"Believe me, I'm very aware and I'm sorry."
Cody — Bowling For Soup
✘ MABLE ✘
Estávamos um pouco longe da cidade quando pousamos. O local era mais alto, então, ainda podíamos ver Raccon City, ao fundo. Caminhamos até chegar na estrada principal. Não podíamos seguir com o helicóptero, afinal, estávamos em um mundo fictício. Só podíamos nos afastar e esperar que aquilo tudo acabasse. Chegamos a um posto de gasolina. O local cheirava mal e o posto estava completamente abandonado, assim como os dois carros que estavam estacionados ali. Ambos os veículos estavam amassados, porém, um deles tinha um pneu furado. Bem, na verdade, estavam rasgados, estourados. Não parecia que o pneu furado tinha sido um acidente. Parecia intencional. Mas quem quer que estivesse dirigindo aquele carro, não estava mais ali para nos contar a verdadeira história.
Ouvimos o barulho forte e alto. Pude sentir o chão tremer abaixo de meus pés. Assistimos juntos a explosão de Raccoon City. Para falar a verdade, o que eu sentia era um pouco estranho. Apesar de todas as baixas e toda a merda que havíamos passado naquela cidade, aquilo era meio trsite. Uma cidade inteira sendo varrida do mapa por culpa de uma única companhia farmacêutica.
Um barulho estranho de metal me arrancou de meus pensamentos em um espasmo.
— O que diabos foi isso?
Acompanhei o olhar de todos os outros até Peter, que tinha arranjado — seja lá como — um grande pedaço de ferro.
— Que foi? É só para garantir — ele deu de ombros. — Ainda não estamos livres.
Ele tinha razão.
Decidimos pegar aquela lata velha que estava com os pneus intactos. Carro antigo e pesado. Ótimo. Era o meu tipo favorito de carro para dirigir. Entrei e sentei na frente do volante. Richard sentou ao meu lado. Chelsea, Helena, Brittany e Peter dividiram o banco de trás. Nós não tínhamos para onde ir, mas todos concordaram que era melhor nos afastarmos dos restos mortais daquela cidade até que a maldição dos Craven finalmente acabasse.
Nem cinco minutos dirigindo e fomos surpreendidos por ninguém menos que o Creeper. Ele estava parado naquela estrada, bem a nossa frente. Aposto que havia sido ele quem estourou o pneu daquele carro e levou o motorista para longe. Aquele maldito! Era como se estivesse nos esperando.
— Mable! — Richard alertou. — É o Cody!
— Aquela coisa não é meu irmão — grunhi. — Ele levou Michael!
Pisei com ainda mais força no acelerador e não ousei mudar a direção do carro. Eu não iria desviar. Ouve um baque e então, eu freei.
— Mable, o que está fazendo? — Brittany questionou.
— A mesma coisa que no primeiro Olhos Famintos? — Helena sugeriu e eu concordei.
Dei a ré e passei por cima dele outra vez.
— Não é estranho que ele não tenha pulado por cima do carro na primeira vez? — Richard questionou, enquanto eu acelerava e passava por cima do Creeper uma última vez.
— Talvez ele já estivesse machucado — Peter sugeriu.
— Foi o que eu pensei.
Desci do carro. Eu sabia que isso não era inteligente, mas cara, era o Cody. Eu podia falar o que quiser e bem provavelmente — mesmo depois disso tudo — seríamos mortos por ele, mas ainda assim, aquela coisa tinha tomado conta do meu irmão. Lá no fundo, ainda era Cody. Eu precisava vê-lo.
Respirei fundo e caminhei até ele. Chelsea foi a primeira a me seguir, mas logo todos estavam ali, juntos de nós duas.
Ele se mexeu. Eu não sabia se era um espasmo ou uma tentativa de levantar. Fiz questão de apontar minha calibre doze para ele e gastar aquela última bala. Acho que era apenas um espasmo mesmo. Ele não parecia muito bem, ou teria levantado e nos atacado.
Chelsea gritou muito enquanto descarregava sua arma nele. Abracei-me em Richard e o apertei entre meus braços.
— Quer que eu faça ela parar? — ele murmurou apenas para que eu ouvisse.
— Não, ela merece isso — murmurei de volta. — E se ele levantar daquele chão, estamos mortos.
Chelsea arrancou o pedaço de ferro das mãos de Peter e, com o rosto coberto por lágrimas, cravou o objeto no peito do Creeper. Ele se contorceu por alguns segundos, fazendo todos nós darmos um passo para trás. Então, ele parou de se mover.
Nós sabíamos que ele não estava morto, afinal, o Creeper não morria.
— Mable, sinto muito — Chelsea choramingou. — Eu só...
— Não precisa se desculpar, Chelsea, eu entendo — garanti.
Naquele exato momento, o sol apareceu no horizonte. Em um piscar de olhos, o ar ao nosso redor pareceu mudar. Olhei ao nosso redor e vi a placa, indicando um nome familiar. Craven Road.
— Estamos de volta — Richard anunciou.
Ouvi uma tosse estranha e, automaticamente, voltei-me para Cody. Ele permanecia estirado no chão, no mesmo lugar, vestindo aquela fantasia macabra que eu havia achado incrível no começo da noite.
— Mable... — ele chamou, murmurando mais alguma coisa que fora impossível de ouvir.
Desvencilhei-me dos braços de Richard, correndo para me ajoelhar no chão ao lado do meu irmão. Tinha sangue escorrendo de sua boca.
— Cody — falei, sem conseguir segurar o choro.
— Mable, eu lembro de tudo o que aconteceu — ele choramingou. — Eu lembro de tudo o que eu fiz... — ele apertou minha mão. — Eu sinto muito, Mable. Eu realmente sinto muito.
— Sinto muito, Cody — Chelsea parou, de pé, ao meu lado. Ela também estava chorando. — Por favor, Cody, me desculpe.
— Vocês fizeram o que tinham que fazer — ele se esforçou para dizer. Tinha muito sangue. — Depois do que fiz com Michael, eu merecia.
— Eu te amo, Cody — choraminguei, entre lágrimas.
— Descanse em paz — ouvi Richard dizer.
Naquele mesmo instante, a mão de Cody ficou leve demais. Eu tinha o perdido. Tinha perdido o meu irmão mais velho. Respirei fundo e fechei os seus olhos para sempre.
— Todos os corpos estão aqui! — Helena gritou. — Todos. Na beira da estrada.
Levantei e fui observar, junto dos outros. Eles estavam mesmo. Cada um em um lugar e a uma distância diferente. Eles tinham as mesmas marcas. O que vivemos havia sido real, mas...
— Chamei a polícia — Brittany avisou. — Estão vindo.
— Vocês sabem que eles não vão acreditar em tudo o que a gente passou, não é? — questionei o óbvio.
— E o que iremos falar? — Chelsea perguntou.
— O assassino na estrada — Helena respondeu.
— Passamos a noite tentando sobreviver — Brittany seguiu a linha de pensamento.
— E ele simplesmente foi embora quando amanheceu? — Richard levantou a questão.
— Isso — Chelsea disse. — E nós tivemos a sorte de conseguirmos sobreviver.
— Mas assim vão pensar que nós os matamos — Helena observou.
— Eles não vão — falei. — O assassino dos irmãos Craven fingiu ser o sobrevivente do massacre e, na época, ninguém suspeitou dele.
— Isso que ele nem sequer era amigo deles — Brittany apontou. — Faz sentido. Pode funcionar.
— Uau! Parece que acabamos nos tornando parte da lenda urbana dos irmãos Craven — Peter resolveu verbalizar o que todo mundo estava pensando.
— Não podemos deixar nossos decendentes esquecerem que a lenda é verdadeira — Richard disse.
— Mas eles esquecerão — falei tristemente. — Eles sempre esquecem.
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A Maldição de Craven ✔
Short StoryEm uma festa temática na noite de Halloween, um grupo de onze amigos é amaldiçoado por três viajantes misteriosos a quem deram carona mais cedo. Intrigas. Zumbis. Armas biológicas. Um supervilão faminto. Não será fácil de sobreviver. Conto escrito p...