância. Viu a mãe, muito bem vestida como sempre, sentada na cadeira de frente para a mesa de Minerva.

"Olá Scorpius, como combinado previamente, sua mãe veio passar o dia com você. Estava explicando a ela que vocês estão autorizados a sair dos terrenos da escola, contudo estarão restritos à Hogsmeade."

O menino achou que a mãe iria chiar com todas as recomendações da diretora, mas ela somente assentiu com a cabeça e sorriu para o filho.

"Bom, obrigado pelos avisos diretora, mas será que agora posso dar um abraço no meu filho? Estou com saudades do meu menino..." – Astória se levantou da cadeira que estava.

"Claro srta. Greengrass, quem sou eu para impedir isto! Podem ir, divirtam-se, hoje amanheceu um lindo dia, aproveitem."

"Obrigado." – a morena andou até o filho e parou na frente dele. Scorpius não sabia muito bem como agir, afinal, a mãe nunca foi muito de demonstrações públicas de afeto. Mesmo assim, falou com ela.

"Oi mãe. Tudo bem?"

"Tudo ótimo querido. E com você?"

"Ok."

Astória percebeu que o menino estava um pouco desconfortável com aquela situação e então resolveu começar a agir. Andou até a escadaria e começou a descê-la, sendo seguida pelo filho. Ao chegarem ao corredor que dava acesso ao gabinete da diretora, ela indagou.

"Me diga, o que há de bom para se fazer aqui? No meu tempo, antes da guerra chegar ao castelo, nós gostávamos de caminhar até as bordas da Floresta e ficávamos tentando ouvir os sons estranhos que diziam vir de lá..."

"Hmmm...a gente ainda faz isso, mas nunca ouvimos nada...nem sabemos mesmo se tem ainda alguma coisa lá..."

"Ah, mas tem sim! Eu já ouvi umas histórias que me arrepiam até hoje..."

"O vô e a vó já entraram lá, na época da guerra, quando ela chegou ao castelo e ele acabou destruído."

"Como você sabe disso?" – Astória ficou surpresa do filho saber daquela informação, já que nem Draco, nem ela e muito menos os ex-sogros haviam contado à ele.

"Promete que não vai me xingar?"

"E por que eu te xingaria, meu filho?"

"É que eu ouvi os dois conversando uma vez, no escritório, e sem querer ouvi pela fresta da porta eles falando disso, de uma vez que eles entraram na floresta..."

"Sem querer, Scorp?"

"É..." – menino se encabulou.

"Bom, se o que você ouviu é verdade, eu não sei querido, há muita coisa que aconteceu naquele tempo que sinceramente não vale a pena se lembrar mais."

Sem perceber os dois foram andando até chegarem às portas principais do castelo.

"Então, vamos dar um passeio em Hogsmeade?"

"Tudo bem...eu vou pedir uma carruagem pra gente." – Scorpius já ia saindo, quando a mãe o interrompeu.

"Ah, não precisa, o dia está tão bonito, não está muito frio, parou de nevar, vamos caminhando mesmo, vamos!" – ela saiu à frente do menino e ofereceu a mão esquerda e ele. Scorpius estranhou a mulher não reclamar da neve em suas botas de grife, e achou mais esquisito ainda ela lhe oferecer a mão, já que quase nunca havia feito aquilo. Mas aceitou o gesto e partiram para a vila, a pé.

"Mãe...a senhora está bem? Quer dizer, bem mesmo?" - o menino resolveu perguntar quando chegavam à entrada da vila.

"Estou querido, mas por que a pergunta? Não pareço bem?"

"Parece sim, mas é que, bom, desculpa se vou te ofender, mas a senhora tá sempre meio, 'não feliz'."

"Não feliz? Ou você quer dizer, 'infeliz'?"

Scorpius fez cara de desentendido.

"Tudo bem Scorp, pode dizer. Eu não me importo. E sim, eu sempre estive com uma cara bem infeliz não é? Talvez porque eu estivesse realmente infeliz...mas não culpo ninguém por isso."

"Mas a senhora parece bem feliz hoje."

"Obrigado. É por que estou muito feliz Scorp."

"Por causa da audiência?"

"Na verdade, por isso também. Mas estou feliz por ter finalmente decidido tomar as rédeas da minha vida, cuidar da minha própria felicidade. E é claro, isso envolve você, meu amor." – Astória fez um pequeno carinho no rosto do filho, puxando-o pela mão para adentrar a Dedos de Mel.

"Mamãe. Posso te pedir uma coisa?"

"Claro querido!" – ela disse vasculhando a loja com os olhos. – "Peça o que quiser que eu te dou!"

"Não magoe mais o papai."

Astória não esperava por isso. Ou esperava, só não queria admitir a si mesma. Ela estancou no lugar pro alguns instantes e então levou o menino para uma das mesinhas da loja, pediu dois chocolates quentes com marshmellows e biscoitos e olhou o filho. Pensou como ele era a cara do pai, lindo como ele, porém seus olhos eram mais afetuosos e doces do que o de Draco. Talvez por que não sofrera tanto como o homem, ou simplesmente por ser um menino doce.

Ele por sua vez observava a mãe atentamente. Ela nunca lhe parecera tão amigável e afetuosa antes. Claro que ela o tratava com carinho, ganhava abraços quando estavam sozinhos em casa, mas ela só nunca tinha sido o tipo de mãe que sai para passear com o filho, pagando doces e tendo conversas agradáveis com ele.

"Querido, sobre o que você me pediu...eu não quero magoar o seu pai. Está certo, eu já quis isso, não vou negar. Você é muito novo para entender Scorpius, mas amar e não ser amado de volta dói muito e deixa marcas. Seu pai nunca me amou como eu o amei e não o culpo por isso, ninguém pode fazer o outro se apaixonar. Eu tentei, mas como já disse, não se consegue isso. Isso me magoou demais e por muito tempo machucar Draco foi o meu objetivo. Me envergonho de dizer que usei você para fazer isto. Só que agora eu consigo ver os meus erros com muita clareza e preciso que entenda que por mais que eu queira, não posso parar agora. Infelizmente terei que levar esse processo de guarda adiante, é tarde demais para desistir. Mas saiba que só direi a verdade lá, não usarei nada contra seu pai Scorpius, mesmo por que não existe nada contra ele. Gostem algumas pessoas ou não, ele mudou e é um grande homem. Então, faremos assim, quero que você vá até aquela audiência e diga o que o seu coração mandar, não se acanhe e não se preocupe em magoar ninguém, nós somos seus pais e te amamos mais do que a nós mesmos e nada que fizer mudará isso, jamais. Me prometa que será sincero com o seu coração lá na frente do juiz, me prometa que fará aquilo que você quer que aconteça, não o que nós queremos Scorpius."

"Eu prometo mamãe. Eu prometo."

"Ótimo. Então, acho que agora podemos nos deliciar com alguns biscoitos e marshmellows e um chocolate quentinho que está chegando! Coma tudo e depois vamos até à Zonkos comprar algumas coisinhas pra você e seus amigos, que tal?"

"Legal!" – Scorpius sentia-se mais confortável com a mãe depois de tudo que ela lhe disse e ele realmente se sentia mais alegre de vê-la mais feliz e descontraída também.

A manhã voou e logo eles subiram de volta ao castelo para almoçar. A diretora pediu que fosse servido almoço aos dois na sala comunal de Sonserina, onde Astória contou algumas histórias suas da época de escola, como aquela em que ela cortou o cabelo de Pansy Parkinson sem que a menina visse.

"Cruel mãe!"

"Ah Scorp, eu só dei o troco...eu era dois anos mais nova do que ela, seu pai e sua tia Daphne. Uma noite, aos 13 anos, estava fazendo meus deveres ali naquela mesinha, quando Pansy entrou e veio até mim dizendo que seu pai queria falar comigo. Eu não acreditei, obviamente, já que ele nem sabia quem eu era àquela época, porém, achei que podia ser algo sobre sua tia que era amiga deles e me levantei e fui até onde ele estava. Como previsto, ele me olhou de cima a baixo e fez questão de me chamar de pirralha em alto e bom som. Claro que o salão inteiro riu da minha cara e eu voltei para minha mesinha. A sala encheu mais e eu vi minha oportunidade quando Pansy deitou no colo de seu pai, naquele sofá ali e, jogou os cabelos longos pelo braço do móvel. Tudo que eu tive que fazer foi dar um corte rápido e limpo e lá estava, Pansy acabara de ganhar um corte de cabelo novinho em folha! Picote a lá Astória!"

"Hahahahahaha! To imaginando a cara dela! Hahahahaha!"

"Ela ficou uma fera, óbvio, queria me azarar ali mesmo, mas seu pai não deixou, só que ele ria muito e chegou até a me parabenizar pelo feito. Disse que não era nada mal para uma pirralha."

"A senhora gosta mesmo dele não é mãe?"

"Gosto Scorp. Muito. Mas não dá mais, sabe filho. Agora eu tenho que me amar mais do que eu o amo. E amar você..." – Astória estava se sentindo limpa, renovada e essa sensação só aumentou quando recebeu o abraço mais carinhoso de sua vida. O filho havia se levantado da poltrona onde estava e foi até ela, enlaçando seus pequenos braços nos seus ombros e pescoço. – "Obrigado filho."

"Eu te amo mãe."

"Eu também te amo Scorp."

"Vamos até a borda da Floresta tentar ouvir alguma coisa?" – o menino soltou-se dela e propôs o desafio.

"Sim senhor! Aposto que eu escuto primeiro, sempre fui ótima ouvinte, sabe."

"Apostado. Uma tortinha de sorvete de framboesa?"

"Ela vai ser toda minha!"

