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- Mãe vais ter de me largar.

- Vá lá Francesca a Carolina fica bem tens de a soltar.

- Mas vou ter tantas saudades.

- Eu também mãe, mas isto é o meu sonho.

- Se te custar muito podes voltar para casa. Sabes isso não sabes?

- A mana não precisa voltar, assim temos o quarto dela só pra nós!

- É que nem sonhem pirralhos!

- Chega! Vá querida, já sabes concentra-te nos estudos e na bola, nada de rapazes, qualquer coisa ligas-me que eu venho num instante.

- Pai por favor rapazes não é um problema pra mim.

- Vamos embora, fica bem querida. Francesca dá um último abraço à tua filha. E vocês um beijo à vossa irmã.

- Detesto beijos.

- Isso é para meninas.


Despacho-me a dar-lhes um beijo bem baboso em cada um deles e um último abraço à minha mãe e ao meu pai e vejo-os partir. Não posso fingir que uma parte de mim vai com eles naquele carro, mas a maior fica aqui precisamente onde estou, vou começar a etapa mais importante da minha vida e não quero perder nada.

Entro no meu quarto onde posso ver duas camas de solteiro e numa delas uma rapariga com o cabelo coberto de enormes rastas presas num rabo de cavalo a sorrir para mim.


- Olá sou a Mia, a tua colega de quarto.

- Olá, Carolina. Prazer.

- Então em que curso estás?

- Desporto e tu?

- Eu estou em artes. - responde apontando para o cabelo como se fosse uma resposta óbvia. Nunca fui de julgar as pessoas pela aparência ou de lhes pôr algum rótulo.

- E esta prancha?

- É minha, pratico surf, mas se não gostares dela aqui posso tentar que o meu irmão a guarde no quarto dele.

- Não incomoda mesmo, só achei estranho.

- Uma prancha de surf num quarto de estudante?

- Uma estudante de artes com uma prancha de surf sim.

- Pois tu e toda a gente. No tempo livre sabe bem afastar-se de tudo e desaparecer no meio do mar.

- Deve ser fixe.

- Nunca experimentaste?

- Na verdade nunca pensei nisso sequer.

- Bem podes me acompanhar quando quiseres.

- Se estiver livre, porque não.

- Vou esta tarde com o meu irmão e uns amigos que te parece?

- As aulas só começam amanhã por isso acho que não me fazia mal.

- Então combinado. Às 18h saímos.

- Tão tarde?

- Gostamos de apanhar o pôr do sol.


Desfaço as malas e quando acabo de arrumar toda a roupa e livros que trouxe já passa das 17 horas, tenho tempo de tomar um duche e vestir qualquer coisa mais quente e confortável. Pego na minha pochette que contém tudo que preciso para tratar da minha higiene num balneário misto.

São 18 horas e 05 minutos quando fico pronta, afinal tomar duche em balneário demora muito mais do que em casa e do que eu esperava. Quando a Mia entra no quarto vem com ar zangado e espero que não tenha sido por eu me atrasar.


- Não acredito que aquele imbecil foi embora sem mim. Agora temos de ir de táxi.

- Desculpa por me ter atrasado, não estou habituada a balneários.

- Não foi por tua culpa ele adora fazer-me isto e deixar-me irritada.

- Só dá para ir de táxi?

- E com a prancha não sei. Podia pedir ao Nick mas ele só tem mota e não cabemos os 3.

- Eu posso ir outro dia não te preocupes.

- Nem pensar ele faz duas viagens. Anda!


Sigo-a pelo corredor que vai dar a umas escadas que subimos e deparamos com um corredor diferente do nosso. Quando a porta onde ela acabou de bater se abre um rapaz muito parecido com ela está à nossa frente.


- Nick preciso que nos leves à praia.

- Ele foi outra vez sem ti?

- Pois eu sou capaz de o ter chateado um bocado de tarde.

- Sobre o quê agora?

- O mesmo! Futebol.


Continuo ali parada a ouvir uma conversa que em nada me diz respeito e a única coisa que percebo é que a minha colega de quarto e o irmão discutiram por causa de futebol.


- Eu não sei conduzir uma mota Nick.

- Pois mas eu tenho reunião daqui a pouco não posso.

- Eu sei conduzir.

- Boa está resolvido! Vamos!

- Mas...


O tal de Nick parece confuso quando Mia pega na chave e na minha mão e começa a sair em direção à mota.


- O H vai morrer quando nos vir chegar de mota!


Diz ela em meio de risos e eu sei que reconheço aquele nome, pensei que nunca mais o ia voltar a ver e aqui estou eu numa mota com a irmã dele em direção a ele.

Amor VagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora