Capítulo 8

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Muros

Chego ao colégio com Maia, quase 40 minutos antes da aula, e a deixo ainda na entrada para ir atrás de Gregg, tentar consertar a mancada que dei com ele. Ontem, com toda aquela correria, meu celular descarregou, e assim que dei uma carga ao chegar em casa, vi uma lista de chamadas perdidas de Gregg. Não tive coragem de retornar, e agora tenho que encará-lo.

Procuro por ele na lanchonete que ainda está vazia, e o aguardo no balcão. Temo que ele não queira nem olhar na minha cara, de raiva. Esse meu medo passa quando me recordo daquele sorriso. Pessoas como Gregg são totalmente descomplicadas. Não imagino ele com raiva, ou odiando alguém. Mas todo cuidado é pouco.

Ele chega, e ao vê-lo sinto um frio na barriga. Minha vontade é sair correndo, e desistir dessa bobagem, mas Gregg com certeza merece uma explicação. Ele me vê, e pela primeira vez não está com aquele sorriso. Ele carrega uma caixa de salgados e os deixa sobre uma mesa, do lado de trás do balcão.

– Oi, Gregg – digo esperando o pior.

– Oi – ele diz com uma voz desanimada, parando para me dar atenção.

Droga! O que eu digo agora? Eu até havia feito uma lista do que poderia falar, mas agora nada me vem à cabeça.

– Olha, me desculpa por ontem! – digo um pouco desesperado. – Eu esqueci de você. Foi mal!

– Nossa! – diz como quem não acreditara no que eu disse. – Esqueceu de mim. UAU.

– Não! – estou aparentemente muito nervoso. – Eu não esqueci de você. Bom... eu me distraí com um amigo. Ele estava passando por um momento difícil e eu precisei ajuda-lo. Passei tanto tempo com ele que acabei esquecendo do nosso encontro.

– Nosso encontro? – ele disse me encarando e segurando um sorriso.

– Eu disse cinema – corrijo. – Quero dizer encontro no cinema. Não um encontro amoroso sabe. Não que eu não quisesse, mas...

Ele começa a rir da minha confusão, e eu me sinto mais ainda envergonhado.

–Me desculpa, por favor! – digo cobrindo o rosto com as mãos.

– Não – ele me fita com um olhar sério e frio por alguns segundos e depois abre um sorriso. – Está tudo bem. Você estava ajudando um amigo. Para mim isso parece uma boa causa.

– Você é incrível, Gregg – digo sorrindo para ele. – Tenho uma proposta: Você e eu. Hoje. Cinema. Sem furos dessa vez. Que tal?

– Parece uma boa. Eu topo. Mas se você furar dessa vez. Eu juro que desisto de você, cara. Sério.

Quando ele diz isso, eu fico vermelho quase que instantaneamente. Ele é o cara mais sensível e carismático que já conheci. Fico desfrutando de sua presença por mais um tempo, mesmo com interrupções devido ao fluxo de clientes. Até que resolvo ir para sala.

– Gregg – digo quando ele finalmente se livra de mais uma cliente. – Eu preciso ir para a sala...

Antes de terminar de formular minha frase, ele coloca uma de suas mãos sobre a minha que está sobre o balcão.

– Tudo bem – ele diz com uma voz doce acompanhada de um sorriso. – A gente se vê então.

Vou em direção à sala, e sinto meu coração bater mais forte que o normal. Gregg está conseguindo ultrapassar todos os muros que levantei ao redor de meus sentimentos. Ainda estou flutuando quando chego na sala. Maia está sentada com Natasha que, pelo que parece, é sua nova dupla das aulas de química. Então me dirijo para o fundo da sala.

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