5 - Crime no Teatro

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Uma noite linda estava posta no céu

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Uma noite linda estava posta no céu. Um ótimo clima para um teatro. A peça Hamlet enfim seria encenada. O palco já estava montado, porém a cortina ainda a ocultava. A plateia vinha surgindo aos poucos e logo os aposentos do teatro estavam todos lotados.

No camarote da família Felipo, Amanda fitava Nicolau Lobo constantemente. Não o perdia de vista e nem manifestava ensejo a isto. Para ela, aquele seria o espetáculo, até medonho, por assim dizer, afinal o artista lhe causava calafrios. Temia-o doentiamente.

Quando o primeiro ato estava prestes a começar, Amanda pediu a lupa para a sua mãe e mirou no taxidermista. Quando Amanda Felipo avistou o homem, na ampla visão da lupa, viu Nicolau Lobo encarando-a severamente fumando seu charuto com um sorriso sarcástico estampado nos seus lábios grossos e pálidos. Amanda desnorteou-se completamente e deixou a lupa cair no chão. Ficou trêmula e visivelmente aterrorizada. Um frio intenso possuiu o seu corpo. Que olhar diabólico! Suspirou.

Foi tomada por uma enorme vontade de fitar novamente o homem. Ajoelhou-se calmamente e ajuntou a lupa que estava no chão. Ao olhar novamente para Nicolau, este já não se encontrava no lugar que estava. Amanda sentiu sua cabeça balançar. Estava paranoica. Procurou o homem por todos os cantos do teatro e não o encontrava. A imagem daquele homem severo não lhe saia da cabeça. "Será que só eu vejo que aquele homem é um monstro?", monologava. A lupa ainda estava em suas mãos trêmulas. Sua paranoia não lhe inquietava. A peça já havia começado, porém a moça estava concentrada em outro assunto.

Já passavam da meia noite. Viu os homens do delegado, atentos a seus deveres, viu o próprio Xavier Lourenço com uma lupa também em mãos, mas o monstro, aquele ser que tanto lhe agoniava, não via. "Talvez tenha ido ao toalete", pensou Amanda, de princípio, mas minutos depois descartou. Na célebre frase, "ser ou não ser, eis a questão", Amanda avistou um enorme animal com uma cabeça enorme caminhando para o camarote do empresário Ulisses Modesto, que estava sozinho. O açougueiro, como odiava ser chamado, encontrava-se bastante concentrado naquele instante de grande tensão da peça, quando Hamlet questionava a fidelidade de sua mãe. O monstrengo, então, veio sorrateiramente por detrás do empresário, e com uma incrível violência decepou a cabeça do empresário com as suas afiadas garras. Jogou o corpo do homem no parapeito do camarote e o chutou para cair no chão do teatro. Amanda, que durante o atentado estava paralisada, soltou um grito horrendo: "UM MONSTRO!".

O caos imperou absurdamente no teatro durante a apresentação de "Hamlet". Todos corriam para a saída, e muitas pessoas foram pisoteadas. Quando Amanda mirou a lupa novamente no camarote de Ulisses Modesto, o assassino já havia fugido.

Xavier Lourenço estava inquieto em meio à multidão. Aproximou-se da parte inferior do camarote do açougueiro e viu o homem degolado padecer ali. Olhou para o alto e algumas gotículas de sangue acertaram a sua face. Ao subir até a cena do crime, Xavier Lourenço não encontrou a cabeça de Ulisses Modesto.

– Delegado Xavier Lourenço, – disse um dos seus homens. – Há uma moça, a filha do conde Visconde Felipo. Encontra-se mal e...

– Chame um médico para ela... estou sem tempo para superfluidades.

– Ela diz ter visto o assassino. Presenciou o atentado ao empresário. Foi ela quem gritou.

O delegado deu um salto e correu ao camarote da família Visconde.

Chegando ao camarote, a moça encontrava-se em estado de choque.

– Diga o que você viu Amanda!

A moça estava nauseada.

– Eu vi o demônio! – disse ela.

– Certo! – disse o delegado. – Tente se acalmar e vamos ser realistas. O que de fato você viu, senhorita Amanda? Conte-me com detalhes.

– Um lobisomem, um vampiro... não sei dizer. – disse Amanda, sobressaltada.

– Acho melhor tratarmos deste assunto amanhã, delegado. – disse Visconde Felipo. – Ela está muito abalada com o que viu.

– Não podemos perder tempo, senhor Visconde! – disse o delegado. – O assassino está vulnerável.

– Não quero pôr em risco a saúde de minha filha, delegado. Veja o estado deplorável que ela se encontra! Está indisposta e fraca demais. Amanhã ela estará mais calma e poderá lhe ser útil. Prometo que assim que tomarmos o desjejum partiremos para o seu gabinete.

– Tudo bem, barão. – disse o delegado em um tom insatisfeito.

O teatro já estava completamente vazio quando um dos homens do delegado o chamou.

– Achamos pegadas anormais no local do crime, chefe. Não são de um ser humano.

O Homem que EmpalhavaOnde histórias criam vida. Descubra agora