Aspirações românticas nunca foram reitoras da minha vida. Me apaixonar estava fora de cogitação. Me envolver com alguém impossível mais ainda. Mas o que é vida senão uma simples caixinha de surpresas?
O que seria de nós, meros mortais, sem o amor, nas suas mais variadas formas?
O que seria do mundo sem pequenas tribulações e desentendimentos? Grandes problemas e grandes soluções?
Foi assim, como um filósofo do mundo contemporâneo, que eu resolvi encarar a vida depois de tudo que minha família passou.
Ir da classe alta para a média não foi o problema. O problema foi a circunstância com que se deu o fato.
Problemas qualquer um tem. Mas os da minha família são assustadoramente clichês.
Exatamente, clichês. Aquela velha sociedade onde um confia demais no outro e acaba se dando mal no fim.
Bom, o confiante foi o meu pai. E o mau caráter o meu tio.
É estupidamente estranho ver como o mundo gira em torno de algumas cifras. Quando o assunto é dinheiro nada mais importa, nem mesmo a família.
E foi confiando cegamente no tio Carlos que meu pai, Eduardo Mortmain, perdeu tudo. Desde a empresa, até a casa.
A única coisa que não foi perdida foi a conta bancária, que graças a Deus foi o suficiente para comprar uma nova casa, mais simples, porém nossa e o carro da família.
Minha irmã, Marina, resolveu estudar em outra faculdade. Ela quis cursar Artes Cênicas e eu a apoiei do início ao fim. A paixão dela sempre foi o teatro e eu me orgulho muito em ter ajudado ela a realizar seu grande sonho.
E ela é também minha confidente. Somente ela sabe de Melinda e não me julga. Ela sempre diz que toda forma de amor é válida, e diz isso por experiência própria, já que ela tem uma opção sexual diferente das demais meninas de sua idade.
E mais uma vez, família se mostrou um ótimo porto seguro, acolhendo Marina e sua companheira Lis. Elisa. Mas todo mundo chama ela de Lis, então.
Enfim, pensar na minha família me enche de alegria.
Mas quando penso na família de Melinda meu coração dói.
Eles são pessoas muito importantes no meio em que trabalham. Mas não se portam como deviam. Melinda sofre com a ausência deles e eu sofro silenciosamente com ela.
Os irmãos dela, Melanie e Josh, são até preocupados e cautelosos com relação à ela. Mas aparecem muito pouco nos dias de visita no manicômio.
Acredito que por se tratar de alguém que amo, me preocupo muito com o estado de espírito de Melinda. Não como médico, mas como alguém que realmente a ama.
Melinda é aquela rosa delicada e sem atrativos no meio de uma roseira inteira. Ela não chama atenção para quem passa apressado, mas deixa uma marca profunda naquele que a observa calmamente.
No caos da minha vida sem graça, Melinda é minha paz. É o abrigo onde sei que não vou encontrar julgamentos, ressentimentos, exigências e ofensas.
Em Melinda eu encontro tudo aquilo que eu procuro para ser feliz.
Mas ela precisa ser curada. Eu preciso fazer alguma coisa. Eu sinto que estou bem próximo de conseguir sua cura.
Mas o sonho da outra noite ainda me atormenta. Eu não sei o que seria da minha vida se Melinda me odiasse. Não teria mais sentido viver, se não for com ela.
Sobre mim não há nada de interessante a dizer. Sou só um homem que mora sozinho por escolha própria, vivo em função de curar o amor da minha vida e ajudar minha família.
Eu nunca namorei. Nunca me apaixonei. Nunca fiquei com mulher alguma. Tudo que sei sobre o amor é o que li nos livros de romance que por acaso comprei e o que sinto cada vez que olho para Melinda.
É.. eu não tenho jeito.
Sobre todo e qualquer assunto que eu começar a falar, o assunto sempre vai acabar nela.
Eu acho que sou o homem mais piegas do mundo atual. Sério, tem momentos da minha vida que eu não consigo acreditar que realmente sou eu.
Tem uma coisa sobre mim que ninguém sabe. Às vezes eu ensaio o que vou dizer a Melinda quando ela se curar.
Não sei se peço uma chance de conquistá-la ou se peço.. não sei. Não me imagino pedindo mais nada além disso.
Definitivamente, eu não saberia viver sem ela.
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A Garota No Manicômio - Completo
RomantikMelinda Knight tinha 15 anos quando foi para uma clínica psiquiátrica tratar de um grave distúrbio obsessivo. Ela tem a obsessão de observar animais. É até uma coisa comum, mas ela praticamente vivia em função disso, então os pais dela - ocupados d...