Entre nesse ritmo

Tony

As duas últimas vezes que pisei em um cemitério foi no enterro dos meus pais . Primeiro meu pai morreu atropelado, mas não teve culpado . Meu pai costumava dizer que você assina seu destino .

Fico me perguntando se isso passou pela cabeça dele quando pisou no Bar do Dil , antes de se embebedar e acabar arrumando briga por causa de uma mulher que não era a esposa dele .

Quando meu pai saiu do bar com o beiço sangrando e o olho vermelho, o marido da mulher achou que não tinha batido nele o suficiente.

Empurrou meu pai para a rua bem na hora que o ônibus estava passando . Minha mãe podia ter ficado em depressão ou ter se afogado na bebida também, pois ela amava muito meu pai , mas invés disso ela foi o apoio meu e dos meus irmãos.

Mamãe saia de madrugada para trabalhar de faxineira em um dos poucos hotéis que nossa cidadezinha sonolenta tinha e nós só a viamos a noite. Fazíamos de tudo para sermos um fardo pequeno para ela .

Éramos cinco : Gustavo, eu , Priscila, Daniel e Cassia . Lembro-me de uma vez que Daniel matou várias aulas para jogar pelada com os amigos e eu já havia pedido diversas vezes para ele voltar para a escola , mas ele teimava .

Eu e Gustavo pegamos um chinelo velho e quando o Daniel chegou em casa demos uma surra nele , tudo para não estressar a mamãe.

Minha mãe morreu anos depois quando ficou com uma gripe terrível, podíamos ouvir a respiração dela e sua voz ficou rouca , insistimos para ela fazer um esforço para ir ao médico, mas ele negava .

Quando a gripe ficou tão forte que ela não dormiu a noite com dores de cabeça. De manhã eu e Gustavo fomos buscar um médico, ficamos a manhã toda na porta do hospital, mas nenhum dos médicos podiam larga o plantão para ir a minha casa .

Voltamos para casa de tarde , mas quando chegamos lá... era tarde demais .

Nossos tios, não tínhamos contato com eles a anos, eles nem sabiam se estávamos vivos ou não . Eu e Gustavo fomos morar com o tio Edilson ; Priscila, Daniel e Cassia foram morar com nossa tia no Maranhão .

Morar com o tio Edílson era legal, conhecemos nosso primo Jamilson, ele sempre dividiu os brinquedos comigo.

E aqui estou eu , Tony , ainda assinando meu destino .

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Dias atuais .

Ontem foi a missa do sétimo dia da minha namorada Fabiana . Hoje estou melhor que nos outros dias , fiquei um caco os três primeiros dias . Jamilson está no quarto também.

Gustavo é três anos mais velho que eu, ele trabalha a um ano no exército por isso ele já tem a casa própria . Meus outros irmãos me ligaram oferecendo pêsames mesmo sem nunca terem visto a Fabiana.

Sinto que Jamilson quer me dizer algo só está apreensivo .

- pode falar, Brô - digo. Ele está bem vestido hoje.

- não, cara deixa pra lá -

- diz logo , bicho - minha péssima mania de chamar meus amigos de bicho .

- é que eu e a Leandra estamos colaborando para um evento - ele fala - é para beneficiar uma competição de dança que vai ocorrer em Agosto .

- sim .

- quem levar gente hoje vai ganhar uma caixa de bombons . Você quer ir?

Penso um pouco, talvez sair e ver pessoas possa me ocupar o suficiente para não pensar nela .

- eu vou , que roub...

- aahh!! - Jamilson me interrompe - esse é meu primo!!

Ele vai em direção a porta .

- onde tu vai? - pergunto .

- vou buscar meus outros convidados - ele fala sorrindo - veste aquela camisa que eu te dei no Natal passado.

Ele fala e sai . Meu primo é um ano mais novo que eu, ele tem pele morena igual a mim, mas o cabelo dele é encaracolado enquanto eu raspei o meu como um cabelo de soldado . Seu sorriso é Largo e ele tem uma voz rouca .

Minutos depois ele chega e já estou pronto.

- cara a Leandra roubou todos os meus convidados - ele fala com os olhos arregalados - só por causa daquele cabelo ruivo e...

- e ela é mais bonita que você, distraído - digo sorrindo.

- cara , me dá um desconto hoje - ele diz - vamos!!

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Chegamos lá , o lugar está armado a seu aberto e cheias de mesas , carrocinhas de picolé, churrasco, um bar improvisado, salgados e doces . Sentamos em uma mesa instantes depois Leandra chega acompanhada de um garoto bem esquisito.

- Oi Tony - ela diz e eu aceno - oi amor - ela fala para Jamilson.

Vai até ele e o beija , o loiro ficou com a boca em forma de "o" , ri sozinho como um retardado por causa da cara de criança que perdeu o doce que o garoto fez . O garoto tem cabelo loiro quase transparente, uma pele pálida e olhos azul claro.

- Carter desculpe , mas eu terei que ser Dj agora - Leandra se desculpa e Carter faz que sim .

- eu vou ajudar a Leandra - Jamilson fala .

Carter senta na mesa comigo .

- você não é daqui , acertei? - pergunto .

- não eu sou de Nova York -

- legal! - é tudo que posso dizer .

Percebo uma garota, tenho a estranha sensação de que já a vi . Ela vai até onde Leandra está e pede alguma coisa, Leandra testa seu Laptop e faz um sinal positivo para a garota. A menina tem uma pele levemente bronzeada, e cabelos castanhos .

A menina põe um baldinho de plástico no chão e em seguida uma música bem agitada começou a tocar . A garota dança. Ele se mexia como uma verdadeira profissional, embora ela não tenha nenhum músculo de bailarina.

A forma como ela dança chama minha atenção, não consigo desviar o olhar dela . Vejo que Carter também parece encantado com ela .

- você dança? - pergunto a ele .

- um pouco . E você? - ele pergunta .

- sim, eu dançava com minha... - não consigo completar, não consigo mencionar o que ela era pra mim .

Carter parece perceber meu desconforto e muda de assunto .

- ela dança de um jeito que me... hipnotiza - ele fala .

A garota dança com os cabelos soltos o que dá um tcham quando ela gira , realmente hipnotiza. Percebo outra garota que chegar correndo . Ela é loira e está com os olhos vermelhos, ela olha para o lado e outro assim como Carter fez quando chegou .

Pode ser uma intuição ou até uma besteira mas sabe quando você sente que algo grande vai acontecer? Algo que pode mudar o seu destino , aqui e agora um ponto onde todo começa.