Pequenas Mudanças

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Dias depois ...

- Rafa, me desculpe, mas eu não te entendo. - Aline disse. - Há alguns meses atrás você abominava seu marido. O odiava. Até tentou fugir dele! E agora você me diz que tudo mudou?

- Aline... - A morena sorriu. - Felippe está diferente. Antes eu só o conhecia como todos o conhecem, de forma superficial e enganosa. Eu nunca busquei saber o porquê dele ser do jeito que é... só quando descobri a verdade é que o compreendi. E te digo que por baixo de toda a frieza, ferocidade e crueldade... Há um bom homem, porém com a alma machucada.

Aline soltou o ar, erguendo as sobrancelhas, passando as mãos na barriga que já estava grandinha

- Bom, se você diz... é porquê deve ser. Afinal você desvendou o passado dele, e ninguém melhor para conhecê-lo do que a esposa. Mas eu ainda acho quase impossível de acreditar que Felippe Vargas, o homem mais temido e maldoso da cidade, é na verdade um homem generoso.

Rafa sorriu e tomou seu último gole de suco

- Eu sei que parece difícil acreditar. Eu no seu lugar tampouco acreditaria... mas agora que conheço o verdadeiro Felippe, posso lhe dizer que é exatamente assim. Bem, mas está na minha hora, Line. Preciso ir pois hoje o jantar será mais cedo.

- Está bem. - A loira sorriu.

- Não precisa me acompanhar até a porta, não quero que se canse - Rafa murmurou gentilmente. Passando-lhe a mão na barriga.

As duas se despediram, e Aline pediu que um criado acompanhasse Rafa.

* * *

No dia seguinte, Rafa despertou um pouco mais tarde do que de costume.

Tomou um banho, colocou uma roupa confortável e quente , e desceu para o café.

- Onde está meu marido, D. Dulce? - Perguntou ao sentar na mesa.

A mulher lhe serviu um copo de suco.

- Creio que no quarto de cima, madame.

Rafa assentiu, comendo uma uva.

- Depois irei falar com ele.

Quando terminou o café-da-manhã, a morena se levantou e foi lentamente em direção ao andar de
cima.

Respirou fundo, e andou até o quarto. Estava destrancado. Entrou calmamente no recinto.

- Felippe?

Não houve resposta.
Rafa franziu o cenho e adentrou, procurando o marido com os olhos.

- Felippe?

Ela então o viu... sentado em um poltrona, de frente para o quadro de Isabella. Ele observava fixamente a pintura, sem mover nenhum músculo do rosto.

Rafa tocou-lhe o ombro suavemente, e Felippe olhou para a mão branca e delicada dela. Depois ergueu os olhos para o rosto da esposa. Rafa viu tanta tristeza e solidão nos olhos amendoados do homem, que seu peito apertou.

A morena se aproximou e se ajoelhou ao lado do marido.

Ele voltou a olhar para o retrato da irmã.

- Eu estava aqui relembrando. - Ele murmurou, distante. - Essa pintura é tão parecida com minha irmã, é como eu seu pudesse vê-la na minha frente de novo.

Rafa sorriu e olhou para o quadro.

- Sua irmã era muito bonita.

- Sim, ela era. Pelo que Dulce costumava nos contar quando éramos menores, Isabella era muito parecida com minha mãe. Eu não me lembro porque perdi meus pais muito cedo.

- Você... deve ter sofrido muito.- Rafa disse, baixinho.

Felippe não respondeu. Parecia não querer concordar com aquilo.

- Bem, você deve querer ficar sozinho...- A morena fez menção de se levantar, mas Felippe a segurou no lugar.

- Não, fique aqui... comigo.

Rafa olhou nos olhos dele, surpresa. Então sorriu e assentiu.

- Ok.

Rafa sentou-se no braço da poltrona.

Ele ficou observando o retrato de Isabella por mais alguns minutos, sem dizer nada. Rafa suspirou, comentando:

- Você deve sentir muito falta dela né?

- Sim.- Ele concordou.- Isabella era tudo para mim.

Rafa olhou para as mãos. Não sabia se era melhor falar o que achava, ou ficar calada.

- Sabe... pelo que Dulce contou-me... você nunca pensou em si próprio, Felippe. - Ele ergueu os olhos.- Quando Isabella era viva, era sua responsabilidade... mesmo sem ser esta a intenção dela, acabava sendo uma barreira para sua vida. Você se via na obrigação de cuidar de sua irmã, por ela não ter mais ninguém, e por isso nunca pôde viver sua própria vida.

Felippe olhou irritadamente para a esposa.

- Do que está falando, Rafaella? Não fale do que não sabe... São bobagens!

- Não são, é a pura verdade! - Ela replicou com intensidade. - Você no fundo sabe que é verdade, Felippe. Não pôde viver sua vida quando Isabella era viva... e tampouco pôde viver quando ela se foi, pois se trancou numa solidão, culpando-se pela tragédia!

- Cale-se, não permito que fale de minha irmã! Eu a amava mais do que tudo.

- Eu sei. - Rafa disse com compreensão. - E por amar tanto sua irmã, e se dedicar tanto à ela, foi que largou sua vida para trás. Eu admiro isso em você, Felippe. - Ele ergueu os olhos para ela. - Acho que toda pessoa com amor verdadeiro no coração faria isto. Por isso eu sei que você na verdade não pode ser tão maldoso e frívolo como quer demonstrar à todos.- A morena murmurou.

Felippe tirou os olhos dela.

- Eu sei que o verdadeiro Felippe... o aí de dentro... é totalmente o oposto do que todos acham.- Ela continuou. - É bom e generoso.

- Está enganada. - Ele disse de forma dura. - Sou exatamente como todos vêem.

- Não. - Ela sorriu. - Eu sei que não é. Você só é um homem que sofreu e que perdeu as esperanças de voltar à vida. Só lhe digo três coisas, Lippe.

Ele levantou os olhos.

- Lippe? Você nunca me chamou assim... Quem costumava usar este nome era Isabella. - Ele murmurou.

Rafa sorriu.

- Em primeiro lugar: você nunca foi o culpado pela morte de sua irmã. Tudo foi um acidente, e não havia como impedir. Em segundo lugar, nunca se esqueça disso: eu acredito em você.

Felippe piscou, sem entender muito bem o que ela queria dizer.

- E em terceiro. - Rafa pegou a mão dele ternamente, assustando-o e surpreendendo-o. - Lembre-se que agora você têm a mim, e que estou do seu lado.

Antes que ele pudesse responder, a morena sorriu gentilmente e se retirou. O rastro de seu perfume leve e floral ficou para trás. Ele logo voltou o olhar para o retrato da irmã, pensativo.

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Nossa historia está no final já :(

Um Casamento ForçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora