A Chegada

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O INÍCIO
Dois meses e três semanas atrás
Brasil- Rio de Janeiro

Jamais me esquecerei daquele dia, já era tarde e eu não conseguia dormir era por volta das três e meia da manhã, eu estava preocupada com meu pai que estava internado no hospital há um bom tempo devido a uma grave doença, faz um ano que ele descobriu que tem câncer já era maligno então não havia muito o que fazer. Mamãe ficou no hospital e eu tive que ir para casa com Mellany minha irmã, apesar de ter quinze anos ela não precisava passar por isso naquele momento.

Passei a madrugada inteira pensando, esperando que minha mãe ligasse e pudesse informar que estava tudo bem e que estariam voltando para casa. Em meu celular não havia nem uma mensagem nova. Algo em meu peito gritava falando o contrário e por mais que eu tentasse afastar aqueles pensamentos da minha cabeça eles não iam embora. O telefone tocou e com as mãos trêmulas atendi.

-Mãe?

(Choros, soluços e vozes ao longe)

- Por favor, responde mã-m-mãe é você? Eu chorava a cada segundo de desespero.

-Eve? Filha... Filha, seu pai... Ele... Não suportou... O organismo dele parou de responder à medicação, ele.. ele..

Fiquei estupefata, não conseguia falar, muito menos raciocinar, apenas deixei que o telefone caísse por entre meus dedos, não sentia minhas mãos. Minha mãe também não disse mais nada. Receber uma notícia dessas por telefone não foi fácil, mas mamãe sabia que eu precisava de respostas.

-Meu pai morreu...

Naquela madrugada fiquei em claro. Meu pai havia morrido, minha mãe provavelmente desesperada no hospital e minha pobre irmã dormindo acreditando que ao acordar veria o pai e eu não sabia o que fazer ou pensar, estava no mesmo local onde o telefone havia caído, fora do gancho, entre meus pés as lágrimas apenas caíam.

Já eram seis da manhãs e mamãe ainda não havia chegado em casa. Por volta das sete ouvi passos vindo da entrada. Olhei pela janela e vi minha mãe e o padre Roger. Ambos entraram ao mesmo tempo, mamãe estava desolada, acredito até pior que eu, ao me ver me abraçou e apesar de eu ter sentido certa força em se segurar, caiu em prantos. Sempre admirei minha mãe pelo fato de ser uma mulher forte e sempre tão elegante não importava a situação, mas naquele dia ela não passava de uma criancinha sem chão com uma calça jeans velha e uma blusa esbranquiçada.

-Ele sabia meu amor. Ele sabia que estava indo embora, seu pai me chamou, segurou minhas mãos e disse que te ama que sempre vai estar com você aconteça o que acontecer. Falou para lembrar da promessa que fez a ele. Seja forte meu amor, eu estou aqui com você.

-ELE NÃO FOI! Jamais repita isso! ELE NÃO QUERIA IR! Ele morreu! Meu pai está morto... Ele... ele... Os soluços já não eram uma opção para segurar, tudo estava saindo, a raiva por ele ter morrido, o ódio por não poder fazer nada só assistir. Eu culpava a todos, culpava a mim mesma. Minha mãe estava assustada, tanto quanto eu.

Olhei para o padre com um olhar de dor e desespero e como se eu pudesse adivinhar o que ele estava me pedindo para fazer segurei o restante de minhas lágrimas, prendi o soluço na garganta, sentia que ela poderia explodir a qualquer momento.

-Desculpe mamãe. Só, me desculpe por favor, eu não quer...

Ela simplesmente me abraçou e as lágrimas caíram novamente.

-Eu te amo. Disse baixinho. O padre Roger esticou seu braço a mamãe e entregou-lhe um lenço. Ela segurou tão forte passando automaticamente pelo meu rosto como se pudesse tirar toda minha dor dali -Onde está Melanny?

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