9.

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Abalada.

Era assim que me senti quando o Kadu disse aquilo.

Ver todo a sua angustia, seu choro desesperado, me deixou extremamente abalada. Não havia me sentido assim a muito tempo, desde os meus quinze anos quando um pedaço de mim se foi.

Levei Kadu para dentro do meu apartamento e o sentei no sofá, enquanto ia até a cozinha pegar um copo d'água com açúcar para ele. Parecia que a qualquer momento ele iria surtar. Preparei a água e dei em suas mãos, sentando-me ao seu lado. Ele levou até a boca em um movimento rápido e vi suas mãos tremendo. Esperei ele se acalmar para me contar a história toda.

- Está melhor? – perguntei passando a mão em seus cabelos loiros mel. Ele meneou a cabeça negativamente.

- Só estou mais calmo. Não melhor. – disse com a voz rouca.

- O que aconteceu? – perguntei baixo. Ele deu um suspiro e ficou em silêncio por alguns segundos.

- Ele teve um infarto, parece. Minha mãe me ligou agora de noite avisando. Ele está no hospital. – respondeu e apoiou os cotovelos nas pernas, olhando para o chão.

- Ele teve isso do nada?

- Sim.

Ficamos em silêncio, eu não tinha mais o que perguntar. Se eu estava assustada com tudo isso, imagine Kadu. Seu pai ter um infarto assim, enquanto ele está aqui, longe, sem poder saber o que está acontecendo. Ele é muito apegado ao seu pai, sempre foi. Ele não suportaria se algo mais grave acontecesse.

- Eu não vou suportar. – disse tirando-me dos meus pensamentos e os lendo. – Eu não vou suportar perde-lo. – completou com a voz embargada.

- Ei, ei. Não vai acontecer nada. Vai dar tudo certo. – puxei seus braços fazendo com que olhasse para mim. Seu rosto já estava vermelho novamente e os olhos marejados.

- Será mesmo Joana? – perguntou já deixando as lágrimas escorrerem.

- Vamos acreditar que sim. – o abracei. – Temos que acreditar nisso.

Depois de todo o desespero e choros compulsivos, eu coloquei dois hot pocket no microondas, um para mim e outro para o Kadu. Comemos em silêncio e depois fomos para o meu quarto. Ele não queria ficar sozinho, já sabia disso. Ficamos deitados na cama vendo TV calados, até Kadu pegar no sono. Levantei cuidadosamente, e peguei meu maço de cigarros na cabeceira. Lhe dei uma última olhada e saí do quarto.

Sentei no sofá de novo, acendi um cigarro e fiquei ali no escuro tragando-o. A sensação da tristeza, apertando meu peito, estava enterrada a anos atrás e só voltou agora com essa notícia. Não queria que o Kadu passasse pelo o que eu passei.

Não agora, não desse jeito.

Perder alguém que você ama é absurdamente dolorido. Parece que a todo momento seu peito vai explodir de tanta dor. A dor a cada momento só vai aumentando, o vazio ficando maior dentro de nosso corpo. A dor física não é nada comparada a isso. A perda. Acho que nem a pessoa que eu possa mais odiar nesse mundo, merece essa dor. É insuportavelmente terrível.

Uma lágrima escapou do meu olho, e eu a limpei imediatamente. Não podia chorar, tinha que ser forte para ajudar meu amigo. Ele é um dos meus maiores tesouros que a vida me deu e eu tenho que fazer de tudo para recompensá-lo por estar ao meu lado até hoje.

Amanhã nós iriamos para o hospital visitar seu pai e eu preciso estar lá para dar todo o meu apoio para ele e sua mãe. A Sra. Fátima é uma mulher maravilhosa, e deve estar muito nervosa com tudo isso. E sozinha, já que só vive ela junto ao Sr. Túlio, o pai o Kadu. O irmão mais velho do Kadu, não mora próximo deles, se casou e mal mantém contato. Provavelmente a Sra. Fátima o avisou, é o filho dele afinal. Mesmo com todas as desavenças que eles tiveram no passado, ele não deixa de ser da família.

O Que Nos Espera (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora