II

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    Eu andava pela rua calmamente, eu já estava atrasada mesmo, não tem porquê ter pressa, até dei uma passadinha no Starbucks para pegar um cafézinho e disfarçar o gosto de geléia azeda de blueberry do sanduíche que minha mãe fez. Acho que tenho que começar a fazer meu próprio café da manhã...

    Estava muito frio, talvez ter recusado a carona não foi uma ideia muito inteligente, minha sinusite atacava mais do que nunca, e o meu nariz escorria, provavelmente o Brian vai querer passar bem longe de mim. Falando nisso, a poucas quadras daqui, ocorreu algo muito estranho com o filho de uns ex-vizinhos, Michael Brown Jr, há uns 9 anos. Sempre aconteceram coisas estranhas aqui no bairro, mas dessa vez, algo me perturbou.

     Eu sempre achei os Brown um pouco estranhos, apesar de ter brincado quase todos os dias com o filho deles, Michael, que me contava tudo. O senhor Brown era muito violento, tinha uma espingarda guardada debaixo da cama, e ele batia muito na senhora Brown, Michael tinha medo dele. Ás vezes Michael aparecia com uns hematomas, mas dizia que os fez enquanto brincava. Hoje, quase 10 anos depois, sei que o senhor Brown batia nele e o ameaçava se contasse a alguém.

   Uns dois anos depois eu estava com Ellie a caminho de um parque, quando passamos na porta dos Brown. Tinha policiais e bombeiros lá, entrando e saindo da casa. Michael estava sendo arrastado pelas escadas até a viatura da polícia, tinha sangue em suas roupas.

    Ele havia matado o senhor Brown com a espingarda, após ele espancar sua esposa até cair morta.

    Lembro também do olhar dele, quando me viu parada na rua enquanto era chutado para a viatura. Era como se pedisse ajuda, seus olhos estavam vermelhos e as lágrimas ainda não haviam parado de cair. Usaram psicopata para se referir a ele por um longo tempo, e eu acreditei nisso também, não conseguia imagina-lo matando seus pais, não sabia nem como fui amiga dele, por um tempo eu o odiei. Mas eu era uma criança na época, não entendia que alguns pais não amavam os filhos como deveriam, nem que os filhos poderiam não amar os pais. Desde então Michael foi preso e eu não o vejo desde os 13 anos de idade.

    Me despertei dessas memórias após passar pela casa verde dos Brown, me perguntei como Michael está, eu poderia visita-lo na prisão um dia desses.

   Já avistava a escola a umas quadras, e algo começou a fervilhar dentro do meu peito.


E se tudo de repente mudasse?Onde histórias criam vida. Descubra agora