Amor Vagabundo

VII

V. Autora

Carolina sabia assim que a sua tia Gina foi embora que nada voltaria a ser como antes, mas será que uma pessoa conseguia mudar tanto de um dia para o outro, um primeiro beijo não pode mudar tanto uma pessoa, e no entanto ali estava ela, decidida a ser uma nova Carolina. Decidida a deixar a timidez e as reservas de lado, ia ser precisamente aquilo que o H a tinha acusado de ser, ia ser uma tentação, uma provocação para ele. E ia desejar nunca a ter beijado.

O problema é que Carolina não sabia que a ultima coisa que estava a acontecer naquela noite era o H desejar nunca a ter beijado, o que estava a acontecer era precisamente o contrário, ele desejava sim nunca a ter tratado como tratou depois do beijo, antes disso ele não mudaria absolutamente nada. Mas agora não havia nada a fazer, ela tinha deixado a festa e a última coisa que tinha dela era o rosto ainda ardente do estalo que levara.

Não podia ir atrás dela, não depois do que lhe disse. Mas se fosse apenas esse o senão. Ele era demasiado orgulhoso para admitir que sentia alguma coisa por aquela rapariga para além de gozo. A atração era evidente mas ela tinha tudo para provocar isso em qualquer rapaz, embora fosse reservada e orgulhosa ele gostava de a provocar. Mas aqui está ele sentado no sofá da sala, no meio de uma grande festa de aniversário a ser lambuzado pela sua suposta namorada Raquel. Ele não podia estar mais desinteressado nesta troca de carinho mas ela parece não se importar com isso, aliás parece que ela só se importa em ter o estatuto de namorado do quarterback porque não se pode chamar namoro ao tipo de relação que eles têm. Tem uma relação basicamente sexual e ela não é a única a ter esse tipo de relação com ele portanto acho que o rumor de que namoram foi espalhado pela própria Raquel e o H nunca se deu ao trabalho de o desmentir porque não lhe interessa minimamente o que pensam desde que isso não atrapalhe as conquistas que ele tenciona fazer está tudo bem.

Enquanto o H está na cama com a sua alegada namorada Carolina está na cama com os seus planos para o dia que se vai seguir. As palavras e concelhos de Gina ecoam na cabeça dela e só espera ter o que é preciso para ser a arrojada sedutora da equipa de futebol da universidade.

São seis da manhã quando Carolina acorda e veste o seu equipamento para fazer o treino matinal. A cama de Mia está vazia e ela supõe que deve ter ficado a noite toda na festa ou então deve ter passado a noite com o Nick.

Quando chega ao campo de futebol começa a correr à volta do relvado e diferente da última vez que cá esteve ninguém aparece para a acompanhar e ela fica grata por isso, preciso deste tempo para se preparar para o dia que vai enfrentar e dispensa qualquer distração.

São nove da manhã quando Carolina entra na sala de aula para ter uma aula sobre deporto coletivo, mais uma aula teórica. Mas o que a aborrece não é o facto de se tratar de mais uma aula teórica mas sim dos colegas que se entram pela porta da sala já por si atrasados e de ressaca. César é o primeiro a passar a porta seguido de H. Instintivamente Carolina baixa a cabeça sobre os livros e evita olhar para eles e espera, profundamente que estes não reparem que ela está ali sentada.

Ele soube assim que entrou na sala que a Carol estava lá, eles conseguia senti-la, não sabia como nem por que motivo mas quando levantou o olhar e olhou em seu redor reconheceu aquela cabeleira loira desarrumada. Por ser orgulhoso ou simplesmente parvo sentou-se na cadeira por trás dela que se encontrava livre deixando assim a do lado para o César se sentar e assim o fez.

- Então fugiste da festa ontem? A Mia disse que tinhas ido com ela mas não te encontrei.

Carolina olha pelo canto do olho sem se virar para o H quando César lhe fala sobre a noite de ontem, ambos conseguem sentir a tensão no ar, parece que o beijo não afetou apenas um dos dois.

- Pois tinha outros planos.

- Tipo o quê? Estudar?

H não sabia porquê que continuava com os seus comentários irónicos nem sequer sabia porque se estava a meter na conversa dos dois mas era mais forte que ele, aquela rapariga tinha como que o íman que o atraía para ela e isso ele não podia suportar. Ela continuava sem olhar para ele e isso ainda o estava a incomodar mais. Mas de repente César teve uma atitude que nenhum dos dois esperava.

- Queres sair comigo logo à noite?

H começa a sentir o seu corpo em ebulição e com um vontade enorme de fazer um comentário que os distraia da conversa mas não quer parecer demasiado interessado e o amigo já começou a desconfiar de alguma coisa. Finalmente Carolina olha para este e com um sorriso vitorioso no rosto responde.

- Sim claro.

H encosta-se na cadeira de braços cruzados e não consegue evitar sorrir pois está convencido de que ela apenas aceitou para o provocar e bem admitamos de que está a conseguir porque ele nunca se sentiu tão incomodado com o fato do amigo sair com uma rapariga como agora.