1- Lobos

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– Mais um morto esta noite, senhor prefeito. – disse Santiago, secretário do prefeito Martim Gonçalves.

–  Não pode ser! – disse o prefeito levantando-se abruptamente de sua cadeira. – Não aqui nesta cidade, que sempre foi tão pacata!

– O delegado Xavier Lourenço confirmou serem novamente eles, pois a semelhança do crime é idêntica às duas anteriores. – acrescentou o secretário.

– Terei que tomar medidas cabíveis! Medidas drásticas! Não podemos mais viver a mercê destes monstros. Justo em um ano de eleição me vem acontecer isto! Afetará negativamente a minha reeleição.

Com uma pena de ganso e um papel em suas mãos, o prefeito Martim escreveu uma carta.

– Clamo para que não relutem em enviar socorros. – disse agora em um tom mais aliviado.

Mais tarde, naquele mesmo dia, veio ao gabinete do prefeito o delegado Xavier Lourenço com um semblante inconsolado.

– Boa tarde, prefeito. – cumprimentou com sua voz sempre firme.

– Boa tarde, delegado Lourenço. Que semana sanguinária esta, não foi?!

– Concordo, senhor prefeito. Mas essa situação se encontra desta maneira devido a sua omissão e a sua falta de capacitação em conduzi-la. Soube de sua carta ao estado e vim lamentá-la.

– Lamentar? Como assim, delegado?

– Me sinto humilhado, senhor prefeito! Um inútil! Você sabia que eu meus homens tínhamos totais condições de entrar na floresta e caçar aqueles animais. Mas o senhor, estranhamente, nos barrou. Minha reputação por aqui está cruelmente ofendida!

– Sei sim, delegado, sei que você teria enormes condições de entrar naquela imensa floresta com seus homens capacitados e matar os lobos, porém não quis abrir mão de homens que realmente entendem do assunto. Caçadores ágeis, que vivem o perigo na pele. Não posso por em risco a vida de vocês, meros combatentes do crime.

– Por em risco a minha vida? Você quer dizer, por em risco o seu mandato, não é isto? – arguiu o delegado, alterando sua voz.

 –Meça sua palavra, senhor delegado. Não tem o direito de me difamar assim. Olhe na janela – disse o prefeito levantando-se inesperadamente de sua cadeira – e veja quantas pessoas pedindo explicações. É a mim que elas vêm quando algo está errado nesta cidade, e não a você. Por acaso está tendo este protesto em sua delegacia? Creio que não.

– Acontece que todos me olham de soslaio, senhor prefeito. Muitos cobram a minha tarefa, afinal a segurança da cidade está designada também a mim.

O prefeito Martim Gonçalves deu de ombros e sentou-se novamente em sua cadeira dando o caso como resolvido.

– Muito bem. Então faça como bem entender. – disse o delegado. – Só não venha choramingar depois.

O delegado Xavier Lourenço pediu licença e se retirou do gabinete do prefeito batendo a porta com certo ímpeto de violência.

– Loucos! – resmungou o prefeito.

O Homem que EmpalhavaOnde histórias criam vida. Descubra agora