Capítulo 5

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POR ALÍCIA

Olho por entre o vão da cortina, e encaro a rua apavorada pela ideia de ter alguém me esperando lá fora. Fecho os olhos tentando manter minha respiração regular, e sem perceber começo a chorar. Tem sido assim desde que deixei aquele homem morto na minha sala, o que eu fiz?

Me manti trancada em um quarto durante os dias que se seguiram, eu mal comi e não estou conseguindo dormir mais de três horas por noite, estou apavorada, toda vez que fecho os olhos, eu o vejo caído.Procurei jornais e me mantive atenta as noticias da televisão, assisti todos os jornais matinais para saber se minha foto estava estampada como procurada; não vi nenhuma notícia nem nada do tipo em lugar nenhum. Isso era um sinal claro de que ninguém o havia encontrado.

Torço para que meu pai tenha chegado em casa e resolvido tudo, ele é meu pai, então não acredito que ele me entregaria, ele só está me dando um tempo para acalmar, quando eu chegar, ele vai falar que tá tudo bem.

Lyon é uma cidade grande então me esconder foi a parte mais fácil. Queria poder ver tudo mas sou uma refugiada, então não deu para fazer muita coisa.

Depois desse acidente, eu fiquei meio cuidadosa e desconfiada de todos que estão a minha volta. Já assisti diversas séries sobre investigação para saber que se está fugindo de alguma coisa, não se deve em hipótese nenhuma usar nada que possa ser localizado, então não usei telefone, celular, nem cartão de crédito, os mantive escondidos no carro e fiz tudo completamente na surdina.

Como tudo o que houve não saiu nos jornais nem nos noticiários eu decido voltar a Paris. Afinal, meus estudos já estão mais do que comprometidos. Com uma coragem absurda ligo o celular e ligo para Sophie, pergunto se perdi muito conteúdo, ela diz que sim, mas que me ajudará e que me passará tudo depois. Tento soar tranquila enquanto falo, ela não desconfia de nada e nem comenta nada em relação ao meu pequeno desaparecimento. Quando desligo a chamada, estou com os ombros mais leve.

Logo, encontro o gerente do hotel que fiquei. Ele me olha esperando alguma reação contrária, deve me achar uma louca, cheguei aqui completamente abalada, chorava muito e tremia, nem sei como consegui dirigir por tantos quilômetros sem causar acidentes.

Paris não fica a uma distância muito grande, logo chego na cidade luz. Não posso dizer que senti muita falta daqui, essa cidade me dá ainda mais medo agora. Ela é tão grande e ao mesmo tempo tão pequena.

Queria não ter voltado. Recomeçar em outro lugar, mas meu pai e meus estudos estão me prendendo aqui, por enquanto.

Perder minha mãe foi de longe a pior experiência que tive, saber que nunca mais a veria, foi um verdadeiro susto. Meu pai nunca foi um exemplo, mas ela me ensinou a nunca desisti dos seus, ela me mostrou que o mundo pode ser um lugar escuro e que temos que confiar na família, e por mais sem saídas que eu possa ficar, eu tenho que ter fé em meu pai, ele é a única família que tenho. Passo pela torre Eiffel no caminho de volta para casa, esse era o ponto turístico do mundo que minha mãe mais amava. Respiro fundo enquanto faço o caminho para minha casa, espero que esteja tudo bem com meu pai, ele não é daquelas pessoas que sabem se virar muito bem sozinho.

Estaciono na porta de casa, mas fico no carro, aperto minhas mãos no volante tentando reunir forças para entrar. Caminho em direção a porta devagar, olhando para os lados, ainda é cedo e não vejo nenhum sinal dos meus vizinhos, se não tem policiais na minha porta, é porque eles não ouviram nada. Abro a porta entrando em casa pela primeira vez desde o ocorrido e sem me controlar começo a chorar, como isso foi acontecer comigo? Eu sempre passei pelo mundo com calma, não tenho inimigos e tento de toda forma não ter, se fosse um bandido, ele roubaria e sairia, eu acho; mas o cara que veio não era um simples bandido. Ele me queria.

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