– Sai de cima de mim! Seu velho louco e tarado! – Ela gritou ainda com a máscara no rosto. Claramente era uma garota.
Dal-po saiu de cima dela e deu umas batidinhas na roupa pra tirar a poeira. Então, a garota tirou a máscara, ela tinha o rosto redondo com os olhos e os cabelos – curtos, um pouco abaixo dos ombros – castanhos, estava com as sombrancelhas em expressão de indignação, e então começaram as perguntas.
– O que você estava fazendo aqui a essa hora da madrugada? – O guardinha perguntou.
– Acho que está um pouco óbvio, senhor. – Disse a garota.
– Olhe o desacato, eu sou uma autoridade.
– Oh, perdão, vossa santíssima autoridade. – Cantarolou e fez uma reverência irônica para o segurança.
Os três amigos estavam totalmente imóveis, tentando processar o que tinha acabado de acontecer, mas eles sequer tinham entendido, então apenas deixaram que o cara fizesse seu trabalho.
Aquela garota de nome desconhecido era meio diferente das outras que Namjoon já conhecera, mas convenhamos, quantas garotas você já viu vestida de palhaço de madrugada correndo atrás das pessoas com um taco de baseball? Creio que nenhuma.
– Ok, meninos. – O guarda virou para eles e continuou – Parece que ela não fez nada de mais, então, não posso multá-la ou até prendê-la.
Essa frase deixa eles boquiabertos.
– Como assim? Essa garota quase nos fez morrer de exaustão por correr sei-lá-quantos metros sem parar, e você não pode prendê-la? – Namjoon, que era geralmente o mais calmo e pensante do grupo, perdeu a paciência.
– Ela não cometeu nenhum crime, então... – O guarda falou e ele bufou em resposta, estava indignado da forma que aquela garota sairia ilesa, mas, ele inspirou, expirou, pensou e repensou, até convencer a si mesmo que não era necessária nenhuma discussão.
– Isso aí, olha, eu não sabia que essa brincadeira poderia ser tão séria, mas, se você está tão incomodado, eu vou embora. – Ela falou indo rapidamente até um arbusto e sacou uma bolsa de lá. – Bye, bye. – cantarolou. E então saiu correndo até a praça, os garotos e o guarda quiseram seguí-la, mas quando chegaram até onde ela tinha ido, não havia ninguém lá.
– Bom, foi isso, boa madrugada meninos, e se cuidem. – O guarda falou e entrou na guarita.
Eles então deram meia volta e voltaram para a trilha, dessa vez, a luz da lua clareava um pouco mais o caminho de volta para o acampamento, então não era preciso uma lanterna. Um silêncio se instaurou entre os três, com excessão dos comentários de Jimin, que serviam para eles não ensurdecerem com os gritos das cigarras.Quando eles chegaram até o acampamento, a única coisa se movendo por lá era o fogo ofuscante da fogueira, ele estava mais baixo, mas ainda sim forte.
Os outros garotos que não tinham ido para a "aventura incrível", estavam em suas barracas, dormindo.– Eu estou morto de fome. – Namjoon diz e se senta à fogueira novamente, pegando a embalagem de marshmallows que estava perto e enfiando uns três na boca de uma vez.
– E eu – Yoongi falou apontando pra si mesmo – estou morto de sono. – ele caminhou até a sua barraca com estampa de camuflagem, tipo as do exército, e se jogou lá dentro, sem fazer qualquer barulho.
– Hyung. – Jimin começou também se sentando à fogueira. – Essa aventura foi muito legal.
Namjoon nem estava se lembrando da aventura, naquele momento, a sua mente estava ocupada em se concentrar para mastigar todos aqueles marshmallows na sua boca, mas assim que Jimin comentou, ele se lembrou de tudo, da palhaça, do taco de baseball, do guardinha, até da saída estranha da garota.
– É... – Foi a única coisa que ele conseguiu responder.
– Você não gostou, hyung?
