A Capitã Fantasma e o Passado Incontrolável

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Vinte anos e uma semana atrás...

- Alguém viu Hanlo? - Questiona Ferroah, entre as pessoas da base Inus Dei. - Alguém viu Hanlo? - Repete, ainda ignorada pelos esfomeados no refeitório, que se empurram e comemoram a volta de uma missão.

Ela segue pelos corredores gélidos e metalizados, sempre mirando o anel de noivado tatuado em seu dedo. É uma vida alegre após a cerimônia, e ela faz questão de lembrar o noivo, levando um presente consigo.

- Com licença, viu Hanlo? - Questiona para um empregada, que briga com o esfregão para conseguir limpar uma meleca do chão.
- Olá, Ferroah. - Ela limpa o pingo de suor da testa. - Última vez que vi, ele tinha ido para os chuveiros. Tinha dito algo de limpar a gosma dos kraukasianos desta última missão... Algo assim.
- Obrigada! - Ela sorri e parte em direção aos chuveiros.

Lá, ela percebe o vapor escapando pela porta do vestiário. Decidida a fazer uma surpresa, tira os sapatos e entra na ponta dos pés. O presente é pressionado contra o corpo. Quando chega próxima dos chuveiros, ela escuta uma conversa. Escorando-se nos escaninhos, ela fica calada.

- Hanlo... - Comenta o companheiro, nu ao seu lado, tocando-o no ombro.
- Não estou com cabeça para isso, Koresma... - O companheiro tira a mão.
- Não foi o que me disse ontem, no meu quarto. - Ele o beija na orelha.
- Eu disse que agora não! - Hanlo o apanha pelos braços, empurrando-o contra a parede.
- Qual o problema? Por que está assim?
- Não é óbvio? - Ele fecha o chuveiro e se senta. - Estou noivo de Ferroah... Como eu vou contar isso para ela? Como nós vamos contar isso para o pessoal?

Koresma senta-se ao lado do amigo.

- Eu não sei... Mas precisa contar para ela, se você realmente a ama. Não pode enganá-la assim.

Ferroah franze o cenho.

- Eu sei... Mas... - Ele mira os azulejos úmidos no chão. - As coisas não são tão simples... Eu amo você, mas também amo ela.
- Então você precisa escolher. - Ele toca Hanlo nos cabelos.
- Estou aqui com você ao invés dela, não estou? - Diz, fitando-o nos olhos.
- Então conte para ela. Ela precisa saber. Se você a ama, precisa parar de enganá-la, de enganar a si mesmo... - Ele beija Hanlo no pescoço. - Está bem? Conte para ela.
- Está certo... Vou contar para ela daqui uma semana. - Finaliza, cedendo às carícias do amante.

Ferroah espicha o pescoço, e vê os dois se beijando. Ela fica estática. Os olhos marejam, enquanto ela olha o presente que havia comprado. A saída se dá conforme havia entrado, em silêncio. Caminhando pelo corredor, ela joga o presente no lixo e cruza pela faxineira.

- Encontrou ele, Ferroah? - A garota passa a mil, aos prantos.

No mesmo dia de noite, ela está ao lado de um monumento do noivo, no hall de heróis da base. O esplendor da estátua é fitada por Ferroah, que, logo, mira o espaço pela janela. O comunicador toca. É a décima terceira chamada perdida do noivo. Mais lágrimas brotam, e ela cruza os braços entre as pernas elevadas contra o peito, apoiando a cabeça.

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