No Escuro CAPÍTULO- 6.

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     Sombras dançavam ao meu redor, nuvens negras encobriam meus olhos e eu não conseguia enxergar. Tateava a minha frente tentando encontrar um lugar para me apoiar, mas, não adiantava tudo era muito vago. De repente o chão que sustentava meus pés sumiu. Parecia que eu estava caindo em um poço sem fundo, até que meu corpo encontrou o chão caindo abruptamente. Ainda estava escuro, mas, eu já conseguia enxergar melhor. As luzes tremeluziam naquele salão, não sei ao certo onde eu estava, tudo era velho, não podia enxergar muito bem. Minhas mãos estavam amarradas e minha boca presa com uma fita. Eu sentia apenas dor e algo gélido escorrendo no chão que passava por minhas coxas. Meus pés, minhas pernas, meus braços todo o meu corpo estava ensanguentado, provavelmente se eu me visse entraria em pânico. Uma sombra pousou a minha frente, tomando forma de uma coisa que eu não sabia explicar muito bem, percebi apenas que "ele" tinha asas gastas e queimadas, um olhar feroz e cor de sangue, eu estremeci. Ele disse então que eu deveria esquecer o que li e caso não esquecesse me procuraria e arrancaria minha cabeça do lugar. Em meus pensamentos  chamava apenas pelo Jas, me sentia como aquela mulher do sonho que eu tive há algumas noites atrás. Ela gritou por ele, chamou, mas ele não a ouviu. Percebi que eu estava passando por tudo que aquela moça do sonho passou, sinto a mesma dor que ela e tudo parecia real.
     Onde ele estava que não vinha me socorrer? Por que deixou que me pegassem, me trouxessem para essa espécie de galpão e me fizessem isso? Ele deixou alguém me machucar. Ele prometera nunca me abandonar e veja o que fez? Deixou-me.
     Percebi que sonhara outra vez. Mas, uma coisa estava diferente. Pela primeira vez sonhei comigo mesma e apesar de não ter visto o rosto do Jasper {...} Eu sonhei com ele.

     Na manhã seguinte minha mente estava confusa eu sabia que havia sonhado com alguma coisa perturbadora e por mais mais que eu tentasse me lembrar, não conseguia. Também lembro que fui a uma festa ontem, mas, não sei ao certo o que aconteceu, apenas sinto um grande aperto no peito, algo que não consigo explicar.

     Decidi não tomar café, eu sairia para correr com Zeus, fazia tempo que não dava atenção para ele, sendo que todas manhãs quando acordava Zeus estava dormindo na minha cama, em cima das minhas pernas.

     Coloquei uma calça elástica preta, uma camiseta branca, um moletom e prendi meu cabelo. Aquele horário não havia ninguém nas ruas. Neblina leve e tudo aparentemente calmo. Lembrei do meu pai. Fazia um tempo que eu não o visitava. Na semana em que cheguei aconteceram muitas coisas eis o motivo de eu não ir, mas, eu sentia tanta saudade. Todas as noites antes de dormir eu leio a carta que ele deixou e choro. Deus, seria tudo tão diferente se meu pai estivesse aqui... Primeiro acordaríamos cedo para tomar o seu café com creme juntos, não teria acontecido aquele beijo com o Jas, pois estaríamos no Brasil, mamãe, Mel e eu seríamos felizes como antigamente. Passeávamos nas tardes em que minha mãe tinha folga. Éramos a família perfeita. Decidi ir pela estrada pois eu queria mais tempo sozinha.

     No caminho inteiro pensei em Jasper, depois do nosso beijo no escritório da minha casa ele não me ligou, nem me procurou, não apareceu no baile, talvez ele não gostasse desse tipo de coisa. Mas, se eu fosse importante por que ele sumiu? Definitivamente Jasper era imprevisível, imbecil, e por que eu me apaixonara logo por ele? Quando cheguei ao cemitério como sempre tudo estava sarcasticamente sem vida, passei por alguns túmulos velhos, outros com a tintura gasta e finalmente cheguei até meu pai.

     Havia uma coisa diferente, ao redor do túmulo dele haviam crescido peônias brancas. Mas, como? O solo não era apropriado para nascerem plantas, não estávamos na primavera e flores não surgem em solos hostis. Sera que minha mãe plantou-as aqui? Não, ela avisaria a mim e a minha irmã, além disso, ela não é do tipo que suja as mãos com terra. Bom achei melhor deixar isso para depois.

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