Capítulo 2

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POR ALÍCIA


Chego em casa a lua já está alta no céu. Meu pai mais uma vez não está presente.

Já me acostumei com isso, depois que minha mãe faleceu ele se tornou essa pessoa, triste, mal humorado, insensível e distante. Mal fala comigo e quando tem oportunidade se afasta de um jeito agressivo.

Estudo em uma das melhores universidades da França, mas meus estudos ficaram seriamente comprometidos por conta da minha constante preocupação com meu pai. Se não fosse por Sophie eu estaria perdida; ela é minha única amiga e me ajuda sempre que preciso, inclusive quando chego atrasada ou esqueço as datas dos trabalhos e seminários.

Essa noite não jantamos juntas, por estarmos até depois da hora nos nossos respectivos empregos; então preparo um sanduíche e vou para meu quarto. Me tranco lá dentro e coloco meus fones. Como nunca sei o horário que meu pai vai voltar para casa, eu já não o espero mais.

Como rápido e começo a preparar meu próximo trabalho.

Tenho a sensação de que estou sendo observada. Durante todo dia uma sensação estranha se apossou de mim. Me levanto da cama e desço para a cozinha deixando meu prato lá. Subo outra vez e vejo a porta do quarto do meu pai aberta. Caminho vagamente na esperança de o encontrar lá, mas quando coloco a cabeça para dentro, olhando ao redor, nada encontro.

Sinto mãos pesadas em meus braços. Me viro e vejo um homem vestido de roupas pretas. Ele não diz nada, e quando decido perguntar alguma coisa ele me puxa me colocando por cima de seus ombros como se eu não pesasse nada. Desespero começa a me tomar, ele me segura firmemente , então soco suas costas com força, ele não reage, apenas continua caminhando pelo corredor. E com isso a desesperança vai tomando seu lugar, o que acontecerá comigo? 

Em uma atitude drástica. Mordo seu pescoço com força, e urrando de dor ele me joga no chão. Me arrasto devagar enquanto ele bufa. Olho para trás e ele me pega fugindo. Dá passadas largas em minha direção e me puxa pelo pé, chuto seu ombro e ele grita me puxando pelo corredor. O chuto mais uma ou duas vezes até me soltar e me puxar pelos braços, deixando-me de pé. Tento sair correndo mas ele me contém, e quando está prestes a me pegar outra vez o chuto na sua intimidade e o empurro. Ele cambaleia e tropeça nos próprios pés, e gritando de dor cai escada abaixo. Levando consigo dois dos meus vasos. 

Após sair rolando mais de vinte degraus ele para imóvel com as mãos sujas com a terra dos vasos.

Fico paralisada esperando alguma reação, mas nada. Desço alguns degraus, e minha esperança dele estar vivo morre quando vejo o sangue esvaindo de seus ouvidos e narinas.

O cheiro do sangue fresco invade a sala e mancha o carpete branco. Ainda com medo chego mais perto e verifico seu pescoço, que se encontra em uma tonalidade de um azul a um roxo escuro, coloco dois dos meus dedos em seu pescoço só para ter certeza do que já está mais do que provado. O tal cara está morto.

Penso no que acabei de fazer. Entro em desespero, penso em ligar para meu pai ou para a polícia. Mas desisto, meu pai me mataria e a polícia me prenderia em flagrante.

Não posso ficar aqui. Sem saber o que realmente fazer, ando de um lado para o outro, indecisa, caminho apressada tentando encontrar a chave do meu carro. A segurando nas mãos, olho para o corpo do homem desconhecido. Ainda acho errado pensar em sair daqui. Deveria fazer outra coisa.

Procuro em seus bolsos algum documento. Mas não acho nada, somente uma arma. Pequena, e prateada. A coloco no lugar e enfim decido dar uma volta, nem que seja para refrescar a cabeça.

Entro no carro e saio sem rumo por Paris.

O que esse cara queria comigo? Quem era? Por que invadiu minha casa?

São perguntas que eu não vou saber responder. Choro compulsivamente, e penso no que tudo vai virar na hora em que acharem aquele corpo lá. É lógico que vão pensar que fui eu que fiz isso. Que o matei.

Mas o que eu poderia ter feito, ele tentou me sequestrar, e estava armado. Ele iria me matar tenho mais do que certeza. Paro no acostamento, coloco a cabeça no volante e deixo a adrenalina sair do meu corpo em forma de lágrimas. 

Me acalmo um pouco quando um farol de carro ilumina a placa que indica que estou a uma distância segura de tudo. Lyon está a 10 km de distância. 

Respiro fundo, pisando no acelerador; aqui vai ser meu refúgio momentâneo.

Rosas De Sangue | Retorno Em BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora