7. Anel de noivado.

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"At the time everything was going wrong but you made everything seem alright."
Chelsea — Mest


CHELSEA

— Aqui, pegue — Brittany disse. — Você precisa disso.

Agradeci e olhei para aquela pasta verde estranha. Parecia nojento, mas meu braço estava machucado. Eu precisava daquilo. Ingeri o remédio, já esperando que a dor no meu braço desaparecesse. Mas aquilo não era mágico, não acontecia de uma hora para a outra. Pelo menos, agora sabíamos que as plantas verdes funiconavam como um remédio para os machucados. Meus amigos já tinham a usado antes. Quando percebemos que aquilo era real, sim, e fazia efeito, começamos a coletar as plantas e fazer mais daquele tipo estranho de pasta. Brittany era a única que tinha a habilidade de transformá-las naquilo. Peter e Michael sempre a ajudavam, já que tinha a visto fazer aquilo da primeira vez.

Andamos por diversos lugares. O keycard da Dra. White já era inútil. Eu queria jogar tudo para o alto e sair daquela cidade. Porém, se saíssemos de Raccoon City, condenaríamos Ray à morte. Nós tínhamos terminado o relacionamento, sim, mas eu o amava e, obviamente, não queria vê-lo morto. Aliás, de qualquer modo, não tínhamos como sair da cidade. E esse era só mais um problema para acrescentar à lista. Se não descobríssemos uma maneira de sair dali, todos nós morreríamos ao amanhecer.

— Chelsea, tenta se acalmar — Helena pediu, em tom baixo.

— Estou calma — menti. Eu não estava. Nem um pouco.

— Claro que está — Helena bufou. — Você não para de andar de um lado para o outro.

Ela estava certa. Eu estava me martirizando. O que me matava por dentro cada vez mais era o fato de que, mesmo depois de todo esse tempo andando por aí e todos os lugares que passamos, não tínhamos conseguido encontrar nada e nem ninguém que pudesse ajudar Ray. E a cada segundo ele piorava mais e mais. Depois de começar a suar muito e arder em febre, não demorou muito para que ele desistisse de andar. Checamos o perímetro, constatando que o local parecia seguro. Era um tanto quanto tranquilizante saber que estávamos em um lugar fechado, em uma sala grande, livre de zumbis e armas biológicas da Umbrella Corporation. Aqueles filhos da puta!

— Chelsea — Mable colocou a mão em meu ombro, me causando um susto. — Me desculpa. Ray pediu para chamar você.

— Eu não... — comecei, mas ela já me interrompeu.

— É claro que você consegue — insistiu. — É o cara que você ama e não conseguimos salvá-lo. Você precisa ir lá.

— Antes que seja tarde demais — completei o que ela não quis dizer. — Você está certa.

Passei por ela e fui até onde Ray estava. Sentei no chão ao seu lado e virei de frente para ele. Envolvi minhas mãos na sua.

— Me desculpa por termos brigado daquele jeito — Ray disse. — Sinto muito, Chelsea. Eu nunca pensei que acabaria assim.

— Não, pare com isso — implorei, com os olhos marejados. — Vamos encontrar o anti-vírus. Nós vamos te salvar.

— Não, Chelsea, você tem que parar com isso — disse. — Você sabe que não temos mais tempo para isso.

Beijei Ray em meio às lágrimas. Isso não podia estar acontecendo. Não podia. Não com ele. Era injusto.

— Você não pode se ir — choraminguei.

— Gente, foi ótimo conhecer todos vocês e fazer parte da família — ele sorriu brevemente. — Se conseguirem tirar o Cody dessa, digam a ele que foi incrível ser amigo dele.

— Nós todos te amamos, cara — Richard forçou-se a dizer. — Você sabe.

— Chelsea, eu preciso te contar uma coisa — Ray segurou minha mão com força. A cada segundo ele parecia pior. Eu nunca mais queria soltar. — Eu sei que você ama o Halloween e que foi em uma festa de Halloween que nos beijamos pela primeira vez — ele tossiu. — Sabe, quando eu conheci você, nunca pensei que um dia você significaria tanto para mim, mas acabou que eu fiquei louco por você — abri um sorriso enorme. Como ele podia me fazer sentir tão feliz enquanto ele estava tão mal? — A gente começou a sair e, sabe, naquele tempo minha vida estava terrível e você simplesmente melhorou tudo. Tudo parecia bem. Você mudou minha vida — ele enxugou uma lágrima que desceu pelo meu rosto. — Tenho uma coisa para você.

— Ray, eu...

— Não precisa falar nada, Chelsea. Eu quero que fique com isso — ele tirou uma caixinha preta do bolso e me entregou. — É um anel de noivado. Eu sei como noites de Halloween são importantes para você e para mim. Eu ia te pedir em casamento hoje à noite. Todos já sabiam — ele olhou brevemente para os outros e riu. — Sei que não vai poder ser comigo, mas eu amo você, Chelsea, e só quero que você seja feliz.

— Você é incrível! É o melhor cara que eu já conheci na vida — o beijei, entre lágrimas e então, coloquei o anel. — Eu nunca, nunca mesmo, vou tirar esse anel.

— Agora, preciso pedir uma coisa a vocês — Ray anunciou. — Quando eu for me transformar, vocês têm que me matar. Preciso que vocês façam isso.

Houve aquele momento longo de silêncio, mas não tínhamos outra opção. Todos concordaram. Fiquei abraçada em Ray até o último momento possível. Não demorou muito para Ray fazer com que eu me afastasse dele. Ele sentia que estava prestes a virar um maldito zumbi. Meu irmão fez menção de se oferecer para dar o golpe de misericórdia, mas eu sabia o que precisava ser feito. Eu sabia quem precisava fazer aquilo. Beijei os lábios do homem que eu mais amava pela última vez, peguei a pistola dele e levantei. Afastei-me dele e fechei os olhos. Aquilo era uma droga. Respirei fundo, mas não tinha como me sentir aliviada em uma situação daquelas. Abri os olhos e olhei no fundo de seus olhos.

— Eu amo você, Ray.

As lágrimas cobriam meu rosto por inteiro. Eu senti um aperto enorme no coração, mas precisa fazer aquilo. Por Ray. Apontei a nove milímetros para a cabeça do cara que eu mais amava no mundo e puxei o gatilho. Joguei a arma no chão, abracei Mable com força e chorei.

A Maldição de Craven ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora