Ashley

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Autoria : SUAMEGiovana

Não estou no meu quarto . A cama não está forrada com meu lençol predileto, aquele que não me dá coceira. as paredes são pintadas de um azul bebê e o teto tem um forro branco . Tem uma cômoda e em cima dela há um ventilador .

Meu Deus! Será que fui sequestrada? Devo gritar por ajuda? Não, ouvi falar que psicopatas gostam quando gritam e... Ora! O que eu estou pensando? Affs! Deu a louca em mim , isso sim!

Preciso de ar . Vou até a pequena janela e de lá posso ver um jardim de margaridas. Ouço a porta se abrindo.

- Mana, já está acordada! - uma garota de uns 16 anos fala .

- quem é você? - pergunto .

- eu sou Eliana , você é a Ashley, certo?

- onde estou?

- você está em uma casa de apoio.

Ah , meu Deus não!! Quase tão ruim quando psicopatas é ficar presa como uma psicopata .

- Não! Eu não quero ficar presa! Não quero tomar choques na cabeça! Não! Não quero ser amarrada em uma camisa de força!

- calma, Ashley. Isso aqui é uma casa de apoio e não um hospício!

- como vim parar aqui? - pergunto.

- seu irmão Diego te trouxe pra cá . Você não lembra?

Faço que não com a cabeça .

- eu vou te explicar .

~♡~¤~♡~¤~♡~¤~♡~

Segundo Eliana , eu cheguei na minha casa um pouco nervosa . Ria sem motivo , gritava por coisa alguma . Estava drogada. Sinto que meu rosto arde um pouco .
Será que alguém me bateu?

Estou na cozinha da casa de apoio , sentada em uma grande mesa redonda , nela tem mais quatro meninos e três meninas , na qual eu não tive a audacia de perguntar o nome ,sentados comigo . Para o café da manhã tem: café com leite , pães com ovos e melancia .

De onde estamos podemos ver a cozinheira Jona cantando, enquanto varre perto do fogão, a música que vem do rádio . A música é Homem não chora do Pablo . Nada contra a música, mas qual é?

1- ela ser a primeira música que você ouviu no dia.
2- ouvir ela no café.
3- ouvir ela depois de uma manhã confusa.

Minha apetite era pequena pois minha garganta estava estranhamente seca . Me estiquei na mesa e sussurrei :

- algum de vocês tem um celular?

Os garotos apenas se entreolham e riem baixinho .

- usa o telefone fixo da sala - diz uma das garotas apontando o polegar para o corredor .

Fui pelo corredor pequeno até a sala , onde ficava a sala . Lá tinha três sofás , a TV minúscula em cima de uma cômoda , uma mesinha de centro e uma enorme estante com livros que parecia empoeirados . A telefone fixo ficava ao lado da televisão.
Como na minha casa não tem telefone fixo teve que digitar o telefone da vizinha .

~ ligação ~

- Alô?
- bom dia ,dona Meire, é a Ashley!
- bom dia minha filha!
- a senhora pode passar o telefone para minha mãe, por favor!
- acho que ela está trabalhando, mas vou mandar o Tiago ir chamar um de seus irmãos .

A linha fica abafada , mas ouço a dona Meire gritar para o filho ir chamar meu irmão. Mas também escutei outra coisa :

"- pobre Carla . Agente põe o filho no mundo pra depois virar drogado . "

Será mesmo que a mulher que me chamou de filha tá me chamando de drogada pelas costas?

- Ashley!
- Diego, eu...
- você quer dinheiro pra comprar maconha? Crack? Seja lá o que você fuma, não vamos dar dinheiro.
- Epa! Eu não fumo maconha e muito menos crack!
- então você vai dizer que não fuma!

Eu fiquei calada .

- você ia ligar pra mamãe , ia pedir desculpas e depois pediria dinheiro pra comprar droga!
- CALA A BOCA!! - grito e olho para o lados percebendo que gritei alto demais .
-FALA O QUE VOCÊ QUER!!!- Diego grita .
-nada... - susurro .

~ fim ~

Desligo o telefone . Não posso dizer que Diego mentiu . Não sou tão hipócrita aponto de não admitir meu próprio erro , eu fumei sim . Mas eu vou parar! Por eles! Papai, mamãe, Diego, Mirela e Clark .
Pensar na droga , me faz ter lembranças da noite de ontem . A sensação incrível do "fininho" .

Derrepente começo a sentir coisas estanhas . Uma nescessidade, como se faltasse algo . Não! Não posso me viciar .
Preciso de distração . Já sei .

Volto para a cozinha, a cozinheira Jona não está lá . Eliana , estava pegando alguma coisa em um armário.

- oh! Mana, nós vamos plantar alfaces e colve no quintal - ela fala balançando um saquinho de sementes - quer ir com a gente?

- não, eu... fico bem aqui! - digo .

- tudo bem , então - ela fala e sai pela porta dos fundos que dá diretamente no quintal.

Ligo o radinho em uma estação de rádio . Replay da Zendaya começa a tocar . Eu sei fazer exatamente os passos dela . Meus irmãos sempre achavam isso incrível. Eles diziam que se eu estivesse em um concurso de dança, ele apostariam todo o dinheiro em mim e que no final do dia estaríamos ricos . E olhe , que eu nunca fiz aula de dança.

- opa! Desculpa - uma das garotas do café fala ao entrar .

Eu desligo o radinho e saiu . Fiquei constrangida como se tivesse sido pega fazendo algo errado . Voltei ao meu quarto e fico olhando o teto . Derrepente a mesma sensação que tive a pouco tempo . Eu suportei , mas as paredes pareciam me prender . O que eu estou fazendo aqui?

Saiu correndo do quarto . Vou pra sala e pego um livro velho e arranco uma pedaço de suas páginas , encontro uma caneta na mesinha de centro e escrevo :

" descupe "

Desculpe , pais . Desculpe irmãos. Vou pela porta da frente .

~¤~♡~¤~♡~¤~♡

Aqui estou eu em frente a uma loja de variedades. Vou até o caixa e toco o sino. Catina uma mulher de quarenta e poucos anos , aparece .

- Ashley! O que quer?

- peças artesanais é que não é - falo sarcástica - você sabe o que eu quero .

- pagamento primeiro!

- não tenho dinheiro!

- certo! Então converse com meu fiscal - ela diz e se abaixa no balcão. Quando levanta ela aponta seu revólver calibre 22 pra mim .

Por um minuto achei que fosse desmaia .

- meu fiscal acabou de me dizer que se você não tem dinheiro , vá cantar em outra freguesia.

- me chamou de galinha? - pergunto com meu último fio de coragem .

- depende do que você ouviu!

- por favor me dá alguma coisa!! - suplico.

- meu nome é dinheiro.

Sai da loja com o rabo entre as pernas . Olhei meu reflexo na vidrine de uma gravadora . Estou vermelha pelo sol . Meu cabelo cai frouxo e desarrumado . Tenho sarnas nas bochechas e nos ombros suor escorre pelo meu rosto e pescoço por causa do calor . Meus olhos são grandes e castanhos . Minha aparência é comum .

Ao lado do meu reflexo tem um folheto grudado na vidrine . "The Revyve " e em letras menores : Evento beneficente.
Não quero voltar para minha antiga casa , não posso encarar ninguém agora . Não quero voltar para a casa de apoio , estou envergonhada por ter fugido .

Estou com uma camisa de alcinha Vermelha , uma calça jeans que fica mais grudada do que eu queria e estou de tênis roxo simples . Será que isso é bom para ir ao The Revyve?

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