Como tudo que é bom dura pouco, Vitor teve que ir embora. O observei entrar no elevador com um sorriso bobo no rosto, com ele também exibindo aquele sorriso de orelha a orelha que faz com que seus olhos fiquem pequenininhos, me dando um aceno enquanto a porta do elevador se fechava. E quando ele desceu, finalmente soltei o ar que não reparei que estava prendendo.
O meu coração estava quente, mas quando dei de cara para o meu apartamento vazio, uma solidão me abateu. Eu sempre gostei de ficar sozinha, de curtir o silêncio e a minha própria companhia, mas quanto mais eu ficava na companhia do motoqueiro, mais queria ficar próxima dele. Não me importaria nem um pouco se ele quisesse ficar mais, dormir comigo, tomar um banho comigo... Tá bom, chega. Estou parecendo uma adolescente apaixonada.
Resolvi lavar a louça do almoço que estava na pia desde cedo, pôr as roupas sujas na máquina de lavar, dar uma varrida no quarto só para não me sentir menos inútil e ansiosa. Com a presença do Vitor, me distrai bastante o dia inteiro, mas agora que estou sozinha, o nervosismo por conta da entrevista de amanhã, tomou conta de mim. Eu sempre me sentia nervosa nessas entrevistas, mesmo já tendo indo em muitas. Mas, o medo de falar a coisa errada e levar um "não" bem na minha cara, sempre me assombrava.
Depois de arrumar tudo rápido, estava cansada e ofegante, mas não menos ansiosa. Tomei um banho gelado, preparei um chá para me acalmar e fumei um cigarro enquanto bebericava na xícara fumegante. E após um longo suspiro, finalmente me deitei e me permiti fechar os olhos para dormir e descansar. E que amanhã seja um novo dia.
E acordei atrasada.
Esqueci de programar o despertador para mais cedo e acordei meia hora depois. Não podia chegar atrasada na entrevista de jeito nenhum. Dei um pulo tão grande da cama que até eu me assustei com a minha habilidade. Corri para o banheiro, tomei o banho mais rápido do século e me arrumei numa velocidade que pensei que não era possível. O que o desespero não faz, não é? Já vestida, não pensei em nem tomar um café da manhã, apenas peguei minha mochila e sai correndo de casa. Por sorte quando cheguei no ponto de ônibus, o transporte já estava chegando, entrei e encontrei um lugar vago e me sentei, respirando fundo, tentando retomar o folego depois de toda a correria. Senti a minha barriga roncar e coloquei a mão sobre ela, repetindo para mim mesma que daria tempo.
Cheguei na agência onde seria a entrevista, faltando exatamente cinco minutos. Deu tempo de tomar um copo d'água e passar o pó no rosto, para tirar a expressão de morta. E quando me chamaram, suspirei e entrei na sala, colocando meu sorriso no rosto e mentalizando para dar tudo certo.
Tive a pior entrevista de toda a minha vida. Como sai de casa muito rápido, não deu tempo de passar a blusa social que vestia. Apesar de passar a mão nela várias vezes e confiar na frase que "passa no corpo", ela estava muito amarrotada. Praticamente saiu da boca da vaca. E como a minha barriga estava vazia, roncou tão alto que eu e o homem do RH nos olhamos sem jeito. Eu tentava o tempo todo me concentrar, fingindo que estava tudo ótimo, mas a minha confiança já havia ido para o ralo. Consegui falar bem, mas sei que a aparência conta muito. Sempre conta.
Saio da sala respirando fundo e agradecendo pela tortura ter tido fim. Já sei que não passei, tem outros candidatos do lado de fora para serem entrevistados também; que com certeza vieram mais preparados do que eu, mas estou feliz que tenha acabado. E como não foi dessa vez, saio do prédio direto para uma lanchonete, aceitar a minha derrota da melhor forma, comendo.
Já sentada no banco da lanchonete que era quase de frente para o prédio da agência, coloco meus fones, dou play na minha playlist favorita e começo a comer o salgado que pedi. Ao contrário do que pensei, não estou triste e nem desesperada pela entrevista ter sido um horror. Eu tenho força de vontade ao máximo para continuar mandando currículo e indo em processos seletivos cansativos. Não vou desistir até conseguir sair daquela maldita agência. E se não foi dessa vez, pode ser a próxima.
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O Que Nos Espera (Em Pausa)
RomanceJoana Matos é uma mulher planejadora. Sempre com uma rotina, com planos traçados para nada dar errado, nada sair do seu controle. Mas, ela não podia controlar um acidente. Acidente esse que cruzou sua vida com Vitor, um motoqueiro debochado que ad...