Treze Dias Antes

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Acordo sozinha no quarto, me parece madrugada. Testo sentar na cama e sinto uma leve tontura, cortesia da minha última refeição ter sido o almoço de ontem. Há um bilhete ao lado da minha cama, do Guilherme:

" Sinto muito Laura, eu errei com você. Espero que acorde se sentindo melhor, conversamos pela manhã, como sempre.
G. "

Sorrio para o bilhete, ele percebeu que o tratamento não está dando certo, mas ele não sabe que não é por culpa dele. Ele não sabe que eu não quero ajuda, que quero simplesmente desistir, mas acho que posso fazer um trato com ele, onde nós dois podemos sair ganhando.

A enfermeira que responde ao toque da campainha me diz que um banho vai me fazer sentir melhor e sou obrigada a concordar com ela, pelo menos sobre ontem. Depois do banho, consigo engolir uma Vitamina de frutas junto com os remédios da manhã, mas é difícil, estou ansiosa para conversar com o médico.

- A senhora poderia, por favor, ver se ele consegue me ver antes do horário normal? - Pergunto a enfermeira da recepção da pre sala dos consultórios.

Enquanto ela checa a resposta pra minha pergunta, começo a reparar que há quatro salas aqui, contando com a do Guilherme. Claro que deve ter outros médicos, ele passa pelo menos duas horas por manhã comigo, como ia ter tempo para ver todos os pacientes?

- Pode entrar, ele vai recebê-la agora - A gentil enfermeira me informa, com um sorriso simpático.

- Bom dia - entro na sala - com licença.

- Bom dia - ele sorri, atencioso como sempre - caiu da manhã?

- Algo me diz que dormi muito cedo ontem, por isso acordei tão cedo... não estou atrapalhando?

- Claro que não, meu próximo paciente era você mesma - ele escolhe o divã azul para sentar e me convida a escolher.

- Daqui quase três horas? - Sorrio, sentando na poltrona dele.

- Antes que você pense que eu não faço nada, tenho muitos relatórios para arrumar - Ele não comenta a cadeira que escolhi.

- Você quem disse, eu não tinha pensando em nada... - faço graça e ele entra na minha, rindo - Guilherme, preciso falar com você.

- Achei que tivesse vindo só me visitar - ele sorri, mas posso dizer, por sua postura, que ele está totalmente atento ao que estou dizendo e, principalmente, ao que não estou dizendo.

- Não, por mais que eu goste de conversar com você - ele arqueia as sobrancelhas - o que foi? Achou mesmo que eu só vinha aqui por obrigação? Eu sei que nós não somos melhores amigos e nem nada do tipo, mas você é uma companhia agradável.

- Obrigado, eu acho - ele dá um dos seus raros sorrisos sinceros - você está falante hoje, devo ficar assustado?

- Não, é só que eu queria te propor um trato.

- Um trato?

- Sim - Espero ele considerar a ideia antes de continuar.

- Gostaria de saber mais antes de opinar - Posso ouvir as engrenagens do cérebro dele tentando desvendar o que raios eu quero dizer com isso.

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