3 - O Baile

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O estimadíssimo barão Visconde Felipo, dono de grandes terras, bem como do maior teatro da cidade, realizou um grande baile após a morte dos caninos. Os convidados foram recebidos amavelmente pelo o barão e pela sua esposa, madama Rose Felipo. Os sujeitos mais notáveis da cidade reunidos para uma grande festa, afinal, também eram caçadores.

Os heróis, como foram chamados Mamed e seus homens, foram recebidos com aplausos e com um breve discurso feito pelo anfitrião.

– Desfrutem de nosso banquete, bravos caçadores. Vocês merecem nossa honraria. – dizia efusivamente.

Amanda Felipo, a linda filha do barão Visconde, chamou atenção, como sempre, com seu espalhafatoso casaco de pele feito de chinchilas. Todas as garotas olhavam para ela com ar de cobiça e inveja. Muitos jovens vinham até a moça e a convidavam para dançar, mas poucos eram os privilegiados. A garota era antipática, sim, mas ninguém a esnobava, e todas as mancebas a odiavam por quererem ser como ela.

O salão estava rodeado de dançantes e a música mexia com os sentimentos e expressões das pessoas. Durante a dança, surgiu um homem de média estatura, cabelos ralos e sebosos, seus olhos eram aflitos, taciturno; seu traje era peculiar a um funeral, mas mesmo assim não deixava de esbanjar elegância. Algumas pessoas pararam de dançar para ver aquele ser esdrúxulo caminhar pelo o átrio da mansão. Seus passos lentos buscavam um lugar para se sentar. Apoiava-se em móveis e cumprimentava quem lhe direcionava olhares. Enfim alcançou uma cadeira e olhou para o núcleo da festa. Parecia estar zonzo e seus olhos lacrimejavam a ponto de ficar rubros. Algumas pessoas vinham até ele a cumprimentar mostrando condescendência. O homem foi inciso cim todos. Tratava-se do taxidermista Nicolau Lobo. O homem que espalhava. Um homem bastante intrigante.

– Que belíssimo casaco de pele está usando a senhorita Amanda Felipo, o senhor não acha, meu senhorio? – disse o empresário Ulisses Modesto, dono do maior açougue da cidade.

– Demasiadamente lindo. – respondeu o artista. A hipocondria reinava em sua face.

As refeições e bebidas foram servidas para os dançantes que permaneciam em pé, dançando com uma disposição que só os jovens costumam ter. Os senhores respeitáveis foram se acomodar à mesa. A refeição foi então servida.

– E então, caro Nicolau Lobo, como está o seu trabalho? E está gostando da nossa cidade? – perguntou ansiosamente o barão Visconde Felipo com uma taça de vinho em sua mão.

– Está uma maravilha. – respondeu Nicolau. – Quanto à cidade, estou apreciando bastante.

– Não entendo como o senhor não trabalha com encomenda. Aposto que ganharia uma grana preta. Há muitos caçadores por aqui que planejam empalhar suas caças.

– Faço isso por amor. Não por dinheiro.

– Caço animais por amor, também. E exclusivamente por dinheiro. – disse Mamed Delamarco. Todos se puseram a rir.

A face de Nicolau ficou vermelha como a maçã que amordaçava um suíno banhado a óleo vegetal.

– Ultimamente ando caçando outras coisas. – afirmou o taxidermista.

– Aposto como são garotas. – disse Visconde Felipo, sorrindo.

– Oh, papai! Que indelicadeza! – disse Amanda Felipo.

– Tudo bem, senhorita. Não se preocupe. Eu não caço mulheres. Eu às conquisto. – Visconde empalideceu. – Não obstante, por uma questão sociável, abrirei a minha casa para um adorável evento e esperarei por vocês. – disse o artista, mudando de assunto.

– Que fantástico! – disse o prefeito Martim.

– Estive pensando em realizá-lo durante o carnaval que está prestes a chegar. Provavelmente um baile a máscaras.

O Homem que EmpalhavaOnde histórias criam vida. Descubra agora