Abalada.
Era assim que me senti quando o Kadu disse aquilo.
Ver todo a sua angustia, seu choro desesperado, me deixou extremamente abalada. Não havia me sentido assim a muito tempo, desde os meus quinze anos quando um pedaço de mim se foi.
Levei Kadu para dentro do meu apartamento e o sentei no sofá, enquanto ia até a cozinha pegar um copo d'água com açúcar para ele. Parecia que a qualquer momento ele iria surtar. Preparei a água e dei em suas mãos, sentando-me ao seu lado. Ele levou até a boca em um movimento rápido e vi suas mãos tremendo. Esperei ele se acalmar para me contar a história toda.
- Está melhor? – perguntei passando a mão em seus cabelos loiros mel. Ele meneou a cabeça negativamente.
- Só estou mais calmo. Não melhor. – disse com a voz rouca.
- O que aconteceu? – perguntei baixo. Ele deu um suspiro e ficou em silêncio por alguns segundos.
- Ele teve um infarto, parece. Minha mãe me ligou agora de noite avisando. Ele está no hospital. – respondeu e apoiou os cotovelos nas pernas, olhando para o chão.
- Ele teve isso do nada?
- Sim.
Ficamos em silêncio, eu não tinha mais o que perguntar. Se eu estava assustada com tudo isso, imagine Kadu. Seu pai ter um infarto assim, enquanto ele está aqui, longe, sem poder saber o que está acontecendo. Ele é muito apegado ao seu pai, sempre foi. Ele não suportaria se algo mais grave acontecesse.
- Eu não vou suportar. – disse tirando-me dos meus pensamentos e os lendo. – Eu não vou suportar perde-lo. – completou com a voz embargada.
- Ei, ei. Não vai acontecer nada. Vai dar tudo certo. – puxei seus braços fazendo com que olhasse para mim. Seu rosto já estava vermelho novamente e os olhos marejados.
- Será mesmo Joana? – perguntou já deixando as lágrimas escorrerem.
- Vamos acreditar que sim. – o abracei. – Temos que acreditar nisso.
Depois de todo o desespero e choros compulsivos, eu coloquei dois hot pocket no microondas, um para mim e outro para o Kadu. Comemos em silêncio e depois fomos para o meu quarto. Ele não queria ficar sozinho, já sabia disso. Ficamos deitados na cama vendo TV calados, até Kadu pegar no sono. Levantei cuidadosamente, e peguei meu maço de cigarros na cabeceira. Lhe dei uma última olhada e saí do quarto.
Sentei no sofá de novo, acendi um cigarro e fiquei ali no escuro tragando-o. A sensação da tristeza, apertando meu peito, estava enterrada a anos atrás e só voltou agora com essa notícia. Não queria que o Kadu passasse pelo o que eu passei.
Não agora, não desse jeito.
Perder alguém que você ama é absurdamente dolorido. Parece que a todo momento seu peito vai explodir de tanta dor. A dor a cada momento só vai aumentando, o vazio ficando maior dentro de nosso corpo. A dor física não é nada comparada a isso. A perda. Acho que nem a pessoa que eu possa mais odiar nesse mundo, merece essa dor. É insuportavelmente terrível.
Uma lágrima escapou do meu olho, e eu a limpei imediatamente. Não podia chorar, tinha que ser forte para ajudar meu amigo. Ele é um dos meus maiores tesouros que a vida me deu e eu tenho que fazer de tudo para recompensá-lo por estar ao meu lado até hoje.
Amanhã nós iriamos para o hospital visitar seu pai e eu preciso estar lá para dar todo o meu apoio para ele e sua mãe. A Sra. Fátima é uma mulher maravilhosa, e deve estar muito nervosa com tudo isso. E sozinha, já que só vive ela junto ao Sr. Túlio, o pai o Kadu. O irmão mais velho do Kadu, não mora próximo deles, se casou e mal mantém contato. Provavelmente a Sra. Fátima o avisou, é o filho dele afinal. Mesmo com todas as desavenças que eles tiveram no passado, ele não deixa de ser da família.
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O Que Nos Espera (Em Pausa)
RomanceJoana Matos é uma mulher planejadora. Sempre com uma rotina, com planos traçados para nada dar errado, nada sair do seu controle. Mas, ela não podia controlar um acidente. Acidente esse que cruzou sua vida com Vitor, um motoqueiro debochado que ad...