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Minha semana está uma merda. Estou em provas, entregando trabalhos na faculdade, trabalhos atrasados na agência e para completar a cereja desse bolo de bosta, estou doente. Meu nariz não para de escorrer, uma dor de cabeça que não acaba e toda vez que espirro, sinto como se o meu corpo fosse se partir em pedacinhos.

Estou exausta e ainda é quarta-feira. Contradizendo a premissa de que nas quartas usamos rosa, estou toda de preto, de luto pela minha saúde física e mental.

Limpo o nariz pela milésima vez hoje e reparo que está um pouco vermelho pela câmera do meu celular. Reviro os olhos. Não aguento mais isso. Estou me entupindo de remédios e tenho que fazer esforço para não dormir em cima da prova ou na mesa de trabalho. Reviso o conteúdo da prova no celular, para não fazer sem nada na cabeça, enquanto me equilibro no ônibus lotado. Espirro mais uma vez e sujo o celular, meu rosto forma uma careta de nojo e limpo na blusa. Reparo que a mulher sentada a minha frente me olha de cara feia e levanto as sobrancelhas como quem diz "cuida sua vida, querida".

Respiro fundo e volto a atenção ao aparelho. Uma mensagem chega, ocupando o início da tela, tirando o meu foco. Vejo que é do motoqueiro e esboço um sorriso. Não nos falamos desde domingo e gostei de ele ter lembrado de mim. Mesmo que eu tenha lembrado dele, mas não tive coragem de mandar uma mensagem. Afinal o que eu mandaria? "Oi, tudo bem?" Nenhum papo resiste a esse início ridículo de conversa.

Abro a mensagem.

"E aí, Jojo, como está o começo da sua semana? A minha está fantástica, tenho uma entrevista de emprego marcada para hoje, o Flamengo ganhou e eu lavei a minha moto."

Dou uma risada baixa e digito com uma mão só.

"Que maravilha, por aqui está tudo uma merda! Estou doente, em semana de provas e sobrecarregada no trabalho. Mas, ei, sua moto está limpa!"

Ele visualiza e começa a digitar. Percebo que estou chegando na faculdade e bloqueio a tela, dou sinal e desço do ônibus.

Atravesso o portão da faculdade e me sento em um dos bancos dispostos no fumódromo e pego meu cigarro da bolsa. Desbloqueio a tela enquanto trago e leio o que ele me respondeu.

"HAHAHAHA. Mas o que a querida tem? Precisa de algo?"

Sorrio com sua preocupação carregada de ironia e prendo o cigarro entre os lábios e deslizo os dedos pela tela para lhe dar uma resposta. Começo a digitar rápido quando vejo Isabel se aproximar e envio. Ela sempre quer saber se estou conversando com homem, parece até que o mundo gira em torno disso.

"Só com uma gripe fodida, mas já estou tomando remédios. Obrigada pela preocupação, querido. Boa sorte na entrevista!"

Guardo o celular no bolso e ela se senta ao meu lado. Começamos a conversar sobre amenidades e revisamos o conteúdo antes de entrarmos na sala. Quando dá a hora, eu apago o cigarro e vamos em direção a tortura do dia.

No almoço faço um prato cheio de folhas e legumes, já que não estou sentindo gosto de nada, porque colocaria bife com fritas se não irei poder saborear? E a minha mãe sempre disse que ajuda a curar a gripe mais rápido, incluindo alguns chás de ervas e frutas, então como tudo isso para ficar melhor logo.

Só assim para eu comer coisas saudáveis, não? Depois que eu estiver melhor já posso voltar a me afundar em alimentos gordurosos.

Mentira, também não é para tanto. Prometo não comer tanta besteira assim.

Depois que termino de comer, escovo os dentes no banheiro do self-service, me alivio e verifico no espelho se não estou com cara de zumbi, mas faço uma careta quando percebo o meu nariz muito vermelho a ponto de estar quase machucado e as olheiras enormes debaixo dos olhos. Não trouxe nenhuma maquiagem comigo para tentar dar um jeito nessa situação, então apenas busco dentro de minha mochila meus óculos escuro e tento não esfregar mais o nariz para não piorar e acabar ferindo.

O Que Nos Espera (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora