9. Isso não podia acontecer.

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"And nothing matters now."
Michael — Franz Ferdinand


CHELSEA

O local anotado por nós era praticamente do lado oposto da cidade. Pelo que tínhamos visto no mapa, era bem longe. E era mesmo. Já estávamos há quase duas horas caminhando. Bem, pelo menos chegaríamos a tempo, afinal, não estávamos tão longe agora. Na verdade, até que estávamos bem perto.

Durante a caminhada, coletamos munição e fizemos mais daquela pasta com as plantas verdes. Era só por precaução, já que estávamos nessa cidade infestada de monstros. Sem contar que quando chegássemos no bendito helicóptero — se é que teria um —, precisaríamos matar os caras da Umbrella para tomarmos e helicóptero e sairmos desse lugar.

Por algum milagre, talvez, Nemesis não nos encontrou mais nenhuma vez. Talvez ele estivesse ocupado atrás de outros membros do S.T.A.R.S. — era isso que esperávamos, pelo menos.

O problema aqui era que estava tudo muito calmo. Quando tudo fica calmo por um longo período de tempo, tem duas coisas possíveis de acontecer: ou as coisas voltam para o meio termo ou a balança gira de cabeça para baixo, invertendo a situação. Ou seja, não demoraria muito tempo para as coisas voltarem ao normal ou piorarem incrivelmente. Eu tinha medo da segunda opção.

Girei o anel no meu dedo. A morte de Ray ainda me afetava. Eu não acho que um dia isso pararia de acontecer. Ele sempre fora importante para mim. Não era uma coisa que sairia da minha cabeça em pouco tempo e, talvez, nem em anos e anos. Eu não tiraria aquele anel. Nunca mais.

— Cuidado! — Brittany gritou.

Fui derrubada no chão. Michael me derrubara.

Exatamente como eu havia pensado. A balança virou. Coisas horríveis estavam prestes a acontecer. Cody havia voltado. E sim, ele estava usando suas asas. Como se não desse para piorar a situação, estávamos a céu aberto.

Kennedy atirou na direção dele.

— É o Cody! — o lembrei. — Cuidado!

— Ele está tentando nos matar — Kennedy rebateu.

— Mas é o Cody! — Peter foi quem insistiu naquilo.

— As asas! — Mable gritou. — Tentem atirar nas asas.

— Isso — Richard concordou. — As asas são parte do Creeper, não do Cody.

E foi o que tentamos fazer. Não tivemos sucesso.

Ele desceu e, mais rápido do que eu podia acompanhar, ele já estava ali, bem em minha frente. Meus reflexos não foram rápidos o suficiente. Cody estava tremendamente assustador daquele jeito. Eu não tive reação.

Ele me pegou pela mandíbula e me virou. Ele era forte demais. Era como se eu fosse de papel. Estremeci. Brittany, Helena, Kennedy, Mable, Michael, Peter e Richard — todos eles, sem exceção — olhavam para aquela cena com olhos arregalados. Eles não sabiam o que fazer. Quis chorar, mas nenhuma lágrima desceu. Eu estava morrendo de medo.

Senti aquele monstro me farejar com vontade. Era igual aos filmes. O Creeper pegava apenas as vítimas que tivessem algo que fosse bom para ele comer; Algo que ele precisasse recuperar em seu corpo. Se a pessoa não tivesse aquilo, ele provavelmente a deixaria. Porém, assim que ele sentisse que alguém tinha o que ele precisava, ele não deixava a pessoa em paz, não parava de a seguir. Pelo fato de ele ter nos encontrado agora, depois daquela loucura com o velho caminhão na estrada, ele sabia que alguém tinha algo que ele queria. E como ele descobriria isso? Pelo cheiro.

Eu não queria ser egoísta, mas estava torcendo para que não fosse eu. Eu só não queria morrer. Ray já tinha se ido. Eu tinha que sair dessa e viver uma vida feliz. Por ele. Eu devia isso a ele.

Gritei e grunhi com a dor. Ele havia me jogado para longe. Agora ele estava com... Michael.

— Não! — gritei em desespero ao ver aquele monstro farejar o pescoço de Michael. — Meu irmão, não! Cody, não faça isso! — as lágrimas desciam rosto a baixo. — Droga, Cody! Por que você não me leva? Largue Michael e me leve! — eu insistia. Ele me fitou e então, voltou a farejar Michael. — Não!

Ele bateu suas asas e levantou voo, carregando Michael para longe. Michael gritou para nós e eu continuei gritando para ele, em desespero. Não! Isso não podia estar acontecendo. Eu tinha perdido Ray para sempre e, agora, Cody — ou melhor, o Creeper — tinha tirado meu irmão mais novo de mim. Gritei, chorando.

— Sinto muito, Chelsea — Mable me abraçou forte.

Eu sabia que meus amigos — minha família — estavam ali para mim, mas eu não conseguia suportar isso. Era demais. Doía demais. Não fazia sentido. Era como se tudo aquilo tivesse perdido importância. Eu ainda sabia que precisava sair daquela cidade, mas era algo difícil de se fazer.

— Nada mais faz sentido — choraminguei.

A Maldição de Craven ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora