Eu estou na sala de casa, mas sei que não deveria estar lá, meu lugar é na casa de repouso. Eu olho ao meu redor, está tudo como eu me lembro, o sofá vermelho da mamãe, a TV enorme do papai, a mesinha onde tantas vezes eu fiz a unha enquanto via filme.
- Laura? - Escuto a voz e sinto meu corpo inteiro tremer, me viro de uma vez.
- Vinicius - eu o vejo e meus olhos se enchem de lágrimas.
- Sinto sua falta - ele admite, com um sorriso, abrindo os braços para mim, me atiro neles sem pensar.
- Eu sinto muito a sua falta - suspiro, absorvendo o cheiro dele.
- Eu não posso ficar muito pequena, só vim te falar uma coisa que você é inocente demais para perceber.
- Como assim não pode ficar muito? Por que não?
- Você sabe porque eu não posso ficar Laura, mas presta atenção. Você lembra do que eu te disse?
- Quando?
- Na nossa conversa dos " e se"... - ele parece apressado, mas não quero que ele vá embora.
- Eu não lembro, são muitos remédios.
- Eu realmente tenho que ir, mas procura se lembrar gatinha, por mim, faz esse esforço.
Olho nos olhos dele e sinto a saudade dele me machucando, ele me encara, sério, depois fecha os olhos e me beija, um beijo casto, mas é o suficiente para me despertar.
Acordo suada e chorando, terrivelmente assustada. Foi tão real. Levo os dedos aos lábios e posso sentir o calor dos lábios dele. Seu perfume ainda está no ar, respiro fundo, tentando absorver cada pedacinho dele que consigo. Tento me acalmar, parar de chorar, mas é impossível.
A realidade ri de mim, satisfeita por ter me dado um sonho que me faz chorar dessa maneira. Eu sento na cama, os soluços saem da minha garganta e eu desisto de tentar controlá-los. Me deixa chorar livremente, até as minhas forças acabarem e eu dormir sentada, abraçando os joelhos.
Acordo horas mais tarde, com uma dor de cabeça enorme e aquela sensação de tristeza dentro de mim. Penso no sonho tão real que tive e a saudade aperta meu peito, foi tão real, eu o senti ao meu lado. Tomo apenas um copo de água no café, para poder engolir os remédios, mas até isso me dá uma ânsia enorme.
- Bom dia Laura - O Guilherme cumprimenta quando eu entro.
- Olá - respondo e sento no divã cor de rosa.
- Você não me parece muito bem - ele comenta, escolhendo o divã azul, de modo a ficar de frente para mim.
- Que conclusão genial - ele aceita a patada, sem dizer nada.
- Gostaria de me contar?
- Foi só um sonho com o Vinicius - dou de ombros, fingindo que não importa.
- Tudo bem, pode me contar quando estiver pronta.
Sinto vontade de gritar que nunca mais quero falar com ele, mas apenas respiro fundo e volto a contar, de onde parei.
" O Vinicius era um cara estranho, ele não se importava com as convenções sociais. Tipo, esperar três dias para ligar, não pegar a mão dela em público até vocês saberem exatamente em que pé estão, não ficar dizendo o quanto gosta até que saiba como ela se sente.
Eu gostava de estar com ele, era como ter mais um melhor amigo, mas com alguns bônus especiais. Como os beijos maravilhosos que ele me dava sempre, andar de mãos dadas ou sentir os braços dele ao meu redor. Meu coração batia descompassado e leve ao lado dele e cada vez que eu me abraçava, eu podia sentir o coração dele acelerado.
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Me Espera
RomanceLaura teve dois dias terríveis em sua vida e isto mudou tudo... Sua paixão pela vida, seu amor, sua alegria, o brilho nos seus olhos, tudo se foi. Seus pais tentaram de tudo, até acharem ser obrigados a coloca-la em uma casa de repouso, acreditando...