Capítulo 12

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POR ALÍCIA

Respiro aliviada depois de entrar no táxi, acho que essa é minha única reclamação, eu deveria ter vindo de carro.

Enquanto o motorista me leva para casa de Sophie, encosto minha cabeça na janela e fecho os olhos, tentando organizar a lista de problemas na minha vida.

1° Um homem totalmente desconhecido entrou em minha casa; ele queria me levar a força e em um momento de total defesa, me vi correndo dele, para depois perceber que no processo ele tinha caído da escada não sobrevivendo;

2° Alguém limpou minha casa, era como se nada tivesse acontecido, no fundo eu quero acreditar que tenha sido meu pai, mas com seu sumiço, começo a desconfiar.

3° Meu pai, literalmente desapareceu, e preciso encontrá-lo, ele é a única pessoa que posso confiar agora;

4° Me dei conta que deixei minha pasta de desenhos no hotel onde fiquei em Lyon, preciso ligar pra lá e ver se eles me enviem;

5° Meu professor chegou me fazendo de saco de desaforos; estou com a vida complicada? Vou jogar a culpa e descontar na Alícia.

Suspiro irritada, como minha vida calma, foi se transformar nesse arranha céu de problemas?

Minha manhã passou bem calma, estive em casa apenas analisando todos meus problemas e não cheguei a conclusão nenhuma. Lana Del Rey tocou pelo apartamento me fazendo ainda mais triste. E depois de pensar e repensar cada escolha, decidi ir para o trabalho. O trânsito deu uma cooperada, então não demorei tanto como imaginei.

Vou para o escritório da minha chefe logo que chego.

-Você está linda menina Alícia - Eloise  fala assim que me vê, sorrindo feliz.

-Eu queria conversar - Ela estende a mão para a cadeira a sua frente, me dando a deixa para me sentar e começar a falar - Eu queria trocar meu horário essa semana, queria vim de manhã.

Ela me olha surpresa por um instante, mas logo sorri.

-Eu sempre quis que você ficasse de manhã, por ter mais turistas, você tem todo um jeito especial com eles, mas eu entendia que sua educação vinha em primeiro lugar. Fico feliz em te colocar na parte da manhã, mas e a faculdade?

-Essa semana as coisas serão leves, então decidi dar uma mudada nos meus horários - Sorrio para tentar convence-la dessa minha pequena mentira, sou péssima mentindo.

Uma das coisas que decidi, foi que preciso de alguns dias para me decidir, depois de aguentar as grosserias de Jean, depois de revidar com precisão cada uma delas, me vi com desejo de repensar cada uma das minhas escolhas, será que estou mesmo no caminho certo?

Amo arte, desde criança e tenho uma fascinação surreal pelos quadros, me apaixono por cada obra que vejo, eu sinto arte, eu respiro arte, enfim eu sou a arte. Mas, com a chegada de Jean, eu me tornei uma aluna irresponsável; que mentira a minha, Jean não tem culpa de nada, o único culpado é aquele louco que invadiu minha casa, mudando completamente minha vida. Então agora eu preciso organizar tudo aquilo que acreditava, e devido a minha falta de comunicação com Jean, decidi começar pela meu curso.

Vou pegar alguns dias de folga da escola, preciso analisar tudo a minha volta, me sentir segura de novo e a única maneira disso acontecer, é encontrando meu pai.

Passei a tarde no trabalho mostrando as novas seções abertas ao público, um quadro melhor do que o outro, artistas incríveis, que merecem todo reconhecimento por seu trabalho.

-Oi Steve, queria saber se meu pai esteve aqui esses dias - Pergunto o barman do quinto e último bar que conheço.

Depois do trabalho, a única coisa que meu corpo ansiava era um banho quente, mas deixei o conforto de lado e fui atrás de meu pai nos bares que sei que ele frequenta e para minha surpresa a maioria deles disseram que ele não aparece a vários dias.

-Sinto muito, ele não aparece a dias por aqui - Steve me conhece porque já me ligou algumas vezes pedindo que eu buscasse meu pai, que estava bêbado; sozinho ele não conseguiria nem chegar a porta, imagina chegar em casa.

Isso aconteceu logo depois da morte da minha mãe. Meu pai pode ser frio em relação a família, mas eu sei que ele sentiu a perda dela.

-Você sabe de algum lugar que ele possa estar? - Pergunto ansiando por qualquer novidade.

-Não, mas você deveria ver os cassinos, talvez ele tenha voltado a apostar - Steve dá de ombros.

-Não - Descarto logo a ideia - Ele não faria isso, ele prometeu que não voltaria as apostas, mesmo assim, obrigada.

Me despeço rápido. Quando estou entrando no carro meu celular toca, anunciando Sophie. Ignoro sua chamada, ela tem me mandando mensagens o dia inteiro, me perguntando se estou bem, as primeiras respondi pra não preocupá-la, mas depois comecei a ignorá - la; sei que ela está preocupada, eu já deveria ter chegado em casa.

-Que bom que chegou - Ela se levanta do sofá me encarando assim que piso em casa - Como você está?

Deixo meus saltos em um canto e me sento no sofá ao seu lado.

-Estou bem - Digo sinceramente.

-O que foi aquilo? Depois da sua saída, ele parecia possuído, ficou ainda mais irritado - Sophie fala séria - Espero que amanhã vocês entrem em um consenso.

-Eu não vou amanhã, nem nos próximos dias, vou repensar minha formação, talvez eu tranque o curso e comece outro - Doou de ombros, como se não me importasse, mas me importo e muito.

-Como assim? - Sophie grita olhando para mim - Você ama artes, até mais do que eu, que loucura é essa agora Alícia?

-Eu não sei, Jean não gosta de mim, e a turma dele é a única sala avançada, não posso trocar de turma e o diretor não vai trocar de reitor só porque um aluno quer. E não sei se você percebeu, mas a coisas estão bem difíceis entre nós, eu não entendo, não fiz nada pra receber esse ódio todo.

Sophie não fala nada depois de meu desabafo e continuo:

-Só preciso de um tempo, tudo fica bem depois de um tempo.

Sophie aperta minha mão em sinal de apoio.

-Eu vou estar aqui sempre - Ela comenta com a voz calma.

-Eu sei, obrigada.

Encosto minha cabeça em seu ombro e me foco nos pensamentos positivos. Tudo ficará bem, tem que ficar.

Rosas De Sangue | Retorno Em BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora