2- Os Caçadores

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Na manhã seguinte, exatamente oito da manhã, chegaram à cidade os caçadores; soberbos, por assim dizer. Um deles, que se adiantava a dez passos a frente, chamava-se Mamed Delamarco. Fidalgo, sempre chamava atenção das pessoas por onde passava por sustentar em sua cabeça uma deslumbrante cabeça de urso, resultado de sua maior caça. Em sua face havia uma cicatriz que ia da têmpora até seu queixo bem ossudo. A barba muito rala não escondia aquela horrenda cicatriz, e, apesar de muito horrenda, sentia orgulho.

O caçador e seus dois companheiros foram de imediato ao gabinete da prefeitura para se encontrar com o homem que os chamara. Os olhos de muitas pessoas iam em direção àqueles três excêntricos caçadores que exibiam suas armas em punho.

– Boçais! – Disse Xavier Lourenço, fitando-os severamente.

– Bom dia, companheiros! Esperava ansiosamente por vocês. – disse o prefeito Martim. – Serei breve com os senhores: bom, passamos por uma calamidade em nossa cidade. Eu disse isto na carta, mas detalharei minuciosamente para vocês agora.

O prefeito contou com detalhes os intempestivos ataques de lobos na cidade.

– Quanto mais depressa acabarem com isso, maior será a recompensa, companheiros. – O prefeito olhou para os três caçadores que mostravam estar exaustos pela longa viagem, e perguntou: – Então?

– Estamos cientes da gravidade do problema, prefeito. Porém lhe adianto que não trabalhamos com recompensas. Calculamos o nosso valor, não é o senhor que estipula. Somos caçadores profissionais, não amadores.

– Pensei que a remuneração fosse por conta do estado. – disse o prefeito. – A recompensa seria apenas uma gratificação.

– Não trabalhamos para o estado, senhor; trabalhamos por conta própria. Recebemos seu notificado por intermédio de um cidadão que ignoro a incumbência.

– Maldito estado de omissão! – disse indignado Martin Gonçalves.

Mamed Delamarco e seus homens foram então à caça.

Mamed e seus confrades caminhavam com uma vagareza e um olhar típico de predadores; passo a passo, sem pressa. Qualquer pisar de galho ou folha seca poderia alertar o lobo. Durante a caminhada pelo o local, Mamed e seus homens contemplaram um soberbo igarapé com rochas lhe adornando deslumbrantemente; "que lugar lindo!", disse um dos caçadores. "Vamos, não temos tempo para isso!", disse Mamed, advertindo-os.

Mamed, então, teve a ligeira impressão de que estava sendo seguido por alguém; perguntou aos seus homens se haviam sentido o mesmo, mas estes descartaram dizendo que nada sentiram. Mamed respirou fundo e continuou sua caça; porém continuava a sensação estranha, e ele quase nunca errava aquilo. Tinha realmente o dom para caçar; sabia que seus homens, apesar de serem hábeis caçadores, não tinham o mesmo engenho que o dele, pois Mamed caçava desde os seus sete anos de idade, desde que seu pai lhe deu a primeira arma de caça em seu presente de aniversário.

Depois de muito vaguear, enfim avistaram os lobos. Um macho e uma fêmea. Mamed fez um sinal para seus companheiros que prontamente o compreenderam. Contou até cinco em seus dedos; estavam bem próximos deles, e os lobos bem distraídos; perfeito! Um tiro tiraria toda a força do macho, e outro o mataria. O primeiro tiro foi dado na fêmea que estava visivelmente excitada brincando com o seu companheiro. Ela rodopiou cinco vezes pela a grama e parou agonizando no chão. O macho deu um salto brusco e logo em seguida, questão de segundo, partiu para cima da direção de onde o tiro viera, porém sua braveza fora interceptada com um tiro em seu grande olho vermelho de ira. Caiu quase inerte no chão. Em seguida, mais dois tiros foram dados em cada um. Feito! Os lobos estavam mortos. Mamed Delamarco soltou uma gargalhada tão medonha que a selva toda estremeceu. Vários animais correram para seus abrigos e por lá permaneceram por horas. Um mico olhava aquela triste cena coçando a sua cabeça, como que não entendo nada. 

O Homem que EmpalhavaOnde histórias criam vida. Descubra agora