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Vitor me deixou até a faculdade. Eu não tinha pressa para entrar e ele parecia que também não tinha para ir embora. Ficamos conversando na calçada, ele encostado em sua moto e eu parada em sua frente, com os óculos na cabeça e um pouco envergonhada. Eu me sentia uma adolescente naquele cenário; o ficante bad boy levando sua garota para escola enquanto todos da sua turma passavam e observavam aquela conversa na calçada do colégio. A diferença era que ele não é um bad boy e ninguém observava nada. Mas mesmo assim, me senti envergonhada.

Ele disse que precisava ir para a faculdade também, já que não poderia faltar estando quase no limite de faltas. Dei risada sabendo como era aquela situação e me aproximei para me despedir. Dei um abraço sentindo seu perfume forte e ele beijou o canto da minha boca. Deu o seu sorriso que me dá vontade de soca-lo de tão lindo e subiu na sua moto, colocando o capacete e saindo em velocidade. E eu fiquei parada, o olhando sumir pela rua, igual uma bobona.

Deus, eu estou mesmo parecendo uma adolescente.

Passei pelo portão da faculdade me sentindo mais leve e me prometendo que nenhuma aula iria acabar com o meu bom humor.

Até o final da aula eu estava conseguindo cumprir o que eu prometi a mim mesma. Fiz duas provas com tranquilidade e depois fui para a biblioteca com a Isabel para terminar nossos trabalhos que faltavam. Eu e a Isabel somos uma dupla que funcionava muito bem. No inicio da faculdade, éramos nós duas e mais três meninas. Uma delas brigamos feio por causa de um trabalho em grupo, ela não fazia nada e ainda achava que era a líder do grupo. Eu, com essa personalidade que tenho, nem preciso dizer que explodi com a garota, né? Pelo menos todas do grupo concordaram que era uma arrogante e preguiçosa e ela saiu do grupo do trabalho e da nossa rodinha de amigas.  A outra se transferiu para outra universidade, e a última trancou a matricula por motivos familiares. Então, só sobrou nós duas. Eu me acostumei fácil, nunca gostei de grupo de amigos com muitas pessoas. No ensino médio eu só andava com o Kadu e com mais uma menina, já era acostumada a grupos menores. Eu me dou bem com a Isa, ela é uma ótima amiga para contar com tudo que acontecesse dentro do ambiente acadêmico. Ela não é a minha melhor amiga, mas pelo menos sei que vamos manter uma amizade até o final do curso. E quem sabe, depois de nos formamos.

Eu estava com o notebook aberto terminando o trabalho, mas de fone de ouvido para ninguém chegar perto de mim e me tirar do meu foco. Não estava ouvindo nada, a Isa sabia do meu truque, então ela só conversava comigo quando era preciso. Ela estava sentada ao meu lado, escrevendo no caderno e com o seu notebook também aberto. Ficamos em silêncio até terminar tudo e ir embora. Fomos direto comer e depois nos despedimos, cada uma seguindo seu rumo.

Já estava no estágio, terminando mais um briefing* e farta dessa merda toda. Já faz algum tempo que ando pensando em procurar outro estágio, esse aqui já deu. A equipe é um pé no saco, eu não ganho bem e odeio essa agência apertada, pequena. Mal dá para respirar no verão. Vou criar coragem e começar a mandar currículos e conversar com algumas pessoas que possa me indicar para algum. 

Salvo o arquivo e ponho para imprimir, quando vejo Rafael atravessando a sala da agência, vindo ao meu encontro. Reviro os olhos e foco na impressora, que faz o seu trabalho lentamente. Ele para na minha frente e eu finjo que ele não está aqui. Mas, eu sei que isso não vai surtir nenhum efeito.

- Joana? – Me forço a olhar para o seu rosto. Fico quieta esperando-o dizer o que quer. Percebo que fica sem jeito e limpa a garganta.

- Então, me desculpa por aquela mensagem. Não fui eu que mandei, foi a Fernanda. 

- Imaginei, mas deixa para lá. Sabe o que seria perfeito para que isso não acontecesse mais? – Pergunto sem esperar que ele responda – Que vocês fingissem que eu não existo. 

O Que Nos Espera (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora