Prólogo

7.1K 451 22
                                    

SJ

Sentado despreocupadamente em uma cadeira, coço minha barba enquanto finjo prestar atenção no que o homem de meia idade atrás da mesa está ditando. Tenho 99% de certeza que ele está me dando bronca, mas isso se tornou tão frequente que nem tenho o trabalho de ouvi-lo. Na minha cabeça está se passando imagens de hoje cedo, uma conversa que tive com Connor, o único cara aqui dentro que tenho absoluta certeza que posso contar em todos os momentos, não sei se posso chamar de amizade, na minha profissão não existe isso. Sem nenhum tipo de compaixão, sem nenhum tipo humanidade e por isso não há espaço para fazer amigos, ou construir uma família — não que eu queira. — nunca conheci nada diferente do que isso aqui, e não acho que um dia irei conhecer.

Mas essa conversa com Connor me fez imaginar como seria ter tudo isso, uma esposa, filhos... não, isso seria impossível, caras como eu não tem futuros coloridos como esse. Connor ainda sonha com esse bendito dia, sinceramente estou torcendo para que ele consiga o que procura. Já eu? Faço parte desse lugar, me tornei um pedaço daqui e não passa pela minha cabeça mudar. Saio dos meus devaneios quando ouço uma batida forte na mesa a minha frente, pisco para então focar minha visão no velho grisalho que me fita com ódio, como se eu fosse um inútil.

— Sabe a sua sorte SJ? Sabe? — ele pergunta rosnando, aperto minha boca pois sei que isso foi uma pergunta retórica, se eu ousar responder, sou punido aqui mesmo — Sua maldita sorte, é que você é o meu melhor agente... os melhores trabalhos vão para você, pois é o mais experiente, mas também é o mais arrogante e petulante.

Penso em abaixar a cabeça, mas não faço, aprendi desde cedo que se meu superior aumenta a voz para mim, não devo abaixar a cabeça, mas sim encará-lo olho no olho para mostrar que estou entendendo.

— Eu dei um trabalho simples SJ, muito simples. Pegue o alvo, prenda e tire informações dele, qual é a dificuldade de fazer isso? — abro a boca pra responder, mas ele ergue um dedo me silenciando. — Calado, eu não dei ordem alguma de matá-lo porra.

— O desgraçado me acertou com uma faca. — rosno enquanto toco minha perna onde ainda está sangrando, o corte é profundo, mas o homem a minha frente está fodendo para esse detalhe.

— Porra SJ, e o código? Como fica? — ele grita, eu também acabo me alterando um pouco.

— O código diz que podemos matar se for para nossa defesa, foi o que eu fiz. — grito de volta Finn dá um passo para trás surpreso com minha reação.

— Olha lá o tom que você usa comigo seu garoto petulante. — Finn grita apontando o dedo na minha cara. — Aqui é uma organização, você não foi o único a ser salvo da porra fodida que era sua vida, então não venha se achar o especial aqui, todos os meninos lá fora sofreram tanto quanto você...

Ele leva as mãos aos olhos e massageia com força, enquanto respira fundo. Quando os abre de novo, vejo raiva em seus olhos ao me encontrar ali ainda, parado como um poste esperando segunda ordem.

— Mesmo morrendo de vontade de te fazer lavar todos os banheiros daqui, tenho outro trabalho para você. — respiro fundo, agradecendo aos seres celestiais por isso, ninguém merece lavar banheiro, principalmente, os que são usados somente por homens.

Dá até uma vontade de vomitar ao pensar. Por outro lado, fico desconfiado quando ele diz que tem um novo trabalho, é possível que mesmo estando puto comigo, tenha arrumado um trabalho bom para mim? Acho difícil.

— Um trabalho? Que tipo de trabalho? — pergunto curioso.

Observo ele puxar uma gaveta de sua escrivaninha e tirar de lá um envelope amarelo, com uma etiqueta na frente escrito "Confidencial ". Joga em sua mesa, e constato que devo pegá-la... Meio receoso, pego em minhas mãos e o abro, o que vejo ali dentro me deixa com uma mistura de confusão e divertimento ao mesmo tempo.

Atração Perigosa - Duologia Atração Fatal | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora