Anita Garibaldi a heroína de dois mundos

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Anita Garibaldi (1821-1849) a heroína de dois mundos, como é conhecida por estas terras e na Europa, foi mais que uma guerreira, foi uma pessoa que rompeu todas as barreiras sociais impostas as mulheres no século XIX. A brasileira nascida em Laguna, Santa Catarina, casou por insistência da mãe aos 14 anos, foi abandonada três anos depois pelo marido que se alistou no exército, mas um ano após conheceu Giuseppe Garibaldi (1807-1882) com quem fugiu e lutou na Revolução Farroupilha, no Uruguai e sendo recebida com louvores na Itália, país onde faleceu e foi enterrada.

Anita nasceu no dia 30 de agosto de 1821, já no fim do forte inverno sulista. Terceira da família de 10 irmãos, no qual seis eram gurias e quatro eram meninos, filha de Maria Antônia de Jesus e do comerciante Bento Ribeiro, ambos de descendência açoriana. A família era modesta, não tinha grandes posses e o que tinham era apenas o suficiente para viver. Uma coisa que poucos sabem é que o nome de batismo de Anita na verdade é Ana Maria de Jesus Ribeiro, sendo o que conhecemos é um apelido no diminutivo para Ana.

Anita não teve uma vida fácil, principalmente após a morte do pai. Convencida a casar ela sofreu com a solidão. Nos braços de Garibaldi ela encontrou não apenas a força da paixão, mas o gosto da liberdade e da vontade de lutar pela independência dos povos. Perdeu uma filha, dor que carregou no peito até a morte prematura, aos 28 anos.

A vida em família

Ana Maria de Jesus Ribeiro foi apelidada ainda criança de Anita. Filha de descendestes açorianos, o pai era comerciante e a mãe dona de casa. A vida em família era bastante simples, mas muito feliz. Anita era terceira de 10 irmãos. Brincadeiras e afazeres para ajudar a mãe eram parte da rotina da garotinha que escreveu a sua história.

No entanto, a felicidade da família Ribeiro foi embora com a morte do pai Bento, que era o provedor do sustento de todos. Os mais velhos tiveram, então, que ajudar a mãe no sustento da casa. Com o casamento da irmã mais velha a situação da família piorou.

Com insistência da mãe, Anita se casou antes de completas 15 anos.

O casamento

O casamento de Anita aconteceu no dia 30 de agosto de 1835, quando a jovem tinha 14 anos. Ela desposará do sapateiro Manuel Duarte de Alencar.

Com Manuel a heroína ficou casada por apenas três anos. Após sabe-se que ele se alistou no Exército Brasileiro e nunca mais apareceu em casa. Durante o período em que estavam juntos pouco se sabe. Porém, algumas biografias dizem que Manuel era um homem de poucas palavras e que gostava muito de pescar a noite, por isso Anita passava muito tempo sozinha.

O encontro com Garibaldi

Com quatro anos de Guerra Farroupilha, Garibaldi com parte das tropas farroupilhas de Davi Canabarro (1796-1867) chegou a Laguna para tomar a cidade e formar a República Juliana. Era julho de 1839.

A bordo do Itaparica, tomada do inimigo e armada com sete canhões, Garibaldi observava as casas da barra de Laguna. Através de uma luneta, o italiano viu um grupo de moças que passeavam, e uma daquelas jovens chamou a atenção. O rosto da garota conquistou Garibaldi de tal forma que ele providenciou um barco e foi até a margem. Depois dirigiu-se ao local onde virá as moças, porém, elas já não estavam mais lá.

Garibaldi tinha desistido de encontrar a mulher por qual se apaixonará a primeira vista. Mas tudo mudou ao ser convidado para tomar uma xícara de café.

Um morador local convidou-o para tomar café em sua casa. Chegando lá foi a surpresa. A garota que ele estava procurando estava ali. Em livro de memórias, Garibaldi contou que ela foi a primeira pessoa da casa a se aproximar dele e cumprimentá-lo. "Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscavam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor", escreveu.

Eles passaram a namorar, e no dia 20 de outubro daquele ano Anita subiu a bordo do navio de Garibaldi para acompanhá-lo em uma expedição militar. Sem se preocupar com a fama de adultera que teria a partir daquele momento.

Na época Anita tinha 18 anos e Giuseppe Garibaldi 32.

O batismo de fogo

Era novembro de 1839, em Imbituba, a expedição corsária farrapa foi atacada pela Marinha Imperial do Brasil. No dia 15, Anita entrou na batalha, considerada uma das mais sangrentas da revolução. Na famosa batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, Anita atravessou o mar diversas vezes em busca, em terra, de munições para os revoltosos. Ela estava a bordo de uma pequena lancha.

O segundo enfrentamento de Anita ocorreu pouco depois, em Santa Vitória. Mas o momento de paz veio no Natal do mesmo ano, no qual ela passou ao lado de Giuseppe em Lages.

O segundo casamento

No dia 26 de março de 1842, já com 21 anos, Anita e Garibaldi se casaram na Igreja São Bernardino, em Montevidéu.

A vida pacata no Uruguai foi muito bem aproveitada, tanto na parte íntima do casal como social. Para sustentar a família, Giuseppe passou a dar aulas de matemática, história e caligrafia. Anita costurava para fora e aproveitava para aprender a ler e escrever, e ao mesmo tempo tinha as primeiras noções de política.

O casal vivia feliz. E a família aumentou. Nasceram Rosita, Teresita e Riccioti. Tudo parecia perfeito, até que num triste dia, a pequena Rosita faleceu aos dois anos e meio, em razão de uma difteria.

Naquele mesmo período a independência do Uruguai estava ameaçada, então, o presidente Fructuoso Rivera (1784-1854), chamou o italiano para comandar o conjunto de todos os corpos militares do Exército. Garibaldi recebeu o título de General e fundou a legião italiana, conseguindo muitas vitórias.

Com a morte de Rosita, Anita decidiu entrar para a Legião e trabalhar como enfermeira. Todavia, em 1847 foi obrigada a fugir com os filhos para Europa. Passou pela Itália, Genova e Nice, e nas três cidades foi recebida como heroína.

Mais lutas e o triste fim

Na Europa as lutas não se encerram. Era julho de 1849, e Garibaldi liderava as tropas da República de Roma contra os franceses. Com a vitória da França, Giuseppe, não admitiu a derrota, e foi para Veneza. Anita, grávida de seis meses, resolveu seguir o marido, se vestiu de homem e foi para a batalha. Com as cavalgadas noturnas, uma má alimentação, Anita adoeceu, mas não deixou-se abater. Parou somente no dia 4 de agosto daquele ano, dia que morreu, junto ao filho que esperava.

Garibaldi, mesmo muito abalado teve que fugir dos austríacos, não pode acompanhar o enterro da esposa. Anita foi enterrada no cemitério da Igreja de San Alberto, em Madriole. Em 1932, seus restos mortais ganharam um mausoléu em Roma, onde continuam até hoje.

A heroína também foi autora

Anita foi alfabetizada e aproveitou os momentos ociosos para escrever. Enquanto estava na Itália, ela escreveu seis livros, em todos falou sobre a vida com Garibaldi e das incursões militares. Duas obras de destaque da heroína como autora são: Donna del Generale e Nate del Mare.

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