Cap. 16

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CAPÍTULO 16

À caminho do meu quarto ele viu o remédio que deixei sobre a mesa da sala, o remédio é bem conhecido e ele como professor de educação física tem um conhecimento, pouca coisa, mas tem, quando o vi entrando no meu quarto com o frasco de remédio na mão eu fiquei pálido, não sabia o que dizer, ele acabou descobrindo tudo e o que era pior, não foi pela minha boca.

- O que é isso, Bader?

- Eu ia te falar agora...

- Era isso que você escondia de mim?

- Petit...

- Por que você não me falou que tinha HIV?

- Fiquei com medo de você não gostar mais de mim...

- Medo? Você não confiou em mim, deveria ter se aberto comigo e não ficar dando desculpas mentirosas e me fazendo de idiota, você tem ideia do tanto que eu sofri?

- Mas Daniel...

- E as noites que eu passei em claro pensando em alguma ideia pra reconquistar você, achando que você não me amava mais?

- Amor me perdoa?

- Você foi egoísta, só pensou em você...

- Não meu amor, eu pensei em nós...

- Pára Bader, chega de mentiras...

- Não grite Daniel, você vai acordar os vizinhos...

- Foda-se os vizinhos, estou pouco preocupado com o que eles vão achar...

- Daniel me escuta pelo amor de Deus?

- Que ódio. (Dando socos na parede).

- Amor... Me escuta?

- Tudo bem, fale.

- Quando eu soube do resultado eu fiquei muito mal, a todo o momento eu pensava em você, em como você iria reagir quando soubesse e principalmente na sua segurança. Eu amo você, jamais me perdoaria se em algum acidente contaminasse você...

- Sempre usamos camisinha, Bader.

- Eu sei, mesmo assim eu tive medo de que você contraísse...

- Eu odeio ser enganado.

- Entenda meu lado...

- Me deixe, Bader.

Ele começou a chorar de decepção, e eu de arrependimento, eu não deveria tê-lo enganado ocultando a verdade, deveria ter aberto o jogo e assim deixar que ele decidisse nosso destino, afinal eu não tive culpa nenhuma, eu fui vítima tanto quanto ele, mas a burrice já havia sido cometida, por mais que eu tentei consertar, argumentar, foi inútil.

Inconformado com a situação, ele jogou o frasco sobre a cama e saiu de casa batendo a porta, eu corri atrás dele, mas a porta do elevador já havia se fechado, peguei o telefone e fui ligar para ele, mas o celular deu caixa postal, corri para a sacada da sala e o vi dobrando a esquina, quase capotou o carro. Naquele momento eu tive a certeza que definitivamente eu perdi o amor da minha vida.

Algumas situações nós podemos evitar que aconteça, no meu caso eu fui egoísta em não contar a verdade para ele forjando uma mentira, talvez se eu tivesse contado a verdade teria sido tudo diferente, mas já era tarde demais, a verdade veio a tona de uma forma traumática. Ter HIV não significa que obrigatoriamente eu deva contar para meu parceiro que sou portador, contar é uma opção minha, mas eu tenho que ter a consciência de que se eu quiser guardar isso só pra mim terei que tomar todo o cuidado pra não passar pra outra pessoa, sempre atento.

No outro dia, fui pra academia na esperança de encontra-lo e poder conversar melhor, não via a hora de chegar lá e tentar tê-lo de volta só pra mim, ao chegar na academia minhas pernas tremiam, minha boca secou, comecei a procura-lo, mas não o encontrei, meu coração apertou quando perguntei à uma aluna se ela havia o visto e ela disse que não, ele não foi na academia naquele dia, perguntei por ele na recepção e a garota me disse que ele já não trabalhava mais lá, ouvindo ela dizer aquilo era como se eu visse minha felicidade partindo no horizonte sem rumo, sem volta.

Chorar não iria adiantar, o que eu deveria fazer era seguir minha vida normalmente, recomeçar tudo outra vez. Saindo da academia fui trabalhar, é a melhor coisa que fazemos para esquecer dos problemas, o dia foi muito corrido, eu estava envolvido em um projeto grandioso, era uma propaganda publicitária que me renderia uma estabilidade financeira pro resto da vida.

Passei a tarde inteira gravando piloto para o comercial de uma concessionária de carro, era um cliente muito exigente, mas que paga muito bem. Mais um dia se passou, eu tentava seguir minha vida normal, focando apenas meu trabalho como prioridade, aquela era a hora, pois minha carreira deu uma alavancada extraordinária. Pela manhã acordei cedo e nem tomei café direito, sai de casa e passei no shopping, comprei alguns brinquedos educativos, saí cheio de sacolas e fui até a entidade das crianças com HIV visitá-las e levar os brinquedos.

Uma  história de amor - escrito por SalémOnde histórias criam vida. Descubra agora