– Não, não é isso, eu gostei, mas é que... Sei lá.
–...
– Hey Jimin, quer? – Falou entregando-o o saco de doces.
– Não, obrigado, mas... – Ele disse meio pensativo. – Por que você ficou tão bravo com aquela garota sendo que ela foi a peça fundamental para a nossa aventura?
Essa era uma pergunta boa, que Namjoon não conseguia responder, e até fazia sentido ele perguntar isso, porque se nem mesmo o Yoongi se zangou – e olha que a paciência dele é do tamanho de um átomo –, porque ele tinha se descontrolado daquele jeito? Se perguntou.
– Achei que fosse injustiça deixá-la impune... Imagine se fosse uma velhinha cardíaca no nosso lugar. – ele falou, foi a resposta mais convincente que conseguiu, mesmo sendo mentira.
– Mas o que uma velhinha faria às três horas da manhã aqui na Seul Forest?
– ...
– ...
– Pare de fazer perguntas!
– Espera aí...
– Não, não, não.
– Você está mentindo! – Jimin gritou e riu.
– Não é isso que você está pensando! – Namjoon tentava convencê-lo, mas era impossível.
– Você gritou com ela porque estava nervoso! Hahaha! – Continuou gritando enquanto seu amigo tentava esconder o rosto em meio a tanta vergonha.
– Pensando bem, eu vou dormir. Boa noite, Jimin! – Ele falou rapidamente e se jogou na sua barraca tentando pegar no sono o mais rápido possível, o que não deu muito certo, já que ele estava sem uma gota de sono.
Então, ele pensou no melhor jeito de ocupar a mente, pensando.
Ele se lembrou de uma frase muito significativa em um dos seus livros favoritos: Demian."Quando se quer algo verdadeiramente e com suficiente força, acaba-se por consegui-lo sempre".
Mesmo que essa frase possua um grande significado e lição por trás de tudo. Tudo que ele queria com suficiente força era dormir e poder esquecer daquela palhaça doentia que acabara de persegui-lo.
Por mais que pensasse e pensasse, nas coisas mais aleatórias possíveis, tudo que vinha na sua mente era os últimos minutos, ele já estava cansado disso, e até cogitou a ideia de bater na própria cabeça para desmaiar e só acordar no dia seguinte, mas ele inteligente o suficiente para saber que uma concussão poderia matá-lo, e suicídio não era uma boa agora.
Então ele permaneceu deitado na barraca, virando de um lado pro outro no saco de dormir, até ele finalmente se lembrar que tinha levado um livro para o acampamento: Sherlock Holmes em A Ciclista Solitária³.
Então ele ligou a lanterna e começou a ler, mas aquilo não serviu para dar-lhe sono, pelo contrário, o deixou ainda mais desperto. Depois de alguns capítulos ele guardou o livro em baixo do travesseiro novamente pegou o celular. Nenhuma mensagem. Nenhuma chamada. Nada.
Será possível que não há nada pra fazer aqui nessa barraca? Pensou consigo mesmo.
Ainda entediado, ele pôs a cabeça do lado de fora da barraca e viu que não havia mais ninguém na fogueira, uma ótima chance para roubar uns doces.
Ele levantou tentando não pisar em nenhum galho, e andou a passos lentos até os bancos de madeira bruta, onde haviam o alvo de furto daquela noite. Ele pegou a embalagem e olhou ao redor para ver se nenhum dos seus amigos estava acordado para vê-lo roubando. Resultado: todos dormindo. Então ele voltou para a sua barraca no mesmo ritmo em que foi, chegando lá em alguns segundos.Assim que ele entra e se senta sobre o saco de dormir, alguém abre a sua barraca recém-fechada e enfia a cabeça dentro dela.
– Ei, desculpa a invasão mas, vem aqui comigo? – A pessoa falou. E era aquela palhaça.
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³Desculpa, eu tinha que recomendar pra vocês, esse livro é muito bom.