Saíram rindo das masmorras, como se fossem disputar um tesouro em ouro como recompensa pelo feito.


Enquanto Scorpius conhecia uma nova Astória, ou talvez via a verdadeira Astória, Rose não estava tendo muito sucesso com o pai. Ele retornara após o almoço, que ela passou calada sob os olhares piedosos dos avós e do tio, e nem assim a menina conseguiu se aproximar um pouco dele. Não estava entendendo o motivo de ele ter levado-a para passar o fim de semana em sua companhia, já que mal a olhava.

Ela passou o restante do sábado praticamente muda, fazendo suas lições ou ajudando a avó e o tio em algum trabalho na casa. Não sentia vontade alguma de falar. Ron saiu mais duas vezes durante aquele tempo, e sempre que retornava parecia mais sem ânimo para encarar a filha. A noite caiu e enquanto ajudava Molly a preparar o jantar, lhe ocorreu que o pai não a levara da escola para passar o final de semana com ela, mas havia feito isso sim para afastá-la de Scorpius. Mais um ato puro e simples do egoísmo característico de Ronald Weasley. Infelizmente a menina não pode evitar chorar quietinha em sua cama aquela noite, por finalmente ver o que ela significava para aquele que dizia amá-la tanto.

Rose teria que voltar ao castelo no domingo até as 18h, esse era o horário imposto por Minerva McGonagall e até por volta do meio da tarde de domingo ela não conseguira se aproximar de Ron. Estava em seu quarto, arrumando suas coisas para ficar pronta quando ele viesse lhe chamar, o que aconteceu algum tempo depois.

"Rose?"

"Pode entrar."

Ron abriu a porta do antigo quarto da irmã Gina, meio sem jeito.

"Está pronta? Minerva lhe deu até as 18h pra voltar, se formos agora chegaremos a tempo."

"Tudo bem, já arrumei tudo, a gente pode ir sim." – ela colocou a mochila nas costas e os dois desceram em silêncio até a cozinha, onde os outros três Weasleys os esperavam. Eles se despediram e quando Rose abraçou a avó esta lhe falou algo baixo no ouvido.

"Ele te ama querida, só está confuso e machucado demais. " 

Ela nada respondeu, de cabeça baixa seguiu o pai para fora da T'oca e em alguns segundos depois já estavam em Hogsmead. No caminho de volta para o Castelo, pela primeira vez desde que buscara a filha na escola, Ronald puxara assunto com Rose, mas sendo um tanto cruel.

"Sinto muito por ter estragado seus planos para o fim de semana.. afinal passar todos os esses dias com seu pai deve ter sido difícil.. trocar o namoradinho loiro por mim né? Eu não quis atrapalhar, sabe, mas.." - Contudo a menina já cansada de ser saco de pancadas do pai resolveu dar uma resposta a altura, como a filha legitima de Hermione Granger poderia dar.


"Quis sim. Sabe por quê? Por que você é egoísta, você é mesquinho e você tá doente...e eu não quero você assim." - E não sendo mais capaz de segurar seu choro sentido. Deu vazão ao seu pranto pegando o pai de surpresa, que vendo aquilo mudou completamente o semblante e as atitudes.

"Filha...me desculpe..." – Ron se penalizava a cada lágrima que ele via descer silenciosa no rosto da menina.

"Desculpar pra você fazer alguma coisa pior depois? Pra você magoar a gente outra vez e achar que tá tudo bem com isso, só por que sabe que vamos te perdoar? Não, não vou desculpar e acho que a mamãe não deveria também. Você sabia que mesmo com tudo isso que você faz, ela ainda te admira? Você sabia pai? Sabia que ela ainda acredita que você vai voltar a ser a melhor pessoa que ela já conheceu na vida? Ela te ama pai, não do jeito que você quer, mas ela te ama! Não continua fazendo essas besteiras, pois uma hora ela vai cansar e não vai te amar mais, nem te admirar e aí acabou. Tudo que vocês viveram vai sumir e não vai voltar, e vai ser aí que você vai sofrer de verdade. Para de nos machucar assim, para de machucar quem te ama!" – Rose terminou o discurso e correu o restante da subida até as portas do castelo. Chegou lá com o rosto vermelho fogo, um misto do esforço pela corrida e do choro antes contido que agora ela havia liberado.

Ronald assistira a tudo aquilo atônito, as palavras da filha junto com as lágrimas dela pareciam lhe cortar o peito. Ele sentia uma dor forte, como se tivesse uma ferida aberta que latejava e sangrava. Teve vontade de correr até o castelo e ir atrás da menina, teve vontade de quebrar alguma coisa, teve vontade de bater em si mesmo. Não fez nada disso. Só se virou e desceu o caminho meio enlameado até a vila, onde aparatou. Teve um só lugar em mente, precisava ficar completamente sozinho, não queria correr o risco de descontar a raiva e a frustração que sentia em alguém.

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