Os Filhos Da Lua

Castellan

-Hei, hei acorda!-uma voz rouca e esforçada chamou-me. Levantei a cabeça e massagei o pescoço que estava dorido graças à posição em que havia dormido. Encarei Rick que estava deitado com uma cara pálida. 

-Estas acordado.-disse ensonada. 

-Mas tu nem por isso, tu babas-te enquanto que dormes.- novidades, Rick! Dá-me novidades. Mas não era por já o ter ouvido um milhão de vezes que era menos embaraçoso.

-Como estás? 

-Rijo.-ele deu um sorriso esforçado e depois tentou aconchegar-se melhor na almofada, deixando escapar um trejeito de dor assim que moveu o ombro magoado. 

-Não, nem penses! Não te mexas! Eu vou buscar a Amy, volto já.-prometi, e saí do quarto. Conseguia ouvir Amy no andar de baixo, comecei a descer as escadas e fui de imediato assaltada por um cheiro pestilento, Amy estava a fazer um dos seus tratamentos naturais! Cheiravam pior do que cem casas de banho públicas juntas, mas tinham feito milagres ao ombro de Rick. 

-A Bela Adormecida acordou.-disse, ela levantou os olhos da sua "papa" verde e disse:

-Já não era sem tempo!- acontece que Rick ficara desacordado durante três dias, mas nós não sabiamos muito bem porquê. Amy suposera que ele tivesse desmaiado de dor, mas isso não era desculpa para ele ter decidido invernar. Ela limpou as mãos a um pano de cozinha e disse:

-Hora do interrogatório. 

Eu subi as escadas colada aos calcanhares de Amy, ela entrou no quarto decorado com mobília negra em que Rick estava hospedado e sentou-se ao seu lado na cama. 

-Olá Rick.- disse ela enquanto desembrulhava as ligaduras que envolviam o ombro dele para observar o estado do ferimento, um espasmo de dor atravessou a cara dele e Amy soltou um trejeito. 

-Ainda temos aqui pano para mangas!-declarou enquanto voltava a envolver o ferimento.-Então, vais-me contar o que aconteceu na floresta?- ele remexeu-se desconfortável e depois encarou a janela fechada, abriu a boca várias vezes, como que escolhendo as palavras, mas acabou por não dizer nada.-Então?- perguntou Amy com uma sobrancelha inquisidora.- Não me vais dizer?-após vários segundos sem resposta ela virou-se para mim e fez sinal para que eu tentasse. Desencostei-me da parede e dirigi-me até à cama enquanto Amy saia discretamente pela porta. 

-Hei, Rick, que se passa?-ele levantou os olhos para mim e depois pareceu ganhar um interesse repentino nos padrões do lençol.-Sabes que podes contar comigo, não sabes? 

-Sei...-a voz falhou-lhe e ele viu-se obrigado a aclarar a garganta. 

-Então porque não me dizes? 

-Porque são assuntos meus!-fui apanhada pela agressividade das suas palavras, mas se lhe respondesse no mesmo tom começaria-mos uma discussão e e nunca descobriria o que se havia passado. 

-Tecnicamente- principiei com uma voz calculada- uma alcateia é um ser só, e como tu fazes parte da alcateia.- Ele bufou de impaciência e atirou a cabeça para trás. 

-Não achas que já tens problemas que cheguem? 

-Neste momento tu és um deles e eu estou a tentar resolvê-lo.-ele abanou a cabeça freneticamente. 

-Muito bem, tu é que pediste.-ele olhou-me com um olhar frio- As famílias caçadoras voltaram ao trabalho. 

-Como assim? Nós mata-mos os Caçadores!- não podia ser, não podia haver mais Caçadores por aí! Eu não queria perder mais ninguem. Ele limitou-se a negar. 

-Não é desses caçadores que estou a falar. Os caçadores que vocês mataram eram de certa forma sobrenaturais. Eram mais fortes e rápidos do que humanos, os primeiros foram criados pelas bruxas há muito tempo, Caçadores e bruxas eram como uma equipa só, trabalhando para livrar o mundo dos mortos vivos e dos metamorfos. Pelo menos antes de os Caçadores trairem as bruxas. Mas isso agora não interessa, o ponto é que não existem apenas Caçadores sobrenaturais, existem famílias, nalguns casos sociedades inteiras, de caçadores humanos.Eles são treinados desde crianças com um único propósito, extreminar qualquer criatura sobrenatural. Há anos que não ouvia falar deles, tive esperanças de que as sociedades e famílias tivessem parado de caçar, mas fui um tolo. Eles sempre fizeram aquilo, não há razao para pararem.-senti um nó formar-se na minha garganta, por que é que todos tinham de nos tentar matar? 

-Foi um desses caçadores que te atacou na floresta?- ele voltou a encarar a janela fechada e depois olhou-me com uma expressão distante que me fez tremer. 

-Não qualquer caçador. Estes estão atrás da Alcateia do Este há gerações.-ele olhou para mim demoradamente-Eu não tenho pais Claire, ele foram mortos, mortos pelos Castellan.- assim que ele pronunciou aquela ultimo nome o meu estômago deu uma volta completa. Castellan era o sobrenome de Haley, e não era um nome assim tão comum, mas ela não era uma caçadora! Pois não? 

-Rick, quem exatamente é que te atacou na floresta?- ele parou para pensar por um segundos e eu quase podia ver as engrenagens do seu cérebro a trabalharem. 

-Eu não pode ver a cara, ela estava vestida com uma capa preta, mas era uma rapariga com certeza, e era alta.-Coincidência, pensei, infeliz coincidência, não podia ser a Haley, ela era rapariga mais doce que eu alguma vez conhecera...e a última pessoa que tentaria matar-me. 

-Mas se tu não lhe viste a cara, então como é que sabes que era uma Castellan?-ele encarou-me como se fosse obvio. 

-Ela tinha a marca dos Castellan cravada num arco, um "C" com uma flecha a trespassa-lo.- ok, certo, coincidências a mais para o meu gosto, ele acabara de descrever o medalhão do colar de Haley, ela nunca o tirava. Eu tinha-lhe perguntado várias vezes por que é que era tão importante e ela dizia apenas que era uma herança de família. Tirei o meu telémovel do bolso das calças e comecei à procura feita louca de uma foto de Haley. Encontrei uma que tinhamos tirado no último dia de aulas do ano letivo anterior, eu, Haley e Care. Na altura era tudo perfeito, sem problemas de maior ou complicações, parecia que tinha sido há uma eternidade. Aproximei a imagem de modo que o medalhão de Haley fosse bem visível e virei o ecrã para Rick. 

-Por acaso o símbolo era assim?-rezei fervorosamente para que ele me disse-se que não, que aquele medalhão não era nem tão pouco parecido com o símbolo dos Castellan, mas ele arregalou os olhos e perguntou: 

-Mas como é que tu arranjas-te essa foto?- olhei para a cara de Haley no meu telemóvel, poderia mesmo ser? 

-Qual era mesmo a altura dela?- ele gesticulou como que desenhando no ar a figura da caçadora. 

-Hm, cerca de um metro e setenta.- Muito bem, a minha melhor amiga queria matar a minha